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Quem é a primeira mulher presidente da Adyen para a América Latina

Pela primeira vez a multinacional de meios de pagamentos terá uma mulher ocupando a presidência da América Latina. A executiva, Thaís Fischberg, conversou com EXAME para contar que desafios irá enfrentar na nova cadeira

(Adyen/Divulgação)
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Luciana Lima

Publicado em 12 de janeiro de 2023 às 06h03.

Última atualização em 12 de janeiro de 2023 às 11h20.

Depois de 11 anos na América Latina, pela primeira vez a Adyen, multinacional de meios de pagamentos, terá uma mulher no cargo de presidente. Quem assume o comando da operação latina, que só no primeiro trimestre de 2022 foi responsável por 7% da receita líquida global da empresa holandesa, é a executiva Thaís Fischberg.

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Com passagens por empresas como Mastercard, Santander e Grupo Movile, Thaís ingressou na Adyen em outubro de 2021 para liderar o time de produtos. No cargo foi responsável por diversos projetos, como a reestruturação de equipes internas e o lançamento de “maquininhas” da Adyen no México.

Há quase duas décadas atuando no mercado financeiro, Thaís não esconde o dilema que é ser mulher no segmento, ainda majoritariamente masculino.

“Falta muito para termos, de fato, um ambiente igualitário quando olhamos para aspectos como gênero, raça, orientação sexual e todos os outros grupos minorizados”, afirma.

Mesmo assim, a executiva acredita que é preciso olhar o copo meio cheio e valorizar os avanços, apesar do longo caminho pela frente.

“Quando eu comecei a falar sobre igualdade de gênero lá atrás, no começo da minha carreira, era muito mais difícil. Eu sentia que esse não era um tema muito bem recebido e que eu precisava constantemente buscar formas de não ser mal interpretada. Hoje em dia esse tópico já é muito mais bem recebido”, diz.

À frente da Adyen, Thaís também tem o desafio de manter a relevância da região latina para os resultados da Adyen. No primeiro semestre do ano passado, globalmente, a Adyen obteve uma receita líquida de 608,5 milhões de euros, um crescimento de 37% em relação ao mesmo período de 2021.

No médio prazo, mesmo com uma possível recessão no caminho, a multinacional holandesa tem como meta crescer entre 25% e 35% em faturamento e aumentar a margem do EBITDA de 59% para 65%.

“O objetivo é, acima de tudo, acelerar ainda mais o crescimento que temos observado, alavancando nossa tecnologia global para trazer uma melhor oferta para nossos clientes no Brasil e no México”, diz.

EXAME conversou com Thaís sobre os desafios de ser executiva no mercado financeiro e os planos da Adyen América Latina para os próximos anos. Confira na entrevista a seguir

Leia, a seguir, uma entrevista com a primeira mulher presidente da Adyen América Latina

Por que só agora uma mulher irá comandar a Adyen?

A Adyen está há 11 anos na América Latina. Desde então, houve apenas duas mudanças de gestão, justamente, pela consistência na estratégia global da empresa. Isso inclui a minha chegada ao cargo, como primeira mulher a comandar a região.

Mas temos e já tivemos presidentes regionais mulheres em outros escritórios no mundo. Também temos presença feminina em outros cargos de liderança, tanto que, aqui na América Latina, mais de 50% de todas as posições de liderança são ocupadas por mulheres.

A Adyen enxerga a diversidade de gênero como um processo em que as mulheres devem ser, de fato, incluídas na companhia e consequentemente no mercado financeiro. O olhar da empresa é o de dar oportunidade para grupos que muitas vezes ainda não recebem a chance para crescer e ser reconhecidos, sendo em cargos de liderança ou não. Por isso, buscamos considerar o histórico profissional e os resultados na trajetória de cada decisão, seja de contratação ou promoção.

Nesse tempo que passei na Adyen à frente da equipe regional de produtos, sempre senti meu trabalho muito valorizado. Dessa forma, o novo cargo pareceu natural. Acho que esse é o ponto principal da abordagem da Adyen: tornar a diversidade e inclusão natural.

Qual vai ser o seu maior desafio à frente da Adyen?

Liderar uma das quatro regiões de uma empresa que faturou globalmente mais de 600 milhões de euros apenas no primeiro semestre de 2022, com um crescimento ano após ano de 37%, é um grande desafio.

Então, sem dúvida, o foco do meu trabalho será continuar com o crescimento exponencial na região, além de estar cada vez mais próxima de nossos clientes e parceiros.

O contexto econômico brasileiro atual traz uma série de particularidades que fazem o cenário mais interessante na busca por novas soluções.

É fundamental entender como a Adyen, que é uma empresa B2B, pode ajudar outras empresas. Já desenvolvemos tecnologia própria localmente, algo que nos permite oferecer soluções de pagamentos muito mais rápido que os nossos concorrentes, mas neste momento o que os clientes precisam é de um parceiro estratégico.

Tenho a sorte de ter comigo uma equipe de profissionais especializados para me auxiliar nesse processo.

O que seria essa atuação mais estratégica?

O varejista está reduzindo custos e esforço de trabalho, priorizando seu dia a dia para atender seus clientes. Logo, é importante que seus fornecedores, inclusive financeiros, atuem para otimizar o seu trabalho com backoffice, garantindo que tudo corra como o esperado.

