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Humano ou robô? Série sueca explora fronteira tênue

Em "Real Humans", os "hubots" (aglutinação de humano e robô) são capazes de pensar e tomar decisões, têm relações sexuais com humanos e defendem direitos

Elenco da série sueca "Real Humans": série aborda coabitação entre humanos e robôs (Johan Paulin/AFP)

Elenco da série sueca "Real Humans": série aborda coabitação entre humanos e robôs (Johan Paulin/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2014 às 16h26.

Estocolmo - Uma série de TV sueca sobre a coabitação entre humanos e robôs em todas as facetas da vida toca num ponto sensível e traz dilemas filosóficos e éticos em um mundo onde esta possibilidade é cada vez menos futurista.

Em "Real Humans" (Humanos Reais, em tradução livre), do roteirista Lars Lundström, os "hubots" (aglutinação de humano e robô) são capazes de pensar e tomar decisões, têm relações sexuais com humanos e defendem direitos e liberdades.

Seus donos querem que eles se atenham às funções para as quais foram programados: empregados, operários, objetos sexuais e, inclusive, substitutos de familiares desaparecidos. Mas os humanoides se mostram cada vez menos dóceis e, em alguns momentos, desafiadores.

Um movimento político, denominado "Humanos Reais", os considera uma ameaça e pretende livrar a humanidade destes incômodos androides.

A primeira temporada da série foi exibida na Suécia em 2012 e foi comprada por emissoras de 50 países.

Para Lundström, a força da trama é marcada pelos questionamentos que propõe.

"O que é ser humano? É uma pergunta difícil, quase impossível de responder, e é muito raro que nos vejamos confrontados com questões deste tipo", reflete.

A realidade parece aproximar-se da ficção. No Japão, Hiroshi Ishiguro, um dos maiores especialistas em robótica, construiu uma réplica de si mesmo, em borracha e silicone e com implantes de seus próprios cabelos. Esta réplica inclusive dá conferências no exterior, substituindo seu original de carne e osso.

Lundström diz não lembrar como teve a ideia, embora admita que possa ter sido influenciado por esses "replicantes". "Talvez tenha sido depois de ver um desses robôs humanoides fabricados no Japão, mas realmente não sei", conta o criador à AFP.

À medida que desenvolvia seus personagens, o autor conta que percebia que este universo tinha mais a ver com temas muito atuais, relacionados com os preconceitos, as minorias, a imigração e as relações sociais.

"Disse a mim mesmo que era um excelente ponto de partida para uma série dramática, algo que poderia gerar um montão de histórias", explica.

"Real Humans" combina ação com romance e drama. Os programadores dos "hubots" violam os protocolos legais para construí-los e os usuários quebram os tabus e chegam a ter relações sexuais com as criaturas feitas de chips.

A crítica considerou "Real Humans" uma obra de ficção científica, embora alguns a tenham considerado "doentia" ou "horripilante".

Para a especialista em ficção científica Charlie Jane Anders, a série "causa incômodo" e "arrepios".

"As pessoas sempre tiveram um pouco de medo da tecnologia e das máquinas. Uma das causas pelas quais a consideram tão horripilante é porque mostra um futuro onde os humanoides são tão parecidos com os humanos que poderiam chegar a substituí-los", explica à AFP a crítica de televisão sueca Rosemari Södergren.

Na casa da família Engman, por exemplo, a "hubot" Mimi é quase da família. É bonita, inteligente e sensível e o filho se apaixona perdidamente por ela, enquanto a irmã dele teme que a mãe devote todo o seu afeto para a androide.

O difícil papel de robô

A exploração da linha tênue que separa humanos e "hubots" foi um desafio inédito para os atores nos papéis de humanoides.

"Se parecêssemos robotizados demais, o diálogo perdia interesse; e se parecêssemos humanos demais, perdíamos a credibilidade como robôs", relata Lisette Pagler, que interpretou Mimi, um dos androides mais característicos da série.

"Tínhamos que brincar com matizes extremamente sutis", continua.

Pagler está agradecida por ter tido a oportunidade de atuar em um dos papéis mais desafiadores de sua carreira, mas reconhece que a experiência a deixou exausta.

"Os que atuavam como hubots não se davam conta da frustração de privar-se de todos os tiques humanos, de ter que se controlar o tempo todo: tínhamos que saber quando piscar, não podíamos nos coçar, nem fazer gestos bruscos", explica.

"Nunca me senti tão cansada depois de um esforço físico. Depois de um dia de filmagem, só queria ir praticar kickboxing para descarregar toda essa energia", continua.

Os atores, alguns deles bailarinos profissionais, receberam o treinamento de um mímico para aprender a se movimentar como robôs e controlar cada parte do corpo separadamente.

Suas interpretações, muito elogiadas, foram reforçadas com maquiagens especiais, perucas, lentes de contato coloridas e algum efeito sonoro na pós-produção.

"Alguma vez alteramos as vozes, mas foi sobretudo com pequenos sons e ruídos que criamos a ilusão", diz Lundström.

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