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Biografia de Elon Musk é lançada hoje; confira aqui trecho do livro

Livro conta bastidores da vida (e trabalho) de um dos homens mais ricos do mundo

Biografia Elon Musk. (Intrínseca/Divulgação)

Biografia Elon Musk. (Intrínseca/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 8 de setembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 12 de setembro de 2023 às 15h56.

O que se passa na mente de um dos maiores e mais excêntricos empresários do mundo? Depois de colocar 31 foguetes em órbita, vender milhões de carros elétricos e se tornar o homem mais rico do planeta, Elon Musk reconheceu sua fixação por drama. “Preciso mudar minha mentalidade e sair do modo de crise, no qual passei a maior parte da minha vida”, disse. Logo em seguida, Musk comprou o Twitter e rebatizou a companhia de X.

Agora, a trajetória completa do polêmico empresário será contada na biografia escrita por Walter Isaacson, biógrafo de Steve Jobs, que acompanhou a rotina do empresário por dois anos.

O lançamento aconteceu nesta terça-feira, 12. A editora Intrínseca disponibilizou um trecho do livro para divulgação. Parte do capítulo 51, Cybertruck, apresenta a ideia de Musk em usar aço inoxidável para construir a picape Cybertruck.

Confira abaixo o trecho da biografia de Elon Musk.

Aço

Quase toda sexta-feira à tarde, desde que criara o estúdio de design da Tesla, em 2008, Musk fazia uma reunião de avaliação de produto com o chefe da equipe de design, Franz von Holzhausen. Essas reuniões, geralmente realizadas no silencioso showroom de piso branco do estúdio de design nos fundos da sede da SpaceX, em Los Angeles, eram um respiro, sobretudo quando a semana fora tumultuada. Musk e Von Holzhausen vagavam pela sala, que parecia um hangar, tocando em protótipos e modelos de argila dos veículos que eles vislumbravam para o futuro da Tesla.

No começo de 2017, eles principiaram a discutir ideias para uma caminhonete da Tesla. Von Holzhausen começou com os designs tradicionais, usando como modelo uma Chevrolet Silverado, que foi colocada no centro do estúdio para que eles estudassem as proporções e os componentes do veículo. Musk disse que queria algo mais empolgante, talvez até mesmo surpreendente. Então pesquisaram veículos históricos com um ar arrojado, principalmente a El Camino, um cupê retrofuturista feito pela Chevrolet na década de 1960. Von Holzhausen projetou uma caminhonete com um ar semelhante, mas, ao andar em torno do modelo, eles concordaram que o veículo não parecia “durão” o suficiente.

“Tinha curvas demais”, diz Von Holzhausen. “Não transmitia a autoridade de uma caminhonete.” Musk então acrescentou mais uma referência de design que o inspirou: a Lotus Esprit do fim da década de 1970, um veículo esportivo britânico anguloso e com a frente em forma de cunha. Especificamente, ele estava apaixonado por uma versão que aparecia no filme 007: O espião que me amava, de James Bond, de 1977. Por cerca de 1 milhão de dólares, Musk comprou o carro usado no filme e o expôs no estúdio de design da Tesla.

As sessões de brainstorming eram divertidas, mas mesmo assim não culminaram em um conceito que empolgasse os dois. Para se inspirarem, eles visitaram o Museu Automotivo Petersen, onde repararam em algo surpreendente. “Percebemos”, diz Von Holzhausen, “que as caminhonetes não haviam mudado de forma e o processo de fabricação ainda era o mesmo nos últimos oitenta anos”.

Com isso em mente, Musk mudou o foco para algo mais básico: qual material eles deveriam usar para a carroceria da caminhonete? Ao repensar os materiais e até mesmo a física da estrutura do veículo, talvez vislumbrassem designs tremendamente inovadores.

