Turistas chineses visitam Grande Palácio de Bangcoc. (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 22 de setembro de 2023 às 14h48.
Para milhões de turistas chineses, a Tailândia era uma terra de felicidade, com comida deliciosa e festivais de lanternas. Mas um filme de ação de sucesso e rumores nas redes sociais associaram este destino a uma imagem de perigo, ganância e fraudes.
Parte da culpa recai sobre o filme lançado em agosto "No More Bets" ("Sem mais apostas", em tradução livre), que já arrecadou mais de US$ 520 milhões (R$ 2,55 bilhões) em bilheteria na China.
A história, que segundo seus produtores é inspirada em "acontecimentos reais", conta as desventuras de um jovem casal preso em um país do Sudeste Asiático após ser vítima de tráfico de pessoas na Tailândia.
O fenômeno é especialmente prejudicial para este reino, com 20% do PIB dependente do turismo e que tenta recuperar o número de visitantes anterior à pandemia da covid-19.
Em 2019, o país recebeu 40 milhões de turistas, incluindo quase 11 milhões de chineses. Desde o início de 2023, o total é de 19 milhões, sendo apenas 2,3 milhões procedentes da China.
O sucesso do filme não ajuda, nem as inúmeras postagens virais nas redes sociais que alertam para os riscos de ser sequestrado por grupos criminosos na Tailândia e enviado para os vizinhos Mianmar, ou Camboja.
Diante dos problemas, o governo tailandês lançará um programa experimental, em 25 de setembro, para permitir a entrada de turistas chineses sem visto.
Apesar da desaprovação das pessoas próximas, Jia Xueqiong, uma enfermeira chinesa de 44 anos, decidiu viajar para a Tailândia com o marido e a filha.
"Nossos pais tentaram nos convencer a não vir, porque não estaríamos seguros", conta a turista enquanto passeia pelo Grande Palácio de Bangcoc, estranhamente silencioso.
"Todos os meus amigos me disseram: 'você vai explorar primeiro e, se estiver tudo bem, vamos nos unir a vocês'", acrescenta.
Estas histórias "são exageradas", diz Leanna Qian, uma estudante de 22 anos entrevistada pela AFP em Pequim.
Ela ressalta, rapidamente, porém: se fosse para a Tailândia, "teria medo de ser levada para um país vizinho contra a minha vontade".
"Somos inocentes, é injusto", afirma o presidente da Associação de Agentes de Viagem da Tailândia, Sisdivachr Cheewarattanaporn.
O filme tem uma certa base na realidade. Há casos documentados de milhares de chineses presos em países do Sudeste Asiático, especialmente em Mianmar e no Camboja, para trabalhar para máfias envolvidas com golpes on-line.
A maioria foi, no entanto, seduzida com falsas ofertas de empregos lucrativos, e não sequestrada nas ruas durante as férias. Além disso, nenhum desses complexos de golpes foi encontrado na Tailândia até agora.
Diante dos temores, intensificados pelo filme, a embaixada da Tailândia em Pequim publicou um comunicado, afirmando que "foram tomadas medidas para garantir a segurança dos visitantes".
A cautela dos turistas chineses com as viagens internacionais também se deve à fragilidade da economia chinesa e aos operadores turísticos locais que, desde a covid, têm promovido destinos nacionais.
Levará algum tempo até que as pessoas voltem a se acostumar a viajar para o exterior, avalia o diretor da empresa de consultoria de turismo Check-in Asia, Gary Bowerman.
Quando os turistas saem do país, "começam a ouvir falar de golpes", e isso "tem um impacto psicológico", explica.
"Já as viagens domésticas estão no auge, particularmente entre os jovens, que as consideram uma boa alternativa às viagens internacionais", completa.
Em uma agência de viagens de Pequim, cujos administradores pediram que o estabelecimento não fosse identificado, as telas anunciam destinos locais. A agência empregava 200 pessoas antes da pandemia, mas agora contam apenas com algumas dezenas de funcionários, devido à deterioração da economia.
"Não há muita vontade de viajar para o exterior", disse à AFP uma funcionária que se identificou apenas pelo nome, Guo.
Além disso, no Sudeste Asiático, "há o medo de ir e nunca mais voltar".
Diante do Grande Palácio de Bangcoc, Jia Xueqiong minimiza esses medos.
"Não é como se diz na Internet, com golpes, ou outras coisas", afirma. "Não tem nada nesse estilo aqui", insiste.