Em Berlim, a força do cinema político
Se o Festival de Cinema de Berlim já tem um viés tradicionalmente político, este ano as telas estarão repletas do “apocalipse diário” da vida real, como definiu o diretor do evento, Dieter Kosslick, em entrevista à TV alemã Deutsche Welle. Kosslick também ressalta a importância de falar sobre a crescente desigualdade. Com a política anti-imigração […]
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 05h42.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h47.
Se o Festival de Cinema de Berlim já tem um viés tradicionalmente político, este ano as telas estarão repletas do “apocalipse diário” da vida real, como definiu o diretor do evento, Dieter Kosslick, em entrevista à TV alemã Deutsche Welle. Kosslick também ressalta a importância de falar sobre a crescente desigualdade. Com a política anti-imigração de Trump, o tema das fronteiras volta com tudo nesta 67ª edição, que tem início nesta quinta-feira e vai até 19 de fevereiro. Com mais de 330.000 ingressos vendidos ao longo de sua história, é o festival com maior audiência do mundo.
No ano passado, o documentário Fogo no Mar, do italiano Gianfranco Rosi sobre a ilha de Lampedusa, por onde passaram milhares de refugiados na travessia rumo à Europa, foi premiado com o Urso de Ouro – e é visto como favorito ao Oscar. Em Berlim, o francês Django, do diretor Etienne Comar, foi escolhido para abrir o festival. O longa conta a história do guitarrista de raízes ciganas Django Reinhardt, que foi perseguido em Paris pelos nazistas alemães.
O tema da imigração também permeia O Outro Lado da Esperança, do finlandês Aki Kaurismaki, e o indiano A Casa do Vice-Rei, de Gurinder Chadha. No ano passado, no auge da crise de refugiados, o ator George Clooney chegou a se reunir com a chanceler alemã Angela Merkel, para discutir políticas de integração social. Este ano, a população de baixa renda que vive no país, inclusive imigrantes, terá 50% de desconto nos ingressos.
O Brasil terá 13 filmes competindo, entre eles o longa Joaquim, do pernambucano Marcelo Gomes, sobre a vida de Tiradentes e a desigualdade social brasileira, e o curta sobre a música brega Estás Vendo Coisas, da também pernambucana Bárbara Wagner em parceria com Benjamin de Burca, que mostra como a música dá visibilidade a uma “classe média que extrapola as favelas”, como definiu a diretora. Os dois concorrem ao Urso de Ouro – e, à sua maneira, atendem à dura agenda social de Berlim deste ano.