Patrícia Lima: o mar virou conexão com Florianópolis (Pedrografia/Arquivo Pessoal)
Repórter de Casual
Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 12h08.
Patrícia Lima começou a surfar no fim do ano passado “bem na brincadeira”, após convite de uma colega, e o hobby rapidamente virou uma das práticas mais marcantes da rotina. Morando em Florianópolis, ela percebeu que, apesar da proximidade do mar, a rotina intensa e as viagens a afastavam da cidade. O surfe apareceu como “uma forma de reconexão com a cidade” e também como aprendizado de vulnerabilidade: mesmo “supermedrosa” e longe dos esportes radicais, ela passou a encarar o mar e até situações que antes evitaria.
As aulas acontecem às 8h, antes do trabalho e nos fins de semana, inclusive no frio. O hobby também se conecta aos valores da Simple Organic, marca fundada em 2017 com propósito de “beleza limpa”, linhas livres de microplásticos e ações com ONGs do mar. Desde 2020, no portfólio da Hypera, a empresa cresceu 13 vezes e teve salto de quase 500% no faturamento; hoje soma 20 lojas físicas e está em diversos estados. O surfe ainda virou momento com a filha de 12 anos e inspira planos de viagens “para surfar, não para trabalhar”.
Lizandra Freitas no Instituto Le Cordon Bleu: gosto pela cozinha começou com os programas do chef inglês Jamie Oliver (Leandro Fonseca /Exame)
Lizandra Freitas, presidente da Suntory Global Spirits na América do Sul e Central, encontrou na cozinha um ritual para desacelerar e aliviar a pressão do trabalho. O hobby nasceu aos 30 anos, quando, inspirada por programas do chef Jamie Oliver, decidiu testar receitas e descobriu que “levava jeito”. A curiosidade cresceu até virar formação: no Peru, onde morou trabalhando na Coca-Cola, cursou Le Cordon Bleu em Lima por três anos (quatro semestres de comida internacional e mais um ano de culinária peruana). Em um ano sabático, estudou na Alain Ducasse, na França, e fez cursos temáticos. Hoje, cozinha nos fins de semana, com música, e vê a prática como terapêutica: quanto mais nervosa, mais se concentra no processo.
Desde 2022, lidera a operação brasileira da terceira maior companhia de destilados do planeta; o Brasil é um dos sete mercados prioritários para a Jim Beam globalmente, e a empresa tem mais de 6.000 funcionários no mundo. Sob sua liderança, houve investimento em destilados premium, com crescimento de oito vezes nas vendas de alto valor agregado no Brasil no último ano. A gastronomia guia viagens e aproxima a família, com receitas atravessando gerações.
Valadão: a corrida entrou em sua vida como prova de superação (Leandro Fonseca/Exame)
Daniela Valadão, diretora-geral da Pandora, transformou a corrida em um hobby central após um período crítico: em 2021, no final da gravidez, contraiu covid-19 e ficou internada na UTI, com menos de 10% da capacidade pulmonar. A recuperação longa reforçou a importância do condicionamento e virou gatilho para um desafio simbólico: quando amigas se inscreveram na São Silvestre, ela decidiu correr como homenagem aos profissionais de saúde e prova de que estava melhorando.
A experiência acendeu uma nova paixão, diferente do crossfit, que ela praticou por oito anos. Depois, entrou em assessoria e passou a treinar com rigor: musculação para fortalecimento e corrida quatro vezes por semana. Hoje, busca a primeira maratona, em Buenos Aires, em setembro, com cerca de 70 km por semana e quase 1.000 km de preparação, além de treinar para uma corrida de montanha de 21 km com a mãe. Ela afirma que a corrida ajuda a lidar com a pressão do trabalho e funciona como “meditação em movimento”. No lado profissional, desde 2023, a Pandora inaugurou 69 lojas no país, soma 160 pontos de venda e projeta reformas de 20 operações nos próximos 12 meses.
Medeiros em seu UTV: o preço do carro pode chegar a 200.000 reais (Arquivo Pessoal/Divulgação)
Gelio Medeiros, CEO da Martha Medeiros, tem como hobby dirigir UTVs em trilhas e expedições, do Pantanal a paisagens congeladas no Canadá. O interesse por carros começou com jipes na juventude, com o pai, mas foi em 2011, quando os UTVs passaram a ser adotados no Brasil, que ele encontrou a combinação ideal: veículos mais estáveis e confortáveis que quadriciclos, podendo custar até 200.000 reais. Ele se juntou ao grupo “Malacabados” e valoriza a desconexão total das viagens — em locais com pouco ou nenhum sinal de celular. As expedições são com amigos, mas ele busca incluir a família, citando rotas em que mulheres também vão, como Lençóis Maranhenses e o caminho pela praia de Natal a João Pessoa.
