A Pirelli celebra arte, fotografia e esportes no aniversário de 150 anos
Na comemoração da data, a fabricante italiana de pneus reforça a ligação com concertos, exposições e competições que vão além do automobilismo
Ivan Padilla
Publicado em 28 de janeiro de 2022 às 16h14.
Última atualização em 28 de janeiro de 2022 às 16h36.
O logo da Pirelli está estampado na capa do famoso calendário da marca publicado desde 1963, por fotógrafos como Annie Leibovitz, Peter Lindbergh, Tim Walker; na vela do Luna Rossa, que disputa a America’s Cup; em esportes de inverno do World Ski Championships, modalidades que não dependem de carros e nem de estradas; e em concertos, em exposições de arte, na literatura.
São muitas as associações da marca que vão além do pneu, talvez um dos produtos mais funcionais, porém sem graça, inventados pela humanidade. Transformar a Pirelli em um atributo de arte é uma das conquistas comemoradas no aniversário de 150 anos da companhia, que teve início hoje de manhã com um filme apresentado ao vivo por streaming, para todos os mercados, diretamente do Piccolo Teatro de Milão.
O vídeo de apresentação no início do evento foi um countdown para as comemorações de aniversário da marca. As cenas passam por Xangai, Nova York, Veneza, Milão – mas começam no Rio de Janeiro. De acordo com a marca, pessoas no Brasil pensam que a Pirelli é brasileira, e isso acontece também em alguns outros mercados.
“Pirelli é uma das marcas mais conhecidas no Brasil. Isso porque estamos lá há mais de 80 anos, somos líder de mercado, nossos produtos são usados por todas as pessoas, todos os dias”, disse Marco Tronchetti Provera, vice chairman executivo e CEO da Pirelli, em uma entrevista para poucos jornalistas, da qual Casual EXAME participou.
“Estamos em uma série de provas esportivas, corridas, somos parte da economia brasileira”, afirmou Tronchetti, elegantemente vestido em um costume risca de giz. “O Brasil é um mercado importantissimo para a Pirelli. Acreditamos no futuro do país, que é jovem, continuaremos nossa aventura por aí na próxima década.”
A apresentação no Piccolo Teatro foi feita em italiano. Não é algo usual em multinacionais, que costumam adotar o inglês como língua oficial nos grandes eventos internacionais. As raízes milanesas da marca costumam mesmo ser celebradas.
Um novo logo, revelado em novembro no lançamento do calendário Pirelli de 2022, foi criado para as comemorações dos 150 anos. A história da marca começa em 1872, com a aposta em um material então absolutamente novo, a borracha. No início, a empresa produzia isoladores para telégrafos e cabos que ligavam os pontos mais distantes da recém-nascida Itália. O portfólio se expandiu para objetos de uso cotidiano, como toucas de natação, brinquedos e capas de chuva, e também pneus para vagões e bicicletas em resposta a essas primeiras formas de mobilidade.
A Pirelli acompanhou o progresso do país. O moderno arranha-céu da Pirelli, o Pirellone, virou um símbolo de Milão e foi até a década de 1960 a sede da empresa, que se mudou para uma área ao norte da cidade conhecida como Bicocca. Até hoje o Pirellone mantém o nome.
Tropeços aconteceram em alguns momentos, resultado das próprias ambições, como as fusões fracassadas na década de 1990 com a Dunlop e a Continental e o plano de integração de redes e conteúdo em telecomunicações. Outro fato incomum: esses e outros fracassos foram lembrados no evento da marca, momentos em geral reservados pelas empresas ao auto-elogio.
A Pirelli leva seu acento italiano para o mundo. A empresa conta hoje com 18 fábricas, tão eficientes quanto bonitas, que seguem a linha da planta de Settimo Torinese, em Turim, projetada e construída pelo arquiteto Renzo Piano. No palco do Piccolo Teatro, Pinao explicou como aliar funcionalidade com beleza, competitividade e sustentabilidade.
Em sua jornada nesses 150 anos, a companhia procurou abrir diálogo com artistas e intelectuais por meio de instrumentos como a Rivista Pirelli, que trazia textos e entrevistas com personalidades como Umberto Eco e Eugenio Montale; o calendário Pirelli, como já comentamos, um local de experimentações para fotógrafos geniais por vezes presos aos padrões engessados das revistas de moda; e o Pirelli HangarBicocca e a Fondazione Pirelli, espaços dedicados à arte.
Mas talvez o automobilismo seja o palco mais confortável para a marca de neumáticos, uma área em que a evolução da tecnologia se mostra fundamental. Hoje a Pirelli está presente em mais de 350 competições de corrida automotiva, entre modalidades tão diversas quanto GT, rallies, superbike e Fórmula 1.
Nao é educado falar de dinheiro em uma festa. A comemoração no Piccolo Teatro passou mais pelos feitos (e tropeços) da marca, a associação com as artes, com os esportes. Terminada a celebração, porém, temos a liberdade para analisar os números recentes da empresa, sem incorrer em indelicadezas. Em 2020, como esperado devido à pandemia do coronavírus, o resultado apresentou queda. O faturamento ficou em 4,3 bilhões euros, 19,2% a menos do que o registrado em 2019, de 5,3 bilhões de de euros. O Ebtida caiu de 917 milhões para 501 milhões de euros.
O ano passado já foi de reação. Até o terceiro trimestre de 2021 (o balanço anual ainda não foi publicado), a Pirelli havia registrado um faturamento de 4 bilhões de euros – em 2020, no mesmo período, foram 3 bilhões. O Ebtida nesses novo primeiros meses de 2021 foi de 599 milhões de euros.
Como a Pirelli está se preparando para os próximos 50 anos? “Os carros não estarão voando, acho que continuaremos a fazer pneus”, disse Tronchetti na entrevista. “Teremos avanços em tecnologias, em eletrônica, preocupação com o ambiente. Continuaremos a usar big data e inteligência artificial para prevenir e reagir a situações adversas.”
Tronchetti dá como exemplo uma situação de aquaplanagem. “Graças ao nosso banco de dados digitais e informações em tempo real, sabemos como o carro se comporta nessa situação, qual o peso adequado do pneu para evitar a perda de controle do carro, um acidente. Continuaremos evoluindo em tecnologia, esse é o futuro.”
“Fantástico, espero encontrar o senhor novamente em 2072”, agradeceu, bem humorado, o repórter que fez a pergunta.
Ao que Tronchetti, um refinado senhor do alto de seus 74 anos, respondeu: “Estarei aqui.”
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