“Ter inteligência emocional é fundamental para chegar no lugar que deseja”, diz atleta olímpica
Ingrid Oliveira, atleta olímpica de saltos ornamentais, está indo para a sua terceira Olimpíada; mas para conseguir esse espaço, ela precisou dar o maior salto de sua vida: vencer a depressão
Repórter
Publicado em 7 de julho de 2024 às 12h03.
Chegar aos Jogos Olímpicos é a maior conquista que um atleta pode ter, agora imagina disputar pela terceira vez. É o caso da Ingrid Oliveira, atleta dos saltos ornamentais que irá representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris este ano.Para conquistar esse "salto" na carreira, o segredo da atleta se resume em uma só palavra: dedicação.
“Sempre me dediquei muito nos treinamentos, tendo como objetivo de melhorar sempre a cada dia, a cada treino. Nem sempre estaremos no melhor momento, mas precisamos sempre ter disposição para se levantar. É preciso não se abater com os maus momentos e seguir com o foco no seu objetivo, que no meu caso é alcançar o pódio”.
Entre os altos e baixos que toda a carreira pode ter, Ingrid passou por um dos momentos mais desafiadores de sua vida. Em 2022, a atleta conseguiu o melhor lugar para o Brasil nos saltos ornamentais, ao conquistar o quarto lugar no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste – parecia ser um bom momento da sua vida, até ela ter lesões e o diagnóstico de depressão que poderiam colocar em risco o seu futuro como atleta.
“Ter inteligência emocional é fundamental para chegar no lugar em que deseja. É a cabeça que controla o corpo, e isso fica muito nítido nos saltos ornamentais.Depois da depressão, tive lesões no punho e nas costas. Foi uma luta contra o tempo e muito investimento em saúde mental para chegar aqui e disputar pela terceira vez o pódio olímpico”, afirma a atleta.
Além de terminar em 4º lugar no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de 2022, Ingrid conquistou duas medalhas nos Jogos Pan-Americanos e duas nos Jogos Sul-Americanos. A saltadora participou de dois Jogos Olímpicos, em 2016 e 2020, e será uma das atletas que vai defender o Brasil este ano.
Como tudo começou
Niterói, RJ, é a cidade Natal da saltadora. Antes de entrar em algum esporte, a rua era o lugar predileto de Ingrid para brincar com a sua irmã. “Brincávamos muito com as outras crianças na rua e minha mãe se incomodava muito com isso. Foi então que ela decidiu nos colocar em algum esporte, e eu queria muito o judô para bater na minha irmã (rs), como ela era mais velha, ela costumava ser mais forte do que eu”, afirma a atleta.
Quem acabou decidindo o esporte das irmãs foi a mãe que escolheu a ginástica artística. Ingrid tinha na época 9 anos, e foi aí que a sua paixão por saltos começou.
Após três anos como ginasta, os saltos ornamentais chegaram como opção para Ingrid e sua irmã. “Minha irmã entrou nos saltos ornamentais e decidi seguir o mesmo caminho para implicar. Para a minha surpresa amei o esporte logo de cara, porque vi que era muito parecido com a ginástica. Tinha mortal, tinha várias acrobacias, tinha que ter ponta de pé e parada de mãos”, afirma Ingrid que acabou se destacando no esporte logo de início.
No primeiro ano já conseguiu ganhar o Brasileiro Infantil com 13 anos de idade e com 14 anos fez a sua primeira viagem internacional. “Fiquei em quarto lugar no Panamericano Júnior. No Brasileiro, no ano seguinte, eu participei de três provas e ganhei todas”.
Ingrid é a única atleta da família, a irmã acabou passando em uma faculdade pública e seguiu outra carreira e mora atualmente nos Estados Unidos.
As inspirações para o salto na vida e na carreira
A saltadora canadense Meaghan Benfeito é uma das atletas que inspiram Ingrid, que também se espelha e aprende muito com as ginastas Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e Lorrane dos Santos.
“Elas são minhas amigas e tenho contato direto com elas. Com a Flavinha, por exemplo, parece que temos o mesmo pensamento, e esse contato é importante, porque compartilhar desafios em comum e acabamos dando apoio uma a outra”, diz Ingrid.
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As piores quedas da vida
Nem sempre Ingrid viu a vida lá do alto. Entre os maiores desafios que a vida já lhe propôs, Ingrid destaca a perda da mãe em 2013 e a questão da saúde mental que foi comprometida em 2022.
“São desafios diferentes um do outro, mas foram os maiores. Todo o trabalho que envolve pressão, competitividade, pode gerar ansiedade acima do normal, mas para isso, encontrei como solução a ajuda de profissionais. Tenho contato frequente com a minha psicóloga, minha coach e com o psiquiatra”, diz. “É um caminho difícil, mas dá pra ficar bem”.
A atleta faz competições em São Paulo, mas vive no Rio de Janeiro. Com patrocínio da Subway, Magsta Aquecedores, da Smartfit e do Clube Pinheiros.
A maior lição da carreira
Como lição que a carreira trouxe para a sua vida, Ingrid destaca a disciplina, como o maior aprendizado, que inclusive pode ajudar profissionais de outras áreas.
“Todo esporte exigirá disciplina, assim como outras profissões, mas tem um ensinamento que eu ouvi recentemente que me marcou. Na vida há degraus, mas como eu lido com eles para eu chegar lá em cima? É com um passo de cada vez. Cada dia é um desafio novo. O segredo não é só focar no hoje, mas no que você quer alcançar.”
Com 28 anos, a atleta pretende ficar no esporte até o corpo aguentar. “Pelo menos quero estar nas Olimpíadas de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028, e nas Olimpíadas de 2032 em Brisbane na Austrália”.
Depois das Olimpíadas de Paris, o plano de Ingrid é saltar na carreira acadêmica. “Ainda estou em dúvida sobre qual curso vou fazer, estou entre design de moda, nutrição ou publicidade. Mas esse é um plano futuro. Meu foco agora é trazer a medalha olímpica para o Brasil”.