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Saúde mental, 13º salário, home office: Como empresas no RS podem apoiar o retorno dos funcionários?

O Hospital Moinhos de Vento e a Usaflex estão adotando medidas para ajudar os funcionários com o retorno ao trabalho; entre os grandes desafios, médica fala como organizações podem lidar com o retorno de forma saudável e humanizada

O Hospital Moinho de Ventos é uma das instituições do Rio Grande do Sul que precisa do retorno de alguns funcionários, para isso está ajudando com o transporte, atendimento psicológico e adiantamento do 13º salário  (Hospital Moinhos de Vento/Divulgação)

O Hospital Moinho de Ventos é uma das instituições do Rio Grande do Sul que precisa do retorno de alguns funcionários, para isso está ajudando com o transporte, atendimento psicológico e adiantamento do 13º salário (Hospital Moinhos de Vento/Divulgação)

Publicado em 16 de maio de 2024 às 10h14.

Última atualização em 11 de junho de 2024 às 12h38.

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Entre muitas perdas que os moradores do Rio Grande do Sul enfrentaram, está a memória. Cada casa, parente, animal e objetos que foram com as enchentes levaram um pouco da história de cada pessoa, que no meio desse caos tem o desafio de reconstruir a vida, e a volta ao trabalho faz parte desse processo. Mas como as empresas, que também passam pelo desafio da reconstrução, podem ajudar com que esse retorno ao trabalho seja realizado de forma saudável e produtivo?

Apoio à saúde mental

Estudos realizados pela UFMG dois anos após a tragédia em Mariana (MG) revelaram que quase 30% da população afetada pelo desastre em Brumadinho apresentava sintomas associados à depressão, um índice quase cinco vezes maior do que o observado no restante da população do país. Para Simone Nascimento, médica com especialização em saúde mental e bem-estar corporativo, nesse processo delicado de retomada, as empresas desempenham um papel fundamental no apoio e na reintegração desses trabalhadores.

“Muitos que sofrem com a insegurança alimentar e de moradia, dificuldade de acesso a suporte médico e psicológico para a gestão do estresse pós-traumático, também lidam com a sensação de isolamento, alterações do sono, levando a fadiga crônica, dificuldades de concentração, além do medo da recorrência dos eventos traumáticos como depressão”, diz Nascimento. “Sendo assim, a reintegração ao cotidiano de trabalho demanda uma adaptação que respeite os diferentes ritmos de recuperação de cada indivíduo.”

O Hospital Moinhos de Vento é uma das instituições privadas do Rio Grande do Sul que está apoiando os funcionários neste momento delicado, inclusive com atendimento psicológico. Segundo o levantamento do setor de Gestão de Pessoas do hospital, cerca de 800 funcionários foram afetados pelas enchentes, dos quais 350 tiveram perda total ou parcial de suas casas. Outros estão enfrentando dificuldades de acesso às moradias pelas inundações.

“Como uma das medidas para ajudar com o retorno ao trabalho, a empresa está oferecendo aos funcionários atendimento psicológico e social, que está sendo disponibilizado pelo atendimento psiquiátrico da equipe do Ambulatório Virtual à Saúde Mental nas Enchentes (AVISAME-HMV)”, afirma Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento, que reforça que o hospital orienta os profissionais que atuam no administrativo a ficarem de home office.

Apoio à flexibilidade

A flexibilidade de horário e a possibilidade de trabalho remoto, mesmo que temporariamente, pode acomodar as diferentes necessidades dos funcionários, mas a médica reforça que é importante considerar que muitos funcionários que estavam em home office perderam seus equipamentos de trabalho e estão impossibilitados de retornar às suas casas.

“Outra estratégia eficaz é a antecipação de férias coletivas, especialmente nos casos em que a própria empresa foi afetada pela tragédia. Isso permite que os funcionários tenham um período para se recuperar emocionalmente e lidar com as consequências do desastre.”

Em razão da dificuldade de deslocamento em Porto Alegre e nos acessos da Região Metropolitana, Parrini afirma foi disponibilizado transportes em pontos estratégicos para facilitar o deslocamento de aproximadamente 500 funcionários que residem nas cidades de Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Esteio, Gravataí, Sapucaia e Viamão até o hospital.

“O hospital não foi atingido pelas enchentes, e por se tratar de um serviço que exige certos profissionais presentes, como médicos e enfermeiros, estamos ajudando com o deslocamento deles”, diz Parrini que reforça que os consultas, exames e cirurgias estão sendo feitos em casos de doenças que requerem intervenção urgente ou imediata. “A Instituição orienta que as pessoas procurem o atendimento de Urgência e Emergência somente em casos graves e de alta complexidade.”

O apoio financeiro

Com a crescente escassez de água na cidade, o hospital disponibilizou uma cota de água por dia para cada funcionário. “A ação foi possível pelo reforço de doações de empresas como Ambev, Fruki, Água da Pedra e Água Mineral Armazém”, diz Parrini que reforça que a instituição também está disponibilizando outras medidas de apoio o PIX de arrecadação interna para os atingidos (moinhos.social.colaboradores@hvm.org.br), além de antecipar a primeira parcela do 13° salário.

A Usaflex, fabricante de calçados do Rio Grande do Sul, também está adotando diferentes iniciativas em apoio aos funcionários como a antecipação do pagamento do salário mensal, antecipação do pagamento das férias, antecipação da entrega da cesta básica e a antecipação do 13º salário para funcionários em maior vulnerabilidade.

"Seguimos juntos, prestando apoio aos nossos funcionários e a toda comunidade das cidades atingidas pelas enchentes. Por isso, entendemos que se faz necessário realizar a atualização das iniciativas realizadas pela empresa até o momento”, afirma Daniela Colombo, diretora Jurídica/DHO da Usaflex.

A companhia de calçados está acompanhando as necessidades dos funcionários caso a caso, por meio dos gestores e da Assistente Social da empresa para destinar os recursos da forma mais assertiva possível, afirma Colombo.

“A companhia também concedeu 10 dias de férias para os funcionários das áreas produtivas, antecipação da entrega de cestas básicas e kit de limpeza, aumento do limite do cartão de crédito, doação de kit escolar e mobilizamos a nossa rede de Franquias, são mais de 300 lojas em todo o país para a divulgação das chaves-pix de cada município que temos operação”, diz a diretora jurídica da Usaflex.

A companhia de calçados também está arrecadando doações para os abrigos e promovendo a campanha Conforto Solidario, afirma Colombo. “É uma parceria entre as Lojas Quero- Quero, franquias de todo o Brasil e outros parceiros para a compra de móveis e demais necessidades dos funcionários atingidos pela enchente”.

Menos pressão, mais apoio

Todo o apoio é bem-vinda, mas para que os funcionários possam retornar às suas funções de forma saudável e produtiva, Nascimento reforça que é fundamental que as lideranças compreendam e validem a gravidade da situação.

“Evitar pressionar os funcionários a superar rapidamente suas emoções ou a minimizar suas experiências, é crucial. Sobrecarregar os trabalhadores com exigências de produtividade imediatas também deve ser evitado, respeitando o processo de recuperação individual.”

O Rio Grande do Sul segue em situação de calamidade, com previsão de chuva e clima frio, o que faz com que o estado continue na luta pela vida e pela reconstrução. Segundo dados da Defesa Civil do estado, mais de 446 municípios foram afetados pelas enchentes, mais de 76 mil pessoas estão em abrigos, 124 pessoas estão desaparecidas e 151 mortes foram confirmadas. O Rio Grande do Sul segue recebendo doações do governo, empresas e pessoas físicas.

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