Exposição permanente de Helmut na Alemanha; em Paris exposição tem mais de 200 trabalhos, a maioria em tiragens originais (Getty Images/Carsten Koall)
Da Redação
Publicado em 25 de abril de 2012 às 12h43.
Paris - “Eu adoro a vulgaridade. Na verdade, sou atraído pelo mau gosto, que me parece bem mais excitante que o pretenso bom gosto, que nada mais é que a normatização do olhar”, provocava Helmut Newton. Neste momento, em Paris, todas as salas da ala sudeste do Grand Palais estão impregnadas de erotismo graças a imagens vintage, em preto e branco, de nus femininos clicadas pelo homem que inventou o pornô chique. A exposição Helmut Newton (1920-2004) tem mais de 200 trabalhos, a maioria em tiragens originais, com formatos variados – de polaroides a quadros monumentais –, com belíssimas musas em poses ultraprovocantes.
O percurso da mostra, estabelecido de forma retrospectiva, ajuda o visitante a entender e se familiarizar com os temas recorrentes que compõem o universo newtoniano: moda, nus, retratos, sexo e luxúria. Numa das salas, também é possível assistir ao documentário Helmut by June, produzido pela viúva, June Newton. A imagem da abertura da exposição é um autorretrato de Helmut Newton refletido no espelho, enquanto fotografa uma modelo nua. Sentada, observando-o, aparece June Newton.
Discreta e apaixonada, June abandonou sua carreira de atriz para dedicar-se com total exclusividade ao marido. Quando eles se conheceram, em 1946, Newton estabeleceu as regras do relacionamento: “Eu fotografo, você cuida de tudo”, conta ela, sua companheira por mais de 40 anos. Por meio da Fundação Helmut Newton, June gerencia as obras de seu marido ao redor do mundo e coproduziu essa retrospectiva.
Paloma Picasso, Charlotte Rampling, Naomi Campbell, Elizabeth Taylor, Isabelle Huppert, Cindy Crawford, Ava Gardner… todas as mulheres que importam, em diferentes épocas, posaram para as lentes de Helmut Newton, com e sem roupa. A atriz francesa Catherine Deneuve conta que não se lembra ao certo em que circunstâncias sua fotografia foi tirada.
Registrou apenas que ele foi até a sua casa, abriu seu guarda-roupas, escolheu uma camisola de seda, algumas joias e começou a clicá-la. “Ele tinha a insolência de um dandy, mas sem jamais ser invasivo”, diz. A foto mostra Deneuve em 1976, exalando sensualidade gauche, com um cigarro pendendo da boca. Uma obra clássica, que enquadra todos os elementos de seu estilo marcante.
Dominadoras, independentes, amazonas estonteantes, as modelos de Newton aparecem sempre em poses provocativas e pouco óbvias. Suas fotografias evocam elementos do sadomasoquismo, sobretudo como parte integrante de um universo requintado e profano, no qual o poder e o dinheiro ditam as regras da sexualidade levada ao extremo.
A exposição coloca em evidência esse apelo do corpo feminino retratando um tipo de mulher politicamente incorreta, provocante e consciente de sua imagem fatal. “Ele transformava as modelos em estátuas de Vênus, e, por meio de sua obra, a história da nudez clássica atingiu o apogeu contemporâneo”, diz Jérôme Neutres, curador da mostra.
Nascido Helmut Neustädter em Berlim, Alemanha, numa família judia, ele fugiu para Cingapura e depois para a Austrália, onde ganhou a cidadania e começou a trabalhar. Nos anos 1950, mudou-se para Londres e em seguida para Paris. Na cidade, suas fotografias para revistas como Vogue e Harper’s Baazar tinham a marca de seu gênio – fetichismo e erotismo no limite.
Seu trabalho o levaria a Nova York, onde ele consolidaria sua reputação como um dos maiores fotógrafos da moda em todos os tempos. Helmut Newton morreu em 24 de janeiro de 2004, aos 83 anos, quando perdeu o controle de seu Cadillac e invadiu o muro do hotel Château-Marmont, em Los Angeles. Até o fim, sua vida foi marcada pelo glamour.