Caetano se despede da turnê de "Abraçaço"
Apresentação marcou também o fim de pequena turnê pouco usual do baiano pela capital paulista
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2015 às 11h16.
São Paulo - São quase 10 anos desde a última reinvenção. De 2009 até aqui, Caetano Veloso experimentou um reencontro com uma juventude que sequer havia nascido quando ele passou pelo período de exílio, em Londres , ou quando lançou um dos seus discos mais celebrados, Transa, de 1972.
Quando o sol foi embora, ao fim da tarde deste domingo, 7, levou consigo o fim dessa era.
Caetano despediu-se desse repertório concebido em companhia da Banda Cê diante de 11 mil pessoas que se reuniram no Sesc Itaquera, em uma disputada performance gratuita.
A apresentação marcou também o fim de pequena turnê pouco usual do baiano pela capital paulista.
Aqui, ele está acostumado a se apresentar diante de um público acomodado em cadeiras, distribuído ao redor de mesas espalhadas pelo salão.
Nas noites de quarta até sábado, contudo, Caetano experimentou o aconchego da Choperia do Sesc Pompeia, com ingressos a R$ 60 e esgotados em instantes.
Foi, então, acrescentado mais um show nesta última parte da turnê, marcado para este domingo, a céu aberto.
Meia hora antes da marcada para o início da apresentação, uma verdadeira peregrinação tomava conta da rua de acesso ao portão principal do Parque do Carmo, onde está localizado o Sesc Itaquera.
Gente de 30 e poucos anos subia a ladeira, rapazes de barba por fazer, garotas de vestido. Uns fumavam cigarro, outros carregam cerveja.
Este mesmo local recebeu outros tropicalistas, como Gal Costa e Maria Bethânia, recentemente. Nenhuma das duas foi capaz de se conectar com a juventude como Caê o fez, nesta última década.
De um projeto que nasceu da inspiração em conjunto com Pedro Sá, regada a discos do Pixies, a Banda Cê foi criada. Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), integrantes do grupo Do Amor, chegaram para completar o quarteto. A versão de Caetano é rock.
Há quem diga que o músico baiano se apropriou da juventude alheia, como um vampiro que sorve o sangue dos mais jovens para frear o envelhecimento.
Esquecem-se, contudo, da necessidade de reinvenção natural. Soa estranho, quando se compara o reinventivo Caetano com outros músicos da sua geração, brasileiros ou não, estagnados em uma mesma tecla.
O baiano, como músico, não se deixa levar pelo modus operandi geral.
A trilogia dos discos Cê (2006), Zii & Zie (2009) e Abraçaço (2012) escancaram isso.
A turnê de Abraçaço já dura três anos e sofreu alterações ao longo desse tempo, como é natural. Daquela primeira performance em território paulistano, no HSBC Brasil, muito foi transformado.
Ou melhor, adaptado. A Bossa Nova É Foda ainda abre a apresentação, mas a ordem das canções foi adaptada, clássicos como Baby, Quando o Galo Cantou, Triste Bahia, figuram entre as dez primeiras músicas da noite.
A nova safra, contudo, é a grande estrela dessa turnê. Reinventado, Caê é capaz de fazer o público cantar com a mesma intensidade Estou Triste e Triste Bahia.
Odeio, do álbum Cê, é roqueira, cheia de frescor e rancor, e aplaudidíssima pelo público presente.
Cê era um álbum rancoroso na temática, fatalista e inovador. Musicalmente, Caetano foi ainda mais longe em Zii & Zie, com o que ele chamou de transsambas.
Por fim, Abraçaço é um comovente encerramento, com o rancor do coração partido cicatrizado, mas com marcas ainda visíveis.
O terreno em aclive localizado em frente ao Palco da Orquestra deixa a experiência pessoal, intimista, compartilhada por 11 mil presentes aqui. Odores múltiplos se misturavam de maneira curiosa, de mexerica a maconha.
Protesto e trânsito
A distância do Sesc Itaquera do centro da capital e a ausência de vagas de estacionamento para as 11 mil pessoas ali presentes criaram engarrafamentos.
Carros permaneceram estacionados em frente à entrada principal do Sesc, no único ponto onde eram avisados que o estacionamento com 1,1 mil vagas estava lotado.
Já ao início do show, uma faixa que estampava o nome do estado da Palestina foi estendida, em protesto contra o futuro show de Caetano e Gilberto Gil em Israel. Se ele a viu, nada disse. A versão 2015 de Caetano não quer confusão.
Você Não Entende Nada encerrou a performance, arrebatadora, como deveria, mas ainda há espaço para um bis com outras: Força Estranha, Sampa e A Luz de Tieta. Três clássicos, igualmente marcantes.
Baiano, hoje morador do Rio de Janeiro, Caetano entendeu como poucos a alma paulistana quando lançou Sampa.
A faixa, soa geograficamente equivocada, não há mais encanamento no cruzamento das Avenidas São João e Ipiranga.
Sequer temos uma Rita Lee, como sua completa tradução. Mas é atemporal no sentimento.
