Em busca do óbvio perdido
A trajetória de Gustavo Ziller, que abandonou uma carreira executiva tradicional para virar montanhista, palestrante e consultor de startups
Guilherme Dearo
Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 07h00.
Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às 08h00.
A carreira de Gustavo Ziller como executivo começou a desmoronar quando ele saiu a bordo de seu Dodge Journey para uma reunião em certa manhã de junho de 2012.
O diretor de negócios da Pontomobi, uma das maiores empresas de marketing e publicidade mobile da América Latina, acelerava pela Avenida Cidade Jardim, em São Paulo, quando começou a suar excessivamente e ficar com a visão turva.
O milagre que o levou a frear o carro sem bater é desconhecido, já que ele desmaiou em seguida. Acordou no hospital, onde diagnosticaram o episódio com um reflexo da Síndrome de Burnout, associada ao esgotamento físico.
Estava à beira dos 38 anos e trabalhando excessivamente em razão da recente aquisição pela Pontomobi da Aorta, fundada por ele e um amigo em 2002 e pioneira na produção de conteúdo e desenvolvimento de aplicações para smartphones e tablets.
Para desanuviar, decidiu fazer uma viagem fora da curva. O destino escolhido foi o Nepal, onde subiu a montanha Annapurna, não sem antes se submeter a uma rotina de exercícios para perder parte de seus 109 quilos e ganhar resistência. No meio tempo, começou a praticar o que define como “reconexão com a obviedade”.
“Um piripaque como aquele não te move a fazer coisas extraordinárias, mas aquelas mais óbvias, que eu tinha deixado de lado pelo trabalho”, diz ele. “Como dar real atenção à família, por exemplo”. Ziller resumiu a experiência no livro “Escalando Sonhos”.
De volta ao Brasil, não demorou a se desligar do trabalho. Sua grande empreitada seguinte foi a série “7 Cumes”, exibida pelo Canal Off. Criada e protagonizada por Ziller, que desde a mudança de vida cultiva uma barba espessa, a série se propõe a mostrá-lo escalando a montanha mais alta de cada continente na primeira tentativa.
Mineiro de Belo Horizonte, ele não escalava desde a juventude, durante o serviço militar - o ex-executivo foi designado para o Batalhão de Infantaria de Montanha, sediado em São João del-Rei.
Hoje ele se divide entre as montanhas, as palestras e as startups ligadas ao grupo Endeavor, no qual atua como conselheiro. Piripaque nunca mais.