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Mãe síria em cidade sitiada é mais nova super-heroína da Marvel

A ABC News e a Marvel Comics se uniram para encontrar outra maneira de ajudar o mundo a ver a realidade devastadora da vida sob cerco

Quadrinho: as duas empresas criaram uma história em quadrinhos digital (ABC News/Reprodução)

Quadrinho: as duas empresas criaram uma história em quadrinhos digital (ABC News/Reprodução)

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AFP

Publicado em 21 de outubro de 2016 às 14h01.

Última atualização em 21 de outubro de 2016 às 14h14.

Sitiada pelo governo sírio por dois anos, a cidade de Madaya teve pouco contato com o mundo externo. Se os comboios de ajuda têm dificuldade para acessar o local, para os cinegrafistas é praticamente impossível.

Assim, a ABC News e a Marvel Comics, conhecida por seus super-heróis musculosos, se uniram para encontrar outra maneira de ajudar o mundo a ver a realidade devastadora da vida sob cerco.

Jornalistas da ABC estiveram em contato com uma mulher vivendo em Madaya - uma cidade de cerca de 40.000 habitantes, perto da fronteira com o Líbano - que relatou em uma série de posts de blog sua luta para sobreviver às condições adversas provocadas pela guerra civil na Síria, que já dura mais de cinco anos.

As duas empresas criaram uma história em quadrinhos digital baseada nos relatos anônimos da jovem mãe de cinco filhos - uma maneira de tentar demonstrar os horrores aos que as suas câmeras não têm acesso.

Em vez de sangrentos, os quadrinhos ilustrados são de partir o coração. Combinados com as palavras fortes da mãe - mantida em anonimato para proteger a segurança da sua família - eles falam sobre as graves dificuldades que as famílias encurraladas estão sofrendo.

Desde que Madaya ficou sob cerco total, em meados de 2015, mais de 60 pessoas morreram de fome e desnutrição.

"Nossos corpos não estão mais acostumados a comer", diz um quadrinho. "Meus filhos estão com fome, mas estão ficando doentes, com fortes dores estomacais causadas pela comida porque seus corpos não são capazes de digerir e absorver a comida, porque estiveram com fome por tanto tempo".

Sem sensacionalismo

O artista Dalibor Talajic disse que fez uma tentativa consciente de evitar cair no sensacional.

"Eu não queria fazer uma história em quadrinhos de guerra", disse o artista croata - que viveu durante a dissolução da Iugoslávia, em 1991. "Eu queria fazer uma história em quadrinhos com um ponto de vista civil, onde você é realmente impotente".

"Você não pode fazer nada. Você está apenas esperando que isso passe ou que você morra", acrescentou.

Até agora, Talajic era mais conhecido pelo seu trabalho em Deadpool, uma história em quadrinhos sobre anti-heróis que protagonizaram um filme homônimo no início deste ano.

O ilustrador disse que ele "não é um artista típico da Marvel, onde tudo tem que ser maior que a vida", preferindo em vez disso permanecer ancorado na realidade. "Eu sempre tento manter as coisas mais familiares, mais no chão, mais prováveis".

Mas tentar transmitir a o dia a dia sombrio de sírios sitiados sem sensacionalismo não foi uma tarefa fácil.

"Foi um desafio", disse Talajic, observando que ele nunca viu fotos da jovem mãe ou da família. "Eu estava no fio da navalha, na linha tênue para não explorar o sofrimento de alguém."

Nos quadrinhos, a brutalidade da vida cotidiana sob cerco é ocasionalmente quebrada com relatos de momentos de convívio e de pequenos prazeres roubados.

Por exemplo, após um longo período fechada, a escola reabriu, para a felicidade das filhas da "mãe de Madaya". Pouco depois, o local é atingido por uma bomba que destrói vários de seus companheiros perante os seus olhos.

"Esta é uma mãe, mas é todas as mães", disse Talajic. "É uma família, mas são todas as famílias".

Esta não é a primeira incursão da Marvel em heróis da vida real: a empresa de gibis já retratou o Papa João Paulo II, São Francisco de Assis e a Madre Teresa.

A ABC conseguiu entregar algumas das ilustrações de Talajic para a mãe. "Ela achou que ele acertou em cheio as características das pessoas, a atmosfera, a cidade", disse o produtor da ABC News Rym Momtaz.

"Se um dia ela conseguir sair", disse Talajic, "os desenhos irão para ela."

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