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Hamilton contra Verstappen é a nova versão de Lauda contra Hunt

O piloto inglês luta pelas boas causas, enquanto o holandês cultiva estilo bon vivant. O embate tem gerado números cada vez maiores de audiência

"Quando a luz vermelha se apaga e começa a corrida, o inglês Lewis Hamilton e o alemão Max Verstappen têm muito em comum". (Arte/Exame)
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Julia Storch

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 16h34.

Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 21h40.

Acidentes espetaculares, corridas imprevisíveis e uma rivalidade entre dois grandes talentos do esporte são a fórmula perfeita para criar uma era de ouro na Fórmula 1 . Foi assim com Niki Lauda contra James Hunt, com Alain Prost contra Ayrton Senna, Fernando Alonso contra Michael Schumacher e agora, em 2021, com Lewis Hamilton contra Max Verstappen .

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Depois de dois acidentes envolvendo uma briga direta pela vitória – no GP da Inglaterra e no GP da Itália, no último domingo, o duelo entre o maior recordista de vitórias de todos os tempos contra o mais jovem piloto a vencer na Fórmula 1 ainda mostra que, fora das pistas, os dois ainda escancaram momentos de vida e estilos bem diferentes, tornando a disputa ainda mais emblemática.

Que fique claro: quando a luz vermelha se apaga e começa a corrida, o inglês Lewis Hamilton e o holandês Max Verstappen têm muito em comum. O estilo ousado, de nunca ceder espaço ao adversário, de velocidade pura e talento impressionante na chuva lembram os melhores de todos os tempos, como Senna e Schumacher.

Hamilton: na luta pelas boas causas

A diferença é que Hamilton já conquistou seu espaço no hall dos maiores – pelos números, inclusive, é apontado como o maior vencedor da história, com 99 vitórias e 7 títulos (empatado com Schumacher). Já Verstappen é o piloto jovem disposto a destronar o atual rei – como Hamilton fez com Alonso, Alonso fez com Schumacher, Senna fez com Prost, Prost com Lauda etc.

Talvez até por já ter conquistado tudo e mais do que sonhava dentro das pistas, Hamilton vem mostrando a cada corrida que sabe de sua importância como um embaixador para as causas que defende. Como na entrevista exclusiva que concedeu a este repórter no último GP Brasil de Fórmula 1, deixou claro que seu lado ativista é algo que veio para ficar.

Isso ficou ainda mais evidente após a pandemia mundial do novo coronavírus e a luta contra o racismo, ainda mais forte após o engajamento das manifestações mundo afora do Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos em 2020.

Sobre o ativismo já forte em 2019, ressaltando questões fora das pistas como a dieta vegana e a preocupação com o meio ambiente, Hamilton disse em entrevista à Exame: “Tenho falado disso há um certo tempo, mas só recentemente as pessoas resolveram prestar atenção nisso. É vergonhoso as pessoas não quererem fazer coisas pelo motivo certo, não por causa de uma resposta ou ação negativa. Mas, pelo menos, as pessoas estão reagindo."

Já naquela altura o piloto da Mercedes se preocupava bastante em passar mensagens a seus fãs com temas fora do esporte, como veganismo e moda, criando coleções mais inclusivas para a Tommy Hilfiger.

Neste mês, o inglês usou o tradicional jantar do MET Gala, em Nova York, para promover jovens estilistas negros. Hamilton sabe da importância de inspirar jovens pelo mundo a fora, como faz não só no esporte, afinal, ele mesmo só está na Fórmula 1 porque se inspirou em seu ídolo lembrado até hoje em todo mundo por seus valores dentro e fora das pistas: Ayrton Senna.

“Talvez se eu não tivesse visto o Ayrton e não tivesse encontrado alguém em que eu pudesse me inspirar nem estivesse aqui agora. É muito importante encontrar alguém que possa inspirar você, como um mentor. E você pode encontrar isso em qualquer lugar do mundo. Alguém que o ajude a ser cada vez melhor", disse Hamilton à Exame.

Verstappen: estilo James Hunt

Por outro lado, Verstappen pode até ter o estilo abusado de Senna em vários momentos, seja na ousadia de uma ultrapassagem, seja pela atuação brilhante na chuva, mas ele mesmo deixa claro: não tem ídolos.

Nem mesmo seu pai, Jos Verstappen, que competiu na Fórmula 1 nos anos 1990. Quando questionado por este repórter sobre a inspiração em seu pai, o holandês foi categórico.

“Claro que não, meu estilo é bem diferente", disse rindo, fazendo referência aos resultados pouco expressivos do pai. O episódio aconteceu em Spa-Francorchamps, na Bélgica, em 2014, quando Max chocou o mundo do esporte ao ser confirmado aos 16 anos de idade como piloto titular da equipe Toro Rosso.

Em 2016, ele se tornou o mais jovem piloto a vencer uma corrida na Fórmula 1, aos 18 anos, em sua estreia pela equipe Red Bull. Mesmo já sendo sua sétima temporada na principal categoria do automobilismo, Max segue o estilo nem aí fora das pistas. Um padrão que, claro, combina com seu principal patrocinador, que está sempre relacionado ao mundo que te dá asas, dentro de um lifestyle bem descontraído.

Verstappen não chega a ser um James Hunt atual, já que o estilo de vida dos anos 1970 inspirado no lema sexo, drogas e rock n’roll definitivamente não combina mais com as exigências extremas de um esporte de alto rendimento como a Fórmula 1 dos anos 2020 – e nem com a boa imagem exigida pelos patrocinadores.

O piloto, no entanto, assume o estilo bon vivant nas redes sociais, em que escancara viagens, luxos e iates ao lado da namorada, Kelly Piquet, filha do tricampeão mundial Nelson Piquet.

Ainda que não se oponha de maneira frontal ao ativismo de Hamilton, um piloto identificado com o bom mocismo de Niki Lauda, Verstappen não empunha bandeiras de outros rivais do inglês, como o tetracampeão Sebastian Vettel, que correu com as cores do arco-íris no GP da Hungria deste ano como forma de protesto contra leis homofóbicas em pauta naquele país.

Com estilos parecidos na pista e em diferente fora delas, Hamilton e Verstappen atraem milhões de fãs pelo mundo. Mas Hamilton parece cada vez mais extrapolar o ambiente do esporte e inspirar pessoas que jamais tenham visto uma corrida de F1.

Quem vai levar a melhor em 2021? Sem dúvida, a própria Fórmula 1, a julgar pelos altos índices de audiência ao redor do mundo. Quem diria que, depois de um 2020 onde correu o sério risco de deixar de ter um campeonato (o tradicional GP de Mônaco inclusive foi cancelado), o esporte veria em 2021 o início de uma nova era de ouro e com duas estrelas de estilo tão parecido nas pistas e tão diferente fora delas.

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