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Beevor destaca canibalismo do Exército japonês em novo livro

Segundo Beevor, esse foi um dos aspectos que mais lhe surpreendeu durante a pesquisa elaborada para a realização de ''A Segunda Guerra Mundial''


	Historiador Antony Beevor: ''É óbvio que todos os exércitos tiveram tentações de cometer crimes, mas alguns mantiveram certas coerências e proporções''
 (Getty Images)

Historiador Antony Beevor: ''É óbvio que todos os exércitos tiveram tentações de cometer crimes, mas alguns mantiveram certas coerências e proporções'' (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2012 às 20h36.

Madri - Durante a Segunda Guerra Mundial, ''os japoneses praticaram uma política de canibalismo com seus prisioneiros de guerra e, inclusive, com seus compatriotas mortos em combate'', explicou nesta terça-feira em entrevista à Agência Efe o historiador britânico Antony Beevor.

Segundo Beevor, esse foi um dos aspectos que mais lhe surpreendeu durante a pesquisa elaborada para a realização de ''A Segunda Guerra Mundial'' (The Second World War), um livro que não pretende ser ''o definitivo'', mas sim lançar um olhar global baseado em sua experiência como escritor e como ex-militar.

Esse canibalismo era um fato que Beevor não conhecia. Os americanos e os australianos decidiram não dizer nada no final da guerra pelo choque que essa notícia poderia causar entre os familiares dos prisioneiros, explicou o historiador à Agência Efe em Madri, onde hoje apresenta seu novo livro.

Trata-se de uma prática que demonstra toda a crueldade do ''extremamente militarizado'' Exército japonês, que humilhava os soldados e usava toda a ''fúria absorvida nas batalhas para se vingar contra os soldados vencidos''.

Apesar de ainda não ser uma notícia pública e de massa, somente uma nova geração de jovens historiadores japoneses tiveram coragem de trazer este fato à tona, explica Beevor.

''É óbvio que todos os exércitos tiveram tentações de cometer crimes, mas alguns mantiveram certas coerências e proporções. No entanto, há diferentes pautas de comportamento. Nem todos os Exércitos foram iguais'', completa o historiador.

Outro fato que surpreendeu Beevor foi o ''terrível sacrifício'' que os comandantes soviéticos infligiram a suas tropas na operação de distração durante a batalha de Stalingrado, que aconteceu para distrair os alemães e supôs a morte de 250 mil russos.

''Sacrificaram mais homens que os britânicos e os americanos juntos no Dia D'', revelou Beevor.


Atrocidades existem em todas as guerras, embora o canibalismo dos japoneses é, sem dúvida, o fato mais terrível que Antony Beevor conta em seu novo livro, uma vasta obra que já foi lançada na Colômbia, na Argentina, no México e que, segundo o próprio autor, será publicado em toda América Latina.

Com mais de 30 anos de dedicação ao conflito militar mais amplo e sangrento da história, Beevor, neste livro com mais de mil páginas, resgata informações tiradas dos arquivos russos, alemães e, principalmente, franceses.

Apesar do excesso de fatos, o autor conseguiu achar uma estrutura para não se ''afogar'', um fato que, segundo o próprio autor, só foi possível graças a sua experiência prévia com livros como ''Stalingrado'' (2000) e ''Berlim: A queda 1945'' (2002), autênticos ''best sellers'' de nível mundial.

Neste novo lançamento, Beevor volta a recorrer ao elemento mais característico da escritura: uma mistura entre as épicas narrações das batalhas e das grandes discussões políticas com os detalhes mais humanos e desumanos das vítimas e carrascos da guerra.

Uma história que Beevor começa a contar na frente oriental, na guerra entre chineses e japoneses, um primeiro exemplo das atrocidades que cometeriam os japoneses, que em Nanjing mataram entre 200 mil e 300 mil chineses da maneira mais cruel, sem distinguir sexo e idade.

Se Beevor decidiu começar por essa parte da história é porque pensa que isso condicionou todo o desenvolvimento posterior de um conflito que se caracterizou por incluir ''elementos de uma guerra civil internacional'' e que, na realidade, foi ''um conglomerado de diferentes conflitos''.


''Me senti muito lisonjeado quando disseram que este era o livro definitivo sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas, na verdade, não é assim. Sempre haverá novos elementos. Os arquivos da Rússia são enormes e só puderam ser consultados entre 1995 e 2000, enquanto o dos japoneses não deixam pesquisadores estrangeiros consultar os seus'', ressaltou Beevor.

Apesar de ainda existir muitas coisas por descobrir, Beevor aponta que o mais intrigante de seu livro são as histórias individuais, muitas delas tiradas de testemunhos de combatentes franceses cujos descendentes entregaram suas cartas às autoridades.

Através dessas histórias pessoais, o leitor se identifica mais facilmente com uns fatos que ultrapassam o entendimento, sendo que esse tipo de narração é o que fez de Beevor um dos historiadores mais lidos na atualidade.

''Hoje em dia, eu não entendo como fizemos para viver nas trincheiras, no descoberto, na neve, congelados de frio e sem tirar jamais os sapatos e a roupa. Isso sem ter água e sem ter nada com que se esquentar''. Este é o testemunho de um oficial do Exército Vermelho que se une a outros muitos em uma obra imprescindível para quem deseja entender o que ocorreu com mundo no século XX. 

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