Cantada em um show gratuito, em um Sesc no extremo leste da cidade, soa tão atual. São Paulo, afinal, é isso, essa mistura descentralizada, heterogênea, como vista naquele gramado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo - São quase 10 anos desde a última reinvenção. De 2009 até aqui, Caetano Veloso experimentou um reencontro com uma juventude que sequer havia nascido quando ele passou pelo período de exílio, em Londres , ou quando lançou um dos seus discos mais celebrados, Transa, de 1972.
Quando o sol foi embora, ao fim da tarde deste domingo, 7, levou consigo o fim dessa era.
Caetano despediu-se desse repertório concebido em companhia da Banda Cê diante de 11 mil pessoas que se reuniram no Sesc Itaquera, em uma disputada performance gratuita.
A apresentação marcou também o fim de pequena turnê pouco usual do baiano pela capital paulista.
Aqui, ele está acostumado a se apresentar diante de um público acomodado em cadeiras, distribuído ao redor de mesas espalhadas pelo salão.
Nas noites de quarta até sábado, contudo, Caetano experimentou o aconchego da Choperia do Sesc Pompeia, com ingressos a R$ 60 e esgotados em instantes.
Foi, então, acrescentado mais um show nesta última parte da turnê, marcado para este domingo, a céu aberto.
Meia hora antes da marcada para o início da apresentação, uma verdadeira peregrinação tomava conta da rua de acesso ao portão principal do Parque do Carmo, onde está localizado o Sesc Itaquera.
Gente de 30 e poucos anos subia a ladeira, rapazes de barba por fazer, garotas de vestido. Uns fumavam cigarro, outros carregam cerveja.
Este mesmo local recebeu outros tropicalistas, como Gal Costa e Maria Bethânia, recentemente. Nenhuma das duas foi capaz de se conectar com a juventude como Caê o fez, nesta última década.
De um projeto que nasceu da inspiração em conjunto com Pedro Sá, regada a discos do Pixies, a Banda Cê foi criada. Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), integrantes do grupo Do Amor, chegaram para completar o quarteto. A versão de Caetano é rock.
Há quem diga que o músico baiano se apropriou da juventude alheia, como um vampiro que sorve o sangue dos mais jovens para frear o envelhecimento.
Esquecem-se, contudo, da necessidade de reinvenção natural. Soa estranho, quando se compara o reinventivo Caetano com outros músicos da sua geração, brasileiros ou não, estagnados em uma mesma tecla.
O baiano, como músico, não se deixa levar pelo modus operandi geral.
A trilogia dos discos Cê (2006), Zii & Zie (2009) e Abraçaço (2012) escancaram isso.
A turnê de Abraçaço já dura três anos e sofreu alterações ao longo desse tempo, como é natural. Daquela primeira performance em território paulistano, no HSBC Brasil, muito foi transformado.
Ou melhor, adaptado. A Bossa Nova É Foda ainda abre a apresentação, mas a ordem das canções foi adaptada, clássicos como Baby, Quando o Galo Cantou, Triste Bahia, figuram entre as dez primeiras músicas da noite.
A nova safra, contudo, é a grande estrela dessa turnê. Reinventado, Caê é capaz de fazer o público cantar com a mesma intensidade Estou Triste e Triste Bahia.
Odeio, do álbum Cê, é roqueira, cheia de frescor e rancor, e aplaudidíssima pelo público presente.
Cê era um álbum rancoroso na temática, fatalista e inovador. Musicalmente, Caetano foi ainda mais longe em Zii & Zie, com o que ele chamou de transsambas.
Por fim, Abraçaço é um comovente encerramento, com o rancor do coração partido cicatrizado, mas com marcas ainda visíveis.
O terreno em aclive localizado em frente ao Palco da Orquestra deixa a experiência pessoal, intimista, compartilhada por 11 mil presentes aqui. Odores múltiplos se misturavam de maneira curiosa, de mexerica a maconha.
Protesto e trânsito
A distância do Sesc Itaquera do centro da capital e a ausência de vagas de estacionamento para as 11 mil pessoas ali presentes criaram engarrafamentos.
Carros permaneceram estacionados em frente à entrada principal do Sesc, no único ponto onde eram avisados que o estacionamento com 1,1 mil vagas estava lotado.
Já ao início do show, uma faixa que estampava o nome do estado da Palestina foi estendida, em protesto contra o futuro show de Caetano e Gilberto Gil em Israel. Se ele a viu, nada disse. A versão 2015 de Caetano não quer confusão.
Você Não Entende Nada encerrou a performance, arrebatadora, como deveria, mas ainda há espaço para um bis com outras: Força Estranha, Sampa e A Luz de Tieta. Três clássicos, igualmente marcantes.
Baiano, hoje morador do Rio de Janeiro, Caetano entendeu como poucos a alma paulistana quando lançou Sampa.
A faixa, soa geograficamente equivocada, não há mais encanamento no cruzamento das Avenidas São João e Ipiranga.
Sequer temos uma Rita Lee, como sua completa tradução. Mas é atemporal no sentimento.
Cantada em um show gratuito, em um Sesc no extremo leste da cidade, soa tão atual. São Paulo, afinal, é isso, essa mistura descentralizada, heterogênea, como vista naquele gramado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.