Casual

Canadenses adiantam natal (em casa) por causa da pandemia

Bem antes do primeiro sábado de dezembro, quando os canadenses começam a procurar por árvores de natal, muitas fazendas já haviam vendido tudo

Canadá: com a pandemia, a corrida por itens natalinos começou muito antes neste ano.  (Ian Willms/The New York Times)

Canadá: com a pandemia, a corrida por itens natalinos começou muito antes neste ano. (Ian Willms/The New York Times)

MD

Matheus Doliveira

Publicado em 21 de dezembro de 2020 às 08h51.

Última atualização em 21 de dezembro de 2020 às 08h55.

Toronto – Scott Lunau estava colhendo maçãs em sua fazenda em meados de novembro quando um cliente perguntou se era muito cedo para cortar uma árvore de Natal. Ele correu para o celeiro para encontrar a máquina de embrulhar e a rede necessária para amarrar a árvore como um pacote, pronta para ser transportada.

"Pensei que havia algumas pessoas loucas que queriam as árvores mais cedo", disse Lunau, proprietário da Albion Orchards, fazenda de 20 hectares, 25 minutos a noroeste de Toronto. Faltando seis semanas para o Natal, ele se perguntou se iam viajar ou se planejavam comemorar mais cedo.

Na verdade, esse era o prenúncio de uma avalanche de compradores de pinheiros de Natal que viriam à sua fazenda, e a muitas outras em todo o país, assim que o número de casos de Covid-19 começou a subir a taxas alarmantes.

O Natal chegou mais cedo ao Canadá, ao que parece, com partes do país confinadas desde novembro. Sua maior cidade, Toronto, e dois de seus grandes subúrbios voltaram ao bloqueio semanas atrás. Como há poucas compras, poucas festas e menos desfiles de Natal, que são uma marca da celebração anual do país, toda essa energia festiva está se concentrando na festa doméstica – centrada no tradicional pinheiro enfeitado.

Semanas antes do primeiro sábado de dezembro, quando os canadenses geralmente começam a procurar por árvores, muitas fazendas especializadas já haviam vendido tudo, exibindo placas de "Esgotado", e berçários de mudas declararam que estavam sem estoque. Se a escassez de papel higiênico e as prateleiras nuas no corredor do supermercado foram o símbolo da chegada do coronavírus ao Canadá, as árvores de Natal estão rapidamente se tornando o símbolo da segunda onda do vírus.

"Estamos tentando há quatro dias encontrar mais. Alguém me ofereceu três vezes o preço por uma árvore ontem à noite. É definitivamente o pânico da Covid", contou Steve Watson, administrador de um grande lote de pinheiros em Toronto, que vendera tudo uma semana depois da inauguração em novembro.

O Natal é o maior feriado do ano no Canadá. Tradicionalmente, é marcado por grandes eventos – mercados de Natal, shows, iluminação de árvores e desfiles de Papai Noel, deixando as ruas lotadas de espectadores que chegam horas mais cedo para guardar seu lugar.

Este ano, à medida que os números do coronavírus quebram recordes em todo o país, a maioria deles foi cancelada.

François Legault, o primeiro-ministro de Quebec, foi dos poucos líderes políticos a tolerar pequenas reuniões durante as férias. Recentemente, inverteu sua posição, dizendo que as taxas crescentes da província significavam que reuniões familiares de qualquer tamanho "não eram uma boa ideia".

Então, o primeiro-ministro Justin Trudeau ponderou: "Sabíamos que não seria um Natal normal. Agora vamos ter de tentar nos conectar de forma diferente com nossos entes queridos. Vai ser um momento difícil."

Muitos canadenses que voam pelo país para ver a família ou escapar para os trópicos, em busca de algumas semanas de sol precioso, cancelaram essas viagens. Cerca de 70 por cento dos 110 mil canadenses que normalmente vão para a Flórida, a Califórnia e o Arizona no inverno – conhecidos como pássaros da neve –, decidiram ficar, de acordo com o porta-voz da Associação Canadense de Pássaros da Neve, Evan Rachkovsky.

