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'Laços de sangue', um pronunciamento artístico sobre a escravidão

Num 'caminho inverso' ao da maioria dos pintores, a colombiana Ana Mercedes Hoyos abandonou a abstração para, em suas próprias palavras, 'voltar a resgatar o mundo'

A mostra exibe os vestidos de festa de meninas de San Basilio de Palenque, uma comunidade formada por ex-escravos que se tornou o primeiro 'povo livre' da América (Reprodução/alonsogarcesgaleria)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2011 às 10h33.

Bogotá - Ana Mercedes Hoyos, uma das artistas plásticas colombianas mais importantes da atualidade, conhecida principalmente por seus grandes quadros de frutas tropicais, se aprofunda em suas últimas obras na 'infâmia' da escravidão e nos sólidos laços que amarraram os servos e seus descendentes com a América.

'Laços de Sangue' ('Lazos de Sangre', no original em espanhol) é o título escolhido para as obras expostas até o fim de novembro na galeria Alonso Garcés, em Bogotá, das quais algumas serão exibidas a partir de dezembro em Cuba.

'O que mais me interessa é a liberdade', afirma Ana Mercedes ao explicar, em entrevista à Agência Efe, de onde vem seu interesse pelo tema do tráfico de escravos.

A mostra combina quadros de grande formato que exibem os vestidos de festa de meninas de San Basilio de Palenque, uma comunidade formada por ex-escravos que se tornou o primeiro 'povo livre' da América, com esculturas em bronze dourado de navios negreiros, cabeças de africanos e mapas da América suspensos no teto por grandes correntes como as usadas pelos escravos.


Os navios negreiros foram cortados para mostrar ao público a parte de dentro, o que permite ao visitante observar como os escravos eram instalados para que a longa e difícil viagem até a América e a aglomeração não os 'deteriorassem', apesar de muitos morrerem durante o trajeto.

Em Cuba, a exposição será abrigada no Memorial José Martí de Havana, coincidindo com o final do Ano Internacional dos Afrodescendentes, comemorado em 2011 por decisão da ONU.

Num 'caminho inverso' ao da maioria dos pintores, Ana Mercedes Hoyos abandonou a abstração para, em suas próprias palavras, 'voltar a resgatar o mundo', o que provocou a incompreensão de muitos artistas e críticos.

Seus quadros de bacias e vasilhas com as frutas que as 'palenqueras' vendem nas praias de Cartagena das Índias foram considerados por alguns como 'um retrocesso' e Ana Mercedes foi qualificada pejorativamente como uma 'pintora de frutas'.

A artista, que desenvolveu uma boa amizade com muitos 'palenqueros', principalmente com as vendedoras de frutas que retratou - as quais chama de 'comadres' -, lamenta que a influência dos negros na cultura e na economia da América não seja reconhecida e que eles sejam discriminados.

Ana Mercedes destaca como os escravos foram capazes de se unir e se apoiar, deixando de lado suas diferenças de origem, idioma e classe social, durante a viagem pelo Atlântico e a chegada ao continente americano.

Ela considera os negros como o 'denominador comum' da América, pois estão no norte, no centro, no sul e nas ilhas do continente.

Apesar de ter estudado e viajado pelo mundo, a artista garante que nunca aprendeu tanto quanto com os 'palenqueros', cerca de 2,7 mil pessoas, 'isoladas do mundo', com tradições culturais africanas e uma língua crioula, mistura do espanhol com as línguas originárias dos escravos.

Segundo números de organizações internacionais, cerca de 200 milhões de pessoas de origem africana vivem na América Latina, a maioria na pobreza e sem pleno acesso aos direitos universais.

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Bogotá - Ana Mercedes Hoyos, uma das artistas plásticas colombianas mais importantes da atualidade, conhecida principalmente por seus grandes quadros de frutas tropicais, se aprofunda em suas últimas obras na 'infâmia' da escravidão e nos sólidos laços que amarraram os servos e seus descendentes com a América.

'Laços de Sangue' ('Lazos de Sangre', no original em espanhol) é o título escolhido para as obras expostas até o fim de novembro na galeria Alonso Garcés, em Bogotá, das quais algumas serão exibidas a partir de dezembro em Cuba.

'O que mais me interessa é a liberdade', afirma Ana Mercedes ao explicar, em entrevista à Agência Efe, de onde vem seu interesse pelo tema do tráfico de escravos.

A mostra combina quadros de grande formato que exibem os vestidos de festa de meninas de San Basilio de Palenque, uma comunidade formada por ex-escravos que se tornou o primeiro 'povo livre' da América, com esculturas em bronze dourado de navios negreiros, cabeças de africanos e mapas da América suspensos no teto por grandes correntes como as usadas pelos escravos.


Os navios negreiros foram cortados para mostrar ao público a parte de dentro, o que permite ao visitante observar como os escravos eram instalados para que a longa e difícil viagem até a América e a aglomeração não os 'deteriorassem', apesar de muitos morrerem durante o trajeto.

Em Cuba, a exposição será abrigada no Memorial José Martí de Havana, coincidindo com o final do Ano Internacional dos Afrodescendentes, comemorado em 2011 por decisão da ONU.

Num 'caminho inverso' ao da maioria dos pintores, Ana Mercedes Hoyos abandonou a abstração para, em suas próprias palavras, 'voltar a resgatar o mundo', o que provocou a incompreensão de muitos artistas e críticos.

Seus quadros de bacias e vasilhas com as frutas que as 'palenqueras' vendem nas praias de Cartagena das Índias foram considerados por alguns como 'um retrocesso' e Ana Mercedes foi qualificada pejorativamente como uma 'pintora de frutas'.

A artista, que desenvolveu uma boa amizade com muitos 'palenqueros', principalmente com as vendedoras de frutas que retratou - as quais chama de 'comadres' -, lamenta que a influência dos negros na cultura e na economia da América não seja reconhecida e que eles sejam discriminados.

Ana Mercedes destaca como os escravos foram capazes de se unir e se apoiar, deixando de lado suas diferenças de origem, idioma e classe social, durante a viagem pelo Atlântico e a chegada ao continente americano.

Ela considera os negros como o 'denominador comum' da América, pois estão no norte, no centro, no sul e nas ilhas do continente.

Apesar de ter estudado e viajado pelo mundo, a artista garante que nunca aprendeu tanto quanto com os 'palenqueros', cerca de 2,7 mil pessoas, 'isoladas do mundo', com tradições culturais africanas e uma língua crioula, mistura do espanhol com as línguas originárias dos escravos.

Segundo números de organizações internacionais, cerca de 200 milhões de pessoas de origem africana vivem na América Latina, a maioria na pobreza e sem pleno acesso aos direitos universais.

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