A ligação com a família aparece também no trabalho: a marca foi fundada em 2004 pela mãe do executivo e hoje tem seis lojas no Brasil e mais de 300 rendeiras. O filho, Guilherme, participa das viagens desde os 5 anos e, em uma aventura recente, dirigiu 95% do tempo. Medeiros narra episódios extremos, como dormir no teto do UTV no Pantanal, com lama, chuva e marcas de onça ao redor, e enfrentar menos 42 graus no Canadá, sobre lagos congelados.
Barreira: música alta e exercícios de alta intensidade logo de manhã (Leandro Fonseca /Exame)
Rogerio Barreira, presidente da divisão Brasil da Arcos Dorados, faz do spinning um ritual matinal com música alta e alta intensidade para equilibrar corpo e mente. Depois de testar modalidades, encontrou na bicicleta indoor uma prática que combina ritmo, foco e prazer. Ele conta que, ao entrar no mercado de trabalho — começou como atendente no McDonald’s — o tempo para exercícios diminuiu, mas a necessidade de cuidar da saúde aumentou. Tentou corrida, mas a agenda e as viagens prejudicavam a constância. No spinning, indicado por um amigo, se identificou logo na aula experimental e adotou a atividade como disciplina: “se eu não fizer, parece que falta algo”.
Para ele, a prática é terapêutica e exige atenção à música e ao ritmo, tornando os problemas “mais suaves”. Destaca também o gasto calórico: em 45 minutos, “pelo menos 600 calorias”, comparando ao equivalente de um combo do McDonald’s, com menos desgaste que correr.
Para manter a consistência, reserva um horário fixo das 6h às 9h e complementa com musculação três vezes por semana. Há 41 anos na Arcos Dorados, lidera mais de 70.000 funcionários em 1.186 lojas no país.
Em ação: na pandemia, a antiga sala de TV foi transformada em ateliê (Leandro Fonseca /Exame)
A costura acompanha Dilma Campos desde a infância, por influência da avó paterna, costureira de ateliê, e das aulas de artesanato que fez quando pequena. Mas o hobby só ganhou espaço de verdade na vida adulta, há cerca de 13 anos, quando ela buscava um lugar de pausa em meio à rotina intensa do empreendedorismo.
Ao se inscrever em um curso de costura criativa “do zero”, reencontrou memórias familiares e descobriu uma atividade prazerosa. Sem foco em roupas, Dilma prefere peças utilitárias — aventais, jogos americanos e nécessaires — e define a prática como “refúgio”, sem a obrigação de moldes complexos. Na pandemia, montou um ateliê em casa, transformando a antiga sala de TV em espaço de costura. Embora faça de forma esporádica, a produção cresce no fim do ano: no último Natal, fez 47 aventais para presentear. Ela diz que costurar “limpa a mente” e destrava a criatividade, ajudando a encontrar soluções no trabalho.
O perfeccionismo também aparece no hobby, mas ela aprende a flexibilizar. Dilma conecta essa lógica ao trabalho na ESG tech Nossa Praia, que busca tornar a sustentabilidade mais acessível e evitar greenwashing, comparando o “encaixe do tecido” ao esforço de conectar empresas a práticas sustentáveis reais.
Gricheno: experiência no esporte aplicada ao desenvolvimento da própria marca (Leandro Fonseca/Exame)
Yuri Gricheno, CEO e cofundador da Insider, começou no tênis aos 11 anos por incentivo da mãe e rapidamente se envolveu com treinos e competições. Aos 12, entrou em campeonatos juvenis federados e chegou a ficar entre os 20 melhores do Brasil na sua idade. Aos 18, escolheu estudar e competir nos Estados Unidos, mantendo o esporte em nível competitivo enquanto se formava. Lá, participou da NCAA (Divisão 1) e destaca vitórias coletivas como as mais marcantes, por envolverem esforço em equipe.
Entre as lembranças, cita uma virada improvável após perder por 6-0 e 5-1, atribuindo o resultado ao aspecto psicológico e à reorganização mental. Para ele, o tênis traz aprendizados diretos para os negócios: conviver com derrotas, evoluir a partir delas e se adaptar a condições e adversários diferentes, como ocorre com mudanças no mercado.
Hoje, joga por prazer com amigos e outros empreendedores, em um grupo chamado “Tenistas Empreendedores”, e diz que a quadra ajuda a esquecer problemas e voltar renovado. A ligação também chega à Insider, que patrocina atletas como Pedro Sakamoto (nº 271 da ATP). Fundada há oito anos, a marca desenvolve roupas tecnológicas com tecnologia antiodor, antissuor e antimicrobiana e usa materiais como o tecido outlast, criado para astronautas, para regular a temperatura corporal.