Também é importante ter um time dedicado, com relacionamento próximo, para conhecer as angústias do negócio e sugerir soluções certeiras com o melhor custo-benefício. Ter o parceiro correto faz a diferença.

É o caso, por exemplo, da Lindt, líder mundial em chocolates premium, que é um dos nossos clientes. A empresa tinha planos de lançar o e-commerce no Brasil só em 2022, mas a poucas semanas da Páscoa de 2020, a pandemia chegou. Para aproveitar a melhor época do ano do setor e não perder o estoque, criamos em um e-commerce em tempo recorde, cerca de 15 dias.

Com cerca de 50 lojas pelo Brasil, a Lindt adotou o modelo Ship From Store, transformando cada uma das lojas em um pequeno centro de distribuição para a venda online. Isso permitiu a entrega de produtos rapidamente e em perfeito estado.

O mercado de tecnologia sofreu bastante no ano passado, mesmo assim as operações da Adyen no Brasil e México cresceram juntas 25%. Ao que você atribui esse crescimento?

Desde 2016, quando lançamos a operação de adquirência no Brasil, as chamadas “maquininhas”, a Adyen tem apresentando um crescimento consistente, baseado principalmente na tecnologia robusta

Em um momento de retração de mercado, as empresas buscam parceiros de maior confiança. Ter um só fornecedor de pagamentos em todos os canais de venda oferece um grande ganho operacional e financeiro. Isso se aplica especialmente para empresas internacionais que querem expandir e aplicar métodos de pagamento locais, sem precisar trocar de fornecedor para cada país.

Outro motivo é a transformação pela qual o mercado no geral passou nesses últimos anos, desde a pandemia de COVID-19. As mudanças, que inicialmente eram preocupações apenas dos segmentos de varejo e hospitalidade, rapidamente se expandiram para empresas de diversas indústrias.

Isso significa uma integração maior entre o mundo digital e físico no consumo e, consequentemente, uma busca por fornecedores em diferentes áreas que atendam essa realidade. No meio de pagamentos, a Adyen é conhecida por oferecer soluções que possibilitam o comércio unificado há muitos anos, desde a chegada dos nossos terminais próprios de pagamento no Brasil, em 2018.

Diante de uma possível recessão econômica em 2023, qual será a estratégia da Adyen neste ano?

Em anos difíceis, as empresas precisam investir com consciência. Na década de 2020, esse processo perpassa entender que houve uma revolução na maneira de consumir e que ela não vai retroceder.

O consumidor também está mais cuidadoso com o seu dinheiro e, portanto, analisa mais antes de comprar e espera tirar o máximo de qualidade e experiência pelo menor preço.

Assim, a jornada de compra ganha mais destaque: o consumidor final pesquisa o preço online, pesquisa o preço na loja — e prioriza aquele varejista que acompanha toda essa jornada e oferece condições personalizadas, como descontos, por exemplo. Quem se preocupar com isso, ganhará participação de mercado e fará parte dos vencedores do próximo ano.

Hoje já contamos com nomes fortíssimos na região como Magazine Luiza, Microsoft, Nike, Decathlon, Uber e Tok&Stok, por exemplo. A expectativa para 2023 é levar a nossa solução e crescer junto com mais empresas que trazem disrupção para os seus setores de atuação.

Qual o papel da operação latina nesse contexto?

A América Latina deve ganhar uma projeção internacional ainda maior. Será um ano de muitas novidades, que exigirão um trabalho intenso meu e de todo o time nos nossos escritórios de São Paulo, São José dos Campos e Cidade do México. Com certeza, também será um ano de sucessos muito gratificantes.

Depois de se tornar o primeiro escritório fora da sede na Holanda a ter um time de desenvolvedores, o Brasil se tornará um tech hub da Adyen, ou seja, vai desenvolver produtos para clientes de todo o mundo, não mais localmente apenas. O cenário de programação no país é muito acelerado, então, não é à toa que os talentos locais são tão valorizados e reconhecidos.

O México também estará no foco, com muitas novidades chegando após o lançamento dos terminais de pagamento próprios da Adyen e da solução de Unified Commerce, em outubro de 2022.

Parte da sua carreira foi trilhada no mercado financeiro, uma área que, ainda hoje, é predominante masculina. Isso foi um desafio?

É inegável que foi desafiador e que falta muito para termos, de fato, um ambiente igualitário. Dito isso, eu gosto de dar uma mensagem positiva, pois acredito na transformação que estamos vivendo.

De uns tempos para cá, muitas pessoas tomaram consciência sobre a importância da diversidade em suas vidas e, consequentemente, o mundo corporativo acompanhou. Acredito que, atualmente, a pauta de igualdade de gênero surge de forma mais espontânea nas empresas e é discutida com menos melindres.

No entanto, apesar de eu sempre gostar de reforçar o viés positivo da transformação que ocorreu na última década, ainda é muito importante falar sobre esse assunto. O setor financeiro ainda é predominantemente masculino.

Não faltam pesquisas que comprovam isso. Um estudo de 2021, por exemplo, mostrou que apenas 10% dos cargos executivos de alta liderança nos principais bancos brasileiros são ocupados por mulheres. E isso evidentemente tem um impacto em como profissionais femininas são percebidas nessas empresas.

No pouco tempo que estou no cargo de presidente da Adyen já ouvi de muitas mulheres como é importante elas poderem se enxergar nesse cargo. É algo inspirador e representativo porque não estamos acostumadas a ver outras mulheres no mesmo lugar que eu.

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