“Originalmente, pensamos em alumínio”, relata Von Holzhausen. “Também cogitamos titânio, porque a durabilidade era realmente importante.” Contudo, mais ou menos nessa época, Musk se encantou com a possibilidade de produzir um foguete usando aço inoxidável brilhante. E ele percebeu que isso talvez funcionasse também para a picape. Uma carroceria de aço inoxidável não precisaria de pintura e poderia suportar parte da carga estrutural do veículo. Era uma ideia de fato inovadora, um modo de repensar o que um veículo podia ser. Numa sexta à tarde, depois de algumas semanas de discussão, Musk entrou e simplesmente anunciou: “Vamos fazer essa coisa toda de aço inoxidável.”

Charles Kuehmann era o vice-presidente de engenharia de materiais tanto da Tesla quanto da SpaceX. Uma das vantagens de que Musk usufruía era que as empresas dele podiam compartilhar conhecimento de engenharia. Kuehmann desenvolveu um aço inoxidável ultrarresistente que era “laminado a frio” em vez de exigir tratamentos a quente — e que foi patenteado pela Tesla. O material era forte e barato o bastante para ser usado tanto em caminhonetes quanto em foguetes.

A decisão de usar aço inoxidável na fabricação da Cybertruck teve uma grande consequência para a engenharia do veículo. Uma carroceria de aço podia servir como estrutura para suportar a carga do veículo, em vez de exigir que o chassi desempenhasse esse papel. “Vamos colocar a resistência na parte externa, usar como um exoesqueleto, e fixar todo o restante pelo lado de dentro”, sugeriu Musk.

O uso de aço inoxidável também abriu novas possibilidades para a aparência da caminhonete. No lugar de usar máquinas que esculpiriam a fibra de carbono para fazer painéis com curvas e formas sutis, o aço inoxidável favoreceria superfícies planas e ângulos afilados. Isso permitiria — e de certa maneira forçaria — que a equipe de design explorasse ideias mais futuristas, ousadas, até mesmo chocantes.

“Não resista a mim”

No segundo semestre de 2018, Musk estava saindo do inferno de produção das fábricas de Nevada e de Fremont, dos tuítes sobre pedofilia e acerca de tornar a Tesla uma empresa privada e do turbilhão mental daquele que ele chamou de o ano mais aflitivo que já tivera na vida. Em momentos desafiadores, um dos refúgios de Musk era se concentrar em algum projeto futuro. E foi isso que ele fez no tranquilo porto seguro do estúdio de design naquele 5 de outubro, quando transformou a visita regular das sextas-feiras em uma sessão de brainstorming sobre a caminhonete.

O Chevrolet Silverado continuava no showroom como referência. Diante dela havia três grandes quadros com imagens de uma ampla gama de veículos, alguns extraídos de videogames e de filmes de ficção científica. Eles iam dos modelos retrô aos futuristas, dos mais aerodinâmicos aos mais angulosos, dos curvilíneos aos chocantes.

Com as mãos casualmente nos bolsos, Von Holzhausen tinha a postura tranquila de um surfista à espera da onda certa. Musk, com as mãos na cintura, parecia um urso encolhido à procura de uma presa. Depois de um tempo, Dave Morris e, mais tarde, alguns outros designers também começaram a participar. Enquanto olhava para as fotos nos quadros, Musk gravitava na direção dos modelos com um visual futurista, cibernético. Pouco tempo antes, eles haviam decidido o design do Model Y, uma versão crossover do Model 3, e Musk tinha sido dissuadido de parte de suas sugestões mais radicais e anticonvencionais. Depois de não ter arriscado no Model Y, ele não queria que isso acontecesse com o projeto da picape. “Vamos ser ousados”, disse. “Vamos surpreender as pessoas.”

Toda vez que alguém apontava para uma imagem mais convencional, Musk rechaçava e apontava para o carro do videogame Halo, para o que aparecia no trailer do jogo Cyberpunk 2077, que ainda seria lançado, ou para o do filme Blade Runner, de Ridley Scott. Seu filho Saxon, que é autista, tinha feito recentemente uma pergunta fora do comum que ficava retumbando na mente de Musk: “Por que o futuro não tem cara de futuro?” Musk citava repetidas vezes a pergunta de Saxon. E assim ele disse para a equipe de design naquela sexta-feira: “Eu quero que o futuro tenha cara de futuro.”