Com isso, cresceu o número de compradores de pinheiros – aumentando as vendas em todo o país em 25 por cento, informou Shirley Brennan, diretora executiva da Associação Canadense de Árvores de Natal, um grupo de produtores. "As pessoas querem esperança. As árvores de Natal lhes dão esperança", observou ela.

Essa mesma motivação parece prevalecer no Reino Unido, em vários países da Europa Ocidental e em partes dos Estados Unidos, onde a demanda por árvores – em fazendas, lojas e on-line – está batendo recordes.

No Canadá, o aumento não é apenas o resultado da onda de compras causada pelo bloqueio; é parte de uma tendência. Nos últimos cinco anos, as vendas nas fazendas de árvores de Natal canadenses mais do que dobraram, para US$ 108 milhões, ou 138 milhões de dólares canadenses, em 2019. Isso coincidiu com uma oferta menor, particularmente nos Estados Unidos, onde a recessão de 2008 acabou com muitas fazendas de árvores e fez com que outras plantassem menos.

Como o pinheiro de Natal perfeito leva cerca de dez anos para crescer, o mercado ainda está sentindo os resultados, explicou Doug Drysdale, que os cultiva. Cerca de metade das vendas de árvores canadenses segue para os Estados Unidos, de acordo com a Statistics Canada. "Os EUA estão com pouquíssimas árvores", disse Drysdale, cuja Drysdale Tree Farms está entre as maiores operações de árvores de Natal do país. Dois atacadistas americanos o contataram em agosto, cada um querendo 50 mil árvores – segundo ele, o suficiente para acabar com todo o seu estoque por anos.

No primeiro sábado de dezembro, que é oficialmente o Dia da Árvore de Natal em Ontário, dois estacionamentos em frente à fazenda de Drysdale, uma hora ao norte de Toronto, estavam lotados de carros. Este ano, por causa das preocupações com o coronavírus, Drysdale não ofereceu seus habituais eventos natalinos – músicas, Papai Noel para as crianças, passeios de carruagem pela floresta ou fogueiras para assar marshmallows. Mas, aparentemente, isso não importou.

"Estamos todos presos em casa. Todo mundo precisa de algo para se animar. Esta é uma maneira", afirmou John Grogan, eletricista aposentado de 67 anos, em uma longa fila de famílias, esperando para embarcar em uma charrete para ser levado aos campos de pinheiros.

Os netos de Grogan brincavam com ele, usando máscara. Ele contou que, desde que as taxas de coronavírus começaram a aumentar na área, eles pararam de visitá-lo, para não infectar a ele ou à sua esposa. "Esta é a nossa oportunidade de estarmos juntos novamente", comemorou.

Para alguns produtores como Drysdale, a fase da árvore de Natal veio como um impulso bem-vindo para os lucros, porque aumentaram os preços dos pinheiros. Para outros, simplesmente significou campos vazios.

"Quando terminarmos, terminamos", disse Matthew Whitney, que administra uma pequena fazenda de pinheiros três horas a oeste de Toronto. "Só podemos plantar determinado número de árvores por ano. Temos de ser rigorosos, por isso não vendo as que serão para o ano que vem." O espírito natalino o impediu de aumentar os preços – foi um ano difícil para todos, afirmou ele, "e as pessoas não têm tanto dinheiro quanto normalmente têm".

Depois de apenas dois fins de semana aberto, Whitney vendeu todas as 600 árvores, cerca de metade para novos clientes que nunca haviam comprado uma de verdade antes. Isso significa que ele e a esposa terão uma temporada de Natal diferente, sem a agitação dos clientes vindo à sua fazenda. "Essa é uma mudança boa. Podemos sentar e aproveitar", garantiu ele.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Acompanhe tudo sobre:CanadáCoronavírusDecoraçãoNatalPandemia

Mais de Casual

Sexy repaginado: Calendário Pirelli traz nudez de volta às páginas — e dessa vez, não só a feminina

12 restaurantes que inauguraram em 2024 em São Paulo

João Fonseca bate Van Assche e vai à final do Next Gen Finals

Guia de verão no Rio: dicas de passeios, praias, bares e novidades da estação