Cavalgadas pelo mundo: o executivo de origem espanhola fez viagens a cavalo nos cinco países em que viveu (Leandro Fonseca/Exame)
Alvaro Gutierrez, country manager do Grupo Oniverse no Brasil, cultiva desde criança o fascínio por cavalos, inspirado por filmes de faroeste. Começou a montar aos 5 ou 6 anos e, aos 7, iniciou aulas de equitação. Na adolescência, competiu em salto e doma na Espanha e chegou a considerar veterinária. Mesmo sem ter um cavalo próprio, manteve proximidade com os animais nos cinco países em que viveu, montando cavalos de terceiros e, muitas vezes, exibindo-os em competições para venda.
Entre experiências marcantes, destaca uma travessia a cavalo pelos Andes, do Chile à Argentina: foram seis dias nas montanhas, perto de 5.000 metros de altitude, com temperaturas abaixo de zero, exigindo preparo e conexão com o animal. Ele planeja voltar aos Andes, próximo ao local do acidente aéreo de 1972 retratado em “Sociedade da Neve”, que descreve como “muito espiritual”.
No Brasil, guarda memória de uma cavalgada em Minas Gerais, com paradas em fazendas e até nado com cavalos em um lago. Embora cavalgue com menos frequência por causa da rotina, diz que a natureza funciona como “psicólogo” e devolve energia e ideias para a empresa.
O grupo tem 143 lojas no país (89 Intimissimi, 51 Calzedonia e 3 Intimissimi Uomo) e planeja expansão da marca masculina com seis lojas em 2025. Gutierrez também relaciona cavalgadas e trabalho a resiliência, adaptabilidade e disciplina.
André Cintra, presidente do conselho da Amend (Leandro Fonseca/Exame)
André Cintra, presidente do conselho da Amend, vê no kitesurf um hobby que representa liberdade. Aos 18 anos, após um acidente de moto, teve a perna direita amputada, mas seguiu praticando esportes de aventura. Ao conhecer o kitesurf, decidiu aprender mesmo diante do ceticismo de outros: comprou equipamentos, adaptou a prótese e começou sozinho, motivado por quem dizia que ele não conseguiria. O processo exigiu persistência e levou ao desenvolvimento de um mecanismo para fixar melhor a prótese na prancha, reduzindo quedas até dominar o esporte. Cintra destaca a sensação de harmonia com a natureza como essência da experiência. Todos os anos, viaja ao Ceará, que chama de “meca do kitesurf no Brasil”, e, neste ano, fez uma travessia de 70 km no mar com surfistas internacionais; no início do ano, percorreu 400 km entre Ceará e Maranhão.
Outra experiência marcante foram os Lençóis Maranhenses, pela imersão em um ambiente selvagem e quase sem pessoas. Além do kitesurf, ele também tem histórico no snowboard, tendo representado o Brasil na Paralimpíada de Inverno de 2014 (26ª colocação) e 2018 (10º lugar), experiências que associa a resiliência e foco. Cintra diz que os esportes influenciam seu trabalho, ajudando a ser mais criativo, resiliente e calmo diante de desafios.
A Amend, fundada em 1994, tem 600 colaboradores, presença em 18 países, cresceu 25% na receita entre 2020 e 2022, distribui em 8.500 pontos no Brasil e tem 300 SKUs; em 2024, inaugurou o Amend Lab no Itaim Bibi.
Juliana Pereira: o hobby a ajuda a desconectar da rotina (Leandro Fonseca/Exame)
Juliana Pereira, CEO da Montblanc no Brasil, encontrou no birdwatching uma forma de se desligar da rotina corporativa e se reconectar com a natureza durante viagens. Ela procura conhecer a fauna e a flora de cada lugar, buscando parques, trilhas e reservas. A prática se consolidou em visitas a destinos brasileiros como Chapadas, Pantanal e Jalapão, que recomenda pela biodiversidade e pela paz. Recentemente, esteve na Trilha dos Tucanos, em Tapiraí (SP), onde os “comedouros” atraem aves e chamou atenção a presença de turistas estrangeiros, indicando como o hobby é valorizado fora do Brasil. No exterior, observou pelicanos em Valparaíso (Chile) e psitacídeos em Santiago, e se impressionou com a preservação e organização dos parques urbanos na Alemanha, inclusive em Hamburgo, sede da Montblanc.
Para ela, o birdwatching traz paz, exige paciência e foco e melhora a “escuta ativa”, já que localizar aves depende de ouvir com atenção. Costuma viajar com o namorado, que contribui com olhar mais técnico, mas ela valoriza a liberdade de fazer tudo “no seu tempo”, sem pressão. Entre os próximos planos estão Ilhabela, com foco em aves endêmicas, e reservas no Espírito Santo. Juliana reforça condutas sustentáveis — levar o próprio lixo, evitar interferências e usar sons para atrair aves com parcimônia. A Montblanc tem nove lojas no Brasil, além do e-commerce, e ela vê o hobby como pausa para lidar melhor com desafios do dia a dia.