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"A definição de sucesso mudou", diz Camila Coutinho

"As pessoas precisam, cada vez mais, acreditar na ideia delas. O mundo agora está muito mais propenso para o empreendedorismo", diz a empresária

A empresária e blogueira Camila Coutinho (Jamie McCarthy/Getty Images)

A empresária e blogueira Camila Coutinho (Jamie McCarthy/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de maio de 2018 às 15h30.

Em uma noite de insônia, a pernambucana Camila Coutinho decidiu criar um blog para compartilhar com as amigas os babados do mundo dos famosos. Ali, ela falava sobre Paris Hilton, Lindsay Lohan e outras celebridades que estavam no auge da fama em 2006 e colocou um nome bem provocativo, para cutucar justamente quem fala mal desse tipo de conteúdo. Nascia assim o "Garotas Estúpidas", percursos dos blogs de moda brasileiros que hoje é uma referência no mercado.

De lá para cá, muita água rolou. A empresária se tornou um veículo separado do blog, ela lançou uma série de produtos licenciados, esteve presente nas semanas de moda mais conceituadas do mundo, como Milão e Paris, trabalhou com marcas como Calvin Klein e Adidas e figura na lista do Business of Fashion como uma das 500 pessoas mais influentes da moda. Agora, ela lança o livro Estúpida, Eu?, que narra esta trajetória de sucesso e faz um paralelo com as mudanças do mercado nesse tempo e lança nesta quarta, 9. Ao E+, ela falou sobre o livro, ser blogueira, e dá a dica: "Tem que manter o pé no chão e ficar atenta ao que está ao redor. Não pode deixar o ego te cegar."

Você não quis que o "Estúpida, Eu?" fosse só sobre você...

Tem aquela coisa da autobiografia, que os meus leitores esperam, mas não é todo sobre mim. Como eu digo no primeiro capítulo, é sobre uma mudança de comportamento que aconteceu. Eu fui a primeira do mercado, mas o movimento é maior do que uma conquista individual.Não queria que fosse uma egotrip, queria que fosse algo útil, que minha audiência gostasse, e que as pessoas, não só de moda, mas de outros mercados, conseguissem tirar proveito dele.

Então, sobre o que é o livro?

É um livro sobre meus 12 anos de carreira, sobre as mudanças do mercado, mas também sobre paixão. A gente tem que olhar para o que fazemos com os mesmos olhos que olhamos tudo na vida. Os formatos mudaram, a definição de sucesso mudou, não é mais sobre dinheiro, as pessoas querem realizar coisas, deixar sua marca. As pessoas precisam, cada vez mais, acreditar na ideia delas. O mundo agora está muito mais propenso para o empreendedorismo.

Como foi o seu processo de escrita?

Fiz tudo sozinha. Sou controladora, então se alguém escrevesse uma vírgula, eu iria querer mudar. Preferi demorar um pouco mais e fazer tudo sozinha. Estou acostumada a escrever posts há mais de dez anos, e não falo no sentido de pouco texto, porque o Garotas Estúpidas sempre foi um blog com muito mais texto, mas pela duração mais rápida. Foi interessante pensar em um conteúdo mais atemporal. Gostei muito do processo, fiquei com vontade de fazer mais.

Você começou em uma época que ter um blog não era profissão e hoje muita gente vive disso. Como você viu todo esse crescimento?

Quando eu comecei, não existia blog de moda. Nos Estados Unidos já tinham alguns de celebridade, mas no Brasil o blog era aquele formato de diário. O meu mesmo começou como blog de celebridade, depois de um ano foi ficando mais moda. Eu vi toda a transformação do mercado, nunca imaginei que seria personagem do meu próprio veículo, ali era um espaço para eu falar de outras pessoas.

E hoje a persona Camila Coutinho é um produto separado do Garotas Estúpidas. Por quê?

Comeceia ver que quando eu aparecia nos posts, tinha muito mais engajamento do que uma celebridade. Achava muito engraçado porque, entre Britney Spears e eu, quem quer saber da minha vida? Foi nesse momento que as blogueiras começaram a falar em primeira pessoa e teve um boom do mercado no Brasil. Aí a blogueira virou um personagem, transcendendo o blog.

No meu caso, como eu comecei antes do blog de look do dia - a maioria deles era 'blog de não sei quem'-, percebi que tinha dois produtos na mão. Separando, dei uma vida pro GE e a Camila teve uma independência. Óbvio que caminhamos juntos, mas cada um tem seus projetos e linguagens independentes. Se eu faço uma campanha pra eu produto de cabelo, por exemplo, eu tenho exclusividade, mas o blog não fica fechado. Assim, consigo preservar a liberdade editorial dele.

E como é ganhar dinheiro com sua imagem?

Eu acho uma delícia, foi no seu tempo, foi evoluindo, era um hobby que virou trabalho. Tem muitos mais prós do que contras, mas tenho que colocar um limite no que vou expor. O meu perfil é mais discreto, tem gente que mostra mais, o que também é legal, cada um tem seu limite. Mas quando o negócio depende da sua imagem, é bem intenso, porque depende de você alimentar, estar em certos lugares, conhecer pessoas. É interessante pensar nesse balanço. Estamos em um momento que as pessoas estão reavaliando algumas coisas, percebendo que também tem que pensar na vida pessoal.

Sua profissão é influenciar pessoas, mas quem te inspira?

Olha, eu tenho três pessoas que gosto muito. A primeira é Costanza (Pascolato, que assina o prefácio do livro) que é referência nesse sentido de reinvenção. Ela é um ícone, todo mundo sabe quem ela é, a geração de agora e as mais antiga. Ela soube atravessar as gerações, entende como o mundo funciona. Não faz tudo por audiência, está se atualizando e reinventando. Ela vai nos desfiles, tem uma energia que eu não sei como. Sou muito fã.

Tem a Chiara (Ferragni, do blog The Blond Salad). Gosto muito como ela encara sua carreira, é muito mulher de negócio, é referência. Em termos de conteúdo eu tenho gostado muito da Irene Kim, uma ex-modelo coreana. Ela é da mesma agência que eu nos Estados Unidos, a The Society. Eu acho ela linda, ela tem o cabelo colorido, faz umas coisas editoriais, só que ao mesmo tempo ela posta foto sem maquiagem, mostra que a pele dela hoje é linda, mas nem sempre foi. A gente está no momento da vulnerabilidade.

As pessoas acham que ser blogueira é ter uma vida de luxos, é verdade?

É um negócio, não um oba-oba. Para chegar a um patamar conceituado, ter credibilidade, e que você seja referência, tem muito trabalho por trás,e você só chega lá quando vai além. Tem que se esforçar e querer muito. As pessoas olham a gente na fashion week, mas não sabem o que rola por trás. Por exemplo, eu não conheço Milão direito, porque só vou a trabalho. Paris também, não tenho tempo de aproveitar a cidade.

Qual foi a principal lição que você aprendeu nesses 12 anos de carreira?

As pessoas, principalmente no ramo da moda, se sentiam intocáveis. Hoje, os talentos vêm de todos os lados, está muito mais universal, existem cada vez menos barreiras de entrada,por causa da internet. Tem que valorizar suas conquistas, mas tem que manter o pé no chão e ficar atenta ao que está ao redor. Não pode deixar o ego te cegar. Você tem que olhar para o lado, se atualizar, tentar se inserir nas novidades. A curiosidade do início de carreira deve ser preservada.

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