Carreira

Startup financia cursos a interessados em carreiras com empregos de sobra

Em meio à crise, uma empresa de tecnologia quer desembolsar 4 milhões de reais em 2020 para formar profissionais em áreas onde há falta de mão de obra

Lachlan de Crespigny e Lucas Mendes, sócios da Revelo: consultoria a candidatos dispostos a estudar áreas com alta demanda nas empresas (Revelo/Divulgação)

Lachlan de Crespigny e Lucas Mendes, sócios da Revelo: consultoria a candidatos dispostos a estudar áreas com alta demanda nas empresas (Revelo/Divulgação)

LB

Leo Branco

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 14h00.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 15h13.

O número de jovens entre 15 e 29 anos sem estudar nem trabalhar — a chamada geração “nem-nem” — nunca foi tão alto no Brasil. Em 2018, eram 10,9 milhões, segundo o dado mais recente do IBGE.

Entre os motivos por trás da paralisia da mão de obra está a falta de renda para investimento em cursos para melhoria da qualificação. Segundo dados do mesmo IBGE, o acesso ao ensino superior segue estagnado em pouco mais de 30% dos jovens até 24 anos no país.

Para o empreendedor Lucas Mendes, as carências educacionais servem como oportunidade. Mendes fundou em 2014 a Revelo, uma startup de recursos humanos que mantém uma agência de empregos virtual com ênfase no uso de tecnologias como inteligência artificial e big data para ajudar empresas e candidatos a ter um pouco mais de certeza na hora de contratar pessoal para uma vaga.

Entre os clientes estão grandes empresas como as varejistas B2W e Mercado Livre, a empresa de locação de veículos Localiza e a operadora de telefonia Vivo.

Nesta semana, a Revelo deve estrear oficialmente um programa para financiar até 100% das despesas educacionais de candidatos contratados para vagas através da Revelo UP, uma plataforma da agência aberta para essa missão.

A ferramenta vai funcionar da seguinte maneira: o candidato entrará no sistema e deverá demonstrar interesse no financiamento. Num segundo momento, consultores da Revelo vão dar uma consultoria a cada candidato, para entender os pontos de melhoria no currículo tendo em mente aumentar as chances de o interessado conseguir o emprego. Se aprovado, o candidato começará a pagar após a formatura no curso escolhido a quatro mãos com os funcionários da Revelo.

A ideia é também que o pagamento ocorra só após o candidato ter conseguido um emprego. A empresa contratante, nesses casos, poderá colaborar com parte das despesas educacionais do participante da Revelo UP.

Num primeiro momento, o programa vai ofertar treinamento em carreiras em alta no mercado de trabalho, como programação de dados, design de produtos, linguagem UX/UI (siglas em inglês para user experience, nome dado às linguagens de programação para melhorar a experiência do internauta num site), além de marketing digital e de negócios. Os interessados no programa podem ter mais informações no site da Revelo UP.

Com vagas em alta e poucos profissionais disponíveis no mercado, vários cursos online de qualificação nesta área estão à disposição, a exemplo dos oferecidos pela EXAME Academy, braço de educação do grupo controlador da EXAME.

Os recursos para financiar os candidatos ao programa Revelo UP virão de aportes recentes recebidos pela Revelo. No ano passado, a startup levantou mais de 90 milhões de reais de investidores como o IFC, agência do Banco Mundial para negócios em startups com alto potencial de crescimento ao resolver problemas sociais — a exemplo da falta de qualificação da mão de obra. “O plano é investir 4 milhões de reais em financiamentos até o fim deste ano”, diz Lucas Mendes, um dos fundadores da Revelo. “Em 2021, a meta é desembolsar 30 milhões na capacitação dos alunos.”

Um desafio da iniciativa da Revelo será superar o viés de alguns recrutadores ao escolher mão de obra. “Há ainda muita gente preocupada com a universidade onde o candidato obteve o diploma”, diz Mendes. “Queremos mostrar que nem sempre as credenciais clássicas são as mais úteis para o que o mercado de trabalho está precisando neste momento.”

Na lista de critérios da Revelo para fazer o match entre demandas das empresas e as formações a ser oferecidas no programa UP estão características do ambiente de trabalho como empatia e capacidade de resolução de problemas.

Não é a primeira vez que a Revelo anuncia apoio financeiro a candidatos promissores com currículos na base da startup. Em janeiro, a empresa anunciou um auxílio no aluguel de 1.000 reais a pessoas contratadas pela plataforma de recrutamento a vagas de trabalho em São Paulo. A iniciativa, em parceria com a startup de locação de quartos Joy, deu voucher a 100 pessoas que encontraram empregos pela Revelo.

Acompanhe tudo sobre:CurrículosCursosMão de obravagas-de-emprego

Mais de Carreira

Lifelong learning: o segredo para crescer profissionalmente pode estar fora da sua área de atuação

Pedido para cidadania italiana ficará mais caro a partir de janeiro; entenda a nova lei

Brasileiros que se mudaram para Finlândia compartilham uma lição: a vida não é só trabalho

Como usar a técnica de Delphi para tomada de decisões