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B.B. King é personagem-chave para entender o blues

King aprendeu o gênero e o deglutiu ainda em seu berço rural no Delta do Mississipi para depois ser responsável por sua urbanização

B.B. King se apresenta em 2006: o músico levava ao delírio as plateias negras e ao mesmo tempo conquistava os brancos empertigados (REUTERS/Rafael Marchante/Files)
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Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2015 às 14h39.

São Paulo - Mitos crescem na medida em que estão mais distantes e etéreos, inalcançáveis, impalpáveis. Deles, curtimos a aura apenas. Bem mais complicado é viver como um mito, entre nós, anônimos habitantes do planeta.

B.B. King, o rotundo dono de Lucille - sua idolatrada guitarra, o mais famoso instrumento do mundo do blues - brilha entre os bluesmen, contracena com mitos pop como Bono, Santana, Eric Clapton ou com cantoras de jazz como Diane Schuur.

Espalha sua arte única com generosidade, sem nenhuma parcimônia.

Compartilha seu talento com todo mundo, como reza o espírito comunitário que viu nascer o gênero, ainda nos campos de algodão, nas décadas finais do século 19.

Os escravos obrigados a cantar hinos religiosos protestantes junto com seus donos preservavam sua música nos dias de trabalho duro e nas noites regadas a Bourbon.

A música divina (o gospel) gerou de suas entranhas a música do diabo (o blues), já rezava um clássico blues de Robert Johnson.

Formalmente, o blues é o gênero mais simples das músicas populares, com seus doze compassos e uma harmonia de três acordes. Mas a bem comportada harmonia da música europeia branca misturou-se com as escalas africanas, gerando as "blue notes" que fazem a glória dos grandes guitarristas - como B.B. King.

Uma forma decisiva para os partos do jazz, seu filho dileto no início do século 20, e do rock, seu neto, já nos anos 50.

King é personagem-chave do blues porque aprendeu o gênero e o deglutiu ainda em seu berço rural no Delta do Mississipi; e, logo depois da Segunda Guerra Mundial, foi um dos grandes, se não o maior, responsável por sua urbanização.

Trocou os anéis e as cordas de arame pelas nascentes guitarras, muito mais poderosas.

Mas manteve as raízes intactas. Por exemplo, o gospel, sempre presente em seu jeito de cantar cheio de fervor (religioso, diriam os mais fanáticos, mesmo com temas libidinosos). Por outro lado, absorveu as "modernidades" urbanas.

Encantou-se com a guitarra elétrica de Charlie Christian e de T. Bone Walker. Mas não os imitou.

Criou um estilo próprio, de longas notas lancinantes e vibratos muito amplos. Imagine alguém capaz de fundir, no toque e na voz, as raízes com um refinamento inesperado.

Desse modo, B.B. King levava ao delírio as plateias negras e ao mesmo tempo conquistava os brancos empertigados.

Ele gravou centenas de discos ao longo de mais de meio século de carreira. Existem muitas coletâneas "best of". Melhor ficar com dois "meetings".

Primeiro, o "summit" inigualável, gravado em 2000, com Eric Clapton.

"Riding with the King" compõe-se de 12 clássicos do blues, como "Ten long years", "Worried life Blues", "Three O'Clock Blues" e, claro, a faixa-título. Antológico.

E em "Heart to Heart", CD de 1994, a Lucille de King namora com o piano e a voz de Diane Schuur. Eles cantam e tocam de tudo. Até "I can’t stop loving you" e "It had to be you", evocando outro gênio, Ray Charles, de percurso semelhante ao de King: transplantou o balanço gospel para o rhythm’n’blues.

Sozinho, com Clapton ou Schuur, ele jamais perde a realeza. Pudera, ele "é" o blues encarnado.

São Paulo - O blues perdeu, na última quinta-feira, seu maior ícone. BB King, reconhecido como o "Rei do Blues", morreu aos 89 anos, devido a uma desidratação causada pela diabetes tipo 2. O legado de sua carreira, iniciada em 1949, serve de inspiração para músicos e fãs do mundo todo. Nas imagens da galeria, você confere algumas das maiores canções já tocadas por esse exímio guitarrista, marcado pelos solos lentos e precisos.
  • 2. "Three OClock Blues"

    2 /12

  • Veja também

    Gravada pelo "Rei do Blues" em 1952, a música "Three O'Clock Blues" marcou o início de seu sucesso na carreira. O hit havia sido gravado pela primeira vez em 1946, por Lowell Fulson, mas foi nas mãos de BB King que se tornou um dos sons de R&B mais vendidos. se tornou um
  • 3. "The Thrill Is Gone"

    3 /12

  • Embora "The Thrill is Gone" tenha tido bastante sucesso na versão de seus criadores originais, Roy Hawkins e Rick Darnell (1951), a versão de BB King gravada em 1969 foi a que consagrou a canção. Hoje, a faixa está na posição 185º da lista das 500 melhores músicas de todos os tempos, da revista Rolling Stone.
  • 4. "When Love Comes to Town"

    4 /12

    A música "When Love Comes to Town", realizada em parceria com a banda de rock U2, é fruto de uma tentativa de BB King se aproximar mais do público jovem. O hit foi lançado em 1989, no álbum Rattle and Hum, do U2.
  • 5. "Every Day I Have the Blues"

    5 /12

    "Every Day I Have the Blues" foi lançada pela primeira vez em 1935, pelos irmãos Sparks. Mais tarde, foi apropriada por BB King e vários outros artistas, que fizeram diferentes versões da melodia.
  • 6. "Dont Answer The Door"

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    "Don't Answer The Door" é outra canção de sucesso que marcou a carreira de BB King. Escrita por Jimmy Johnson, a música foi lançada em 1966, quando o guitarrista já havia alcançado sua maturidade de estilo.
  • 7. "How Blue Can You Get"

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    "How Blue Can You Get" foi gravada pela primeira vez pelo grupo musical Johnny Moore's Three Blazers, em 1949. Quinze anos depois, BB King emprestou sua voz e sua guitarra para a canção, que ganhou o público e foi um dos maiores destaques das paradas de 1964.
  • 8. "Sweet Little Angel"

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    A música "Sweet Little Angel" também é conhecida pelos nomes "Black Angel Blues" e "Sweet Black Angel" e foi gravada pela primeira vez em 1930, por Lucille Bogan. Já em 1956, o "Rei do Blues" fez sua própria versão, marcada por um extenso solo de guitarra logo no começo.
  • 9. "Since I Met You Baby"

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    Escrita e gravada pelo pianista Ivory Joe Hunter, a música "Since I Met You Baby" foi reproduzida em várias versões e uma delas é de BB King, em parceria com Gary Moore. A releitura da canção fez grande sucesso e, em 1992, ficou entre os maiores sucessos das paradas musicais do Reino Unido.
  • 10. "Rock Me Baby"

    10 /12

    "Rock Me Baby" foi lançada em 1964 por BB King e logo se tornou um de seus maiores sucessos. Atualmente, é uma das músicas de blues mais gravadas por outros artistas. Em 1997, a faixa foi gravada por ele novamente, em parceria com Eric Clapton, para o álbum Deuces Wild.
  • 11. "Chains and Things"

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    "Chains and Things" foi lançada por BB King no álbum Indianola Mississippi Seeds, de 1970. O single ficou entre as melhores músicas pop e de R&B do ano de 1970, nas paradas da Billboard.
  • 12. Veja, agora:

    12 /12(SBT / Divulgação)

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