Havia umas poucas vozes dissonantes, as quais acreditavam que algo futurista demais não venderia. Afinal, era uma caminhonete. “Não me importo se ninguém comprar”, falou Musk no fim de uma reunião. “Não vamos fazer uma caminhonete tradicional e chata. Podemos fazer isso depois. Quero fazer uma coisa maneira. Tipo, não resistam a mim.” Em julho de 2019, Von Holzhausen e Morris tinham construído um mock-up em tamanho real de um desenho futurista, ousado, cibernético, cheio de ângulos e faces como um diamante. Certa sexta-feira, eles surpreenderam Musk, que ainda não tinha visto o modelo, colocando-o no centro do showroom, perto do modelo mais tradicional que vinham cogitando.
Quando Musk entrou pela porta principal da fábrica da SpaceX, sua reação foi instantânea: “É isso!”, exclamou. “Adorei. Vamos fazer isso. Sim, é isso que a gente vai fazer. Isso, ok, fechado.” O modelo ficou conhecido como Cybertruck.

“A maioria das pessoas do estúdio odiou o carro”, diz Von Holzhausen. “Eles diziam algo assim: ‘Você não está falando sério.’ Não queriam ter nada a ver com aquilo. Era esquisito demais.” Alguns engenheiros começaram a trabalhar em segredo numa versão alternativa. Von Holzhausen, que é tão gentil quanto Musk é brusco, dedicava um tempo a escutar com atenção as preocupações deles. “Se as pessoas à sua volta não compram a ideia, é difícil fazer com que as coisas aconteçam”, explica ele. Musk era menos paciente. Diante da insistência de alguns designers para que ele fizesse pelo menos algum tipo de teste de mercado, Musk respondia: “Eu não faço grupos focais.”

Quando o projeto da caminhonete ficou pronto, em agosto de 2019, Musk disse à equipe que queria exibir publicamente o protótipo em novembro — em três meses, em vez dos habituais nove meses que se leva para produzir um protótipo funcional. “Até novembro não vamos ter um carro que as pessoas possam dirigir”, afirmou Von Holzhausen. Musk respondeu: “Vamos ter, sim.” Os prazos irreais dele geralmente não funcionam, mas em alguns casos dava certo. “Isso forçava a equipe a trabalhar unida, 24 horas por dia, sete dias por semana, focada naquela data”, diz Von Holzhausen.

Em 21 de novembro de 2019, a caminhonete foi levada até um palco no estúdio de design para uma apresentação à imprensa e também a convidados. Houve suspiros. “Muita gente na plateia claramente não acreditava que aquele era o veículo que tinham ido ver”, noticiou a CNN. “O Cybertruck parece um grande trapezoide de metal sobre rodas, lembra mais uma obra de arte do que uma caminhonete.” Também houve uma grande surpresa quando Von Holzhausen tentou demonstrar a resistência do veículo. Ele bateu com uma marreta na carroceria, que não ficou com nenhum amassado.

Depois, jogou uma bola de metal numa das janelas de “vidro blindado”, para mostrar que não ia quebrar. Para surpresa dele, houve uma rachadura. “Ai, meu Deus!”, exclamou Musk. “Bem, vai ver que foi um pouco forte demais.” No geral, a apresentação não foi um grande sucesso. As ações da Tesla caíram 6% no dia seguinte, mas Musk estava satisfeito. “As caminhonetes têm sido feitas do mesmo modo há muito tempo, há uns cem anos”, disse ele para a plateia. “Queremos tentar algo diferente.”

Mais tarde, Musk levou Grimes para passear no protótipo e foram até o restaurante Nobu, onde os manobristas ficaram apenas olhando a caminhonete, sem tocar. Na saída, perseguido por paparazzi, ele dirigiu até um cone no estacionamento onde havia uma placa com os dizeres proibido virar à esquerda, e virou à esquerda.

Elon Musk, por Walter Isaacson | Editora Intrínseca | 89,90 reais | Lançamento 12 de setembro

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