Dilma Rousseff: o ambicioso "O Processo" investiga os meandros do impeachment da presidente (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 16 de maio de 2018 às 16h34.
São Paulo - Veja um resumo dos principais filmes que estreiam no país na quinta-feira:
Num cinema como o brasileiro, que atingiu uma excelência no documentário simbolizada pela presença de um mestre de reconhecimento internacional como Eduardo Coutinho (1933-2014), a cineasta Maria Augusta Ramos encontrou seu lugar na escavação das camadas que recobrem instituições como o Judiciário - que ela desbravou em documentários afiados como Justiça (2004) e Juízo (2013).
Novamente ela exerce essa sua marca característica no ambicioso "O Processo", que investiga os meandros do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Mais uma vez sem valer-se de entrevistas, Maria Augusta instala-se com sua câmera no coração do drama, em Brasília, acompanhando momentos seletos, a partir da sessão do Congresso que definiu a admissibilidade do processo.
A cineasta joga seus espectadores no centro dos acontecimentos - uma experiência atordoante, diante dos sentimentos despertados. Comportando-se como se estivesse invisível, Maria Augusta capta a exasperação crescente das reuniões do Senado, nas discussões sobre o impeachment, e os naturais embates entre defensores e adversários da petista.
O primeiro filme protagonizado por Deadpool foi uma aposta arriscada, trazendo ao centro um sujeito desbocado e politicamente incorreto. O resultado foi mais uma comédia do que uma aventura típica de heróis, mas a combinação deu tão certo que ele ganhou uma continuação que mantém os elementos que garantiram a alta bilheteria.
Agora, Deadpool/Wade (Ryan Reynolds) passa por um grande trauma que o faz pensar em suicídio. Porém, sua enorme capacidade de regeneração e seus poucos amigos sempre o impedem de concretizar o desejo. Uma figura vinda do futuro, Cable (Josh Brolin), chega com o objetivo de eliminar um garoto mutante (Julian Dennison). Para impedir o plano, Deadpool monta uma equipe de mutantes para combater ao seu lado.
Com duas inexplicáveis horas de duração, o longa insiste em uma torrente de piadas repetitivas que nem sempre funcionam. Já a desculpa de trama para amarrar o humor é pouco criativa e rocambolesca.
"Entre-Laços", da diretora japonesa Naoko Ogigami, também autora do roteiro, é um filme sensível que aborda um tema cada dia mais atual: a nova formação dos núcleos familiares, com homossexuais e transexuais assumindo papel relevante na condução dos filhos, e as dificuldades que enfrentam para superar preconceitos.
O filme tem dois condutores importantes, que criam empatia na plateia. Primeiro, a menina Tomo (Rinka Kakihara), de 11 anos, abandonada pela mãe, e que passa a ser criada pelo tio, Makio (Kenta Kiritani), e por sua namorada, Rinko (Toma Ikuta), uma mulher transexual. Para Tomo, é um mundo novo que vem acompanhado de muitos problemas, como a dificuldade de aceitação de Rinko pela sociedade conservadora.
Toma Ikuta é o centro irradiador da história e consegue, com seus gestos contidos, delicados, mas decididos, a cumplicidade do espectador. E sua luta pela aceitação torna-se também a luta da pequena Tomo, que começou a viver em um mundo novo e não quer abrir mão dele.
O diretor estreante Karim Moussaoui faz um retrato de sua terra natal, a Argélia, em "Na Natureza do Tempo". O longa é composto de três histórias que mais se complementam do que se conectam, e têm como cenário um país que ainda vive as consequências de uma guerra civil, que acabou em 2002.
A primeira parte tem como protagonista um construtor (Mohamed Djourhri) enfrentando problemas envolvendo a ex-mulher (Sonie Mekkiou) e sua segunda esposa (Aure Atika), que quer voltar para a França. A parte do meio é protagonizada por um funcionário do empreiteiro (Mehdi Ramdani) que viaja com os vizinhos para o casamento da filha deles, com quem ele teve um romance. E, por fim, o último capítulo tem ao centro um médico (Hassan Kachach) acusado de estupro.
O resultado é um tanto irregular - com a segunda parte se destacando -, mas ainda assim capaz de captar o clima de um país ainda em recuperação de uma história sempre turbulenta.
Não é fácil adaptar uma peça para o cinema, ainda mais quando se tem, como em "Querida Mamãe", apenas duas personagens em cena na maior parte do tempo, mãe e filha - aqui, interpretadas por Selma Egrei e Letícia Sabatella. O texto de Maria Adelaide Amaral, de 1994, é expandido em suas situações e personagens, nem sempre bem resolvidos.
Helô (Sabatella) e Ruth (Egrei) sempre tiveram uma relação tensa, e o presente só potencializa os problemas. A primeira vive um casamento que parece estar com os dias contados, enquanto sua mãe pode estar com câncer no pulmão.
A entrada de novos personagens, como o marido de Helô (Marat Descartes) e um novo interesse romântico dela (Claudia Missura) dissipam a força do texto original que estava na tensão entre o embate e o carinho das duas protagonistas. Embora as atrizes centrais sejam mais do que empenhadas, elas obviamente não podem superar roblemas que independem de seu desempenho.
(Por Neusa Barbosa, Alysson Oliveira e Luiz Vita, do Cineweb)
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