Os líderes especializados em clima deixarão de subestimar seus investimentos climáticos e adotarão uma visão geral voltada ao longo prazo, aponta pesquisadores (Luis Alvarez/Getty Images)
Escola de Negócios
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 11h59.
O aumento das temperaturas climáticas que ocorre há décadas já está remodelando os negócios de maneiras surpreendentes.
Nesta coletânea, mergulhamos de cabeça na recente pesquisa da Kellogg sobre sustentabilidade e práticas de negócios ecológicas. Também discutimos a mentalidade que os fortes líderes precisarão ter para navegar em um planeta (e economia) em transformação.
O clima não é um problema “daquele outro lugar, algo para depois”; os fabricantes já sentem seu impacto
Com base nos dados do Censo dos EUA, Jacopo Ponticelli, da Kellogg, Qiping Xu e coautores e Stefan Zeume, ambos da Universidade de Illinois Urbana Champaign, estudaram fábricas durante quatro décadas. Eles descobriram que as mudanças climáticas na verdade já afetam a indústria manufatureira, e que as pequenas empresas, em particular, arcam com os custos das despesas provocadas por um clima mais quente. Ao longo do tempo, esse fardo/ônus desproporcional ficou mais concentrado no setor manufatureiro, à medida que trabalhadores de empresas menores que passam por dificuldades foram absorvidos por empresas de maior porte.
“É importante saber que, mesmo em economias desenvolvidas como as dos EUA, os efeitos das mudanças climáticas estão presentes e não são insignificantes”, diz Ponticelli. “Precisamos entender que nossa economia não está imune a esses efeitos”.
Aaron Yoon, da Kellogg, estuda há muito tempo a ligação entre o desempenho ambiental, social e governamental (ESG – a sigla em inglês para Environmental, Social, and Governmental) de uma empresa e seu desempenho financeiro. Mais recentemente, ele pesquisou as repercussões financeiras em cadeias de suprimentos . Mais especificamente, ele investigou se a responsabilidade social dos fornecedores de uma empresa se relaciona ao bem-estar financeiro da própria empresa.
Yoon se uniu a Xuanpu Lin e Guoman She, da Universidade de Hong Kong, e a Haoran Zhu, da Universidade de Ciência Tecnologia do Sul da China, e juntos analisaram reportagens de incidentes ESG negativos, como infrações trabalhistas ou revelações de danos ambientais, nas cadeias de suprimentos de empresas de capital aberto. Eles encontraram uma importante ligação entre o nível de risco ESG dentro da cadeia de suprimentos de uma empresa e seus retornos futuros de ações: as notícias ESG negativas fizeram com que os preços das ações no ano seguinte diminuíssem.
Os investidores (e as empresas que desejam impressioná-los) devem prestar atenção. “Nossas descobertas destacam a importância de disponibilizar informações relacionadas à cadeia de suprimentos aos investidores", diz Yoon. Como um fator de criação de valor a longo prazo, as informações não são contabilizadas, acrescenta ele, e isso pode aumentar os retornos da carteira.
As empresas não são muito adeptas do ativismo. Será que existem alguém que gosta de ser boicotado ou de fazer piquetes? No entanto, esses mesmos ativistas também podem ser aliados que ajudam as empresas a atingir seus objetivos estratégicos.
Essa foi a descoberta da pesquisa de Brayden King, da Kellogg, que, junto com Ion Bogdan Vasi, da Universidade de Iowa, descobriu que as empresas de energia sitiadas e os ativistas que as atacam podem formar parcerias inusitadas que são fundamentais para o crescimento do mercado de tecnologias de energia ecológica.
Os pesquisadores descobriram que as empresas de energia classificadas pelos ativistas como os poluidores mais sujos foram as mais propensas a atender a essa estigmatização adotando tecnologias de energia ecológica. As empresas receberam então o benefício da promoção gratuita de seus programas ecológicos por ONGs locais focadas no meio-ambiente.
“Quando as empresas optam por colaborar com ativistas, cria-se um caminho viável para oportunidades de marketing que talvez nunca poderia se conseguir de outra forma", diz King.
Serão necessárias novas políticas para abordar algumas das maiores barreiras estruturais à sustentabilidade. Mas como fazer para que o público em geral apoie essas políticas? Pode dar trabalho.
Assim, um trio de pesquisadores da Kellogg, composto pelo professor Adam Waytz e seus doutorandos Matejas Mackin e Trevor Spelman, decidiu ver se oferecer às pessoas algumas histórias de sucesso de políticas de todo o mundo traria algum resultado positivo.
“Nossa hipótese é que, se pudéssemos fazer com que as pessoas pensassem fora da caixa atual na qual se encontram aqui e agora, elas seriam mais receptivas a diferentes políticas que visam promover a sustentabilidade", diz Waytz.
Em quatro estudos, os pesquisadores descobriram que, quando os residentes dos EUA ficaram sabendo a respeito da implementação bem-sucedida de políticas de sustentabilidade em outros países, como políticas que levam a novas infraestruturas de energia eólica e redução do uso de automóveis, sem dúvida aumentou o apoio a legislações semelhantes em solo americano. Além disso, as intenções das pessoas de mudar seu comportamento para se alinhar às políticas também aumentou.
"Vemos essa intervenção como uma ferramenta em potencial que pode motivar coletivamente os cidadãos a tomar medidas para mudar seus próprios comportamentos e, o mais importante, apoiar as políticas que desafiam o status quo", diz Spelman.
Esqueça o "desenvolvimento intelectual de crescimento" e "mentalidades criativas". Daqui para frente, os líderes realmente precisarão ter uma "mentalidade capaz de lidar com o clima", diz Meghan Busse, da Kellogg.
O que requer esta mentalidade? Os líderes precisarão não apenas perceber claramente nossa nova realidade, mas também mobilizar uma resposta que envolva todas as funções de sua organização. Em última análise, diz ela, os líderes especializados em clima deixarão de subestimar seus investimentos climáticos e adotarão uma visão geral voltada ao longo prazo.
Muitas indústrias já pensam assim. As empresas farmacêuticas normalmente tomam decisões baseadas em um horizonte de longo prazo, inteiramente conscientes de que alguns investimentos serão abandonados e outros expandidos. Os investidores de risco apostam em startups, esperando que muitas venham a falhar e outras não. Empresas de petróleo e gás cavam poços exploratórios em novos campos. Já passou da hora de começar a pensar em investimentos climáticos da maneira como sempre a tratamos.
“Teremos que construir, comprar, inventar e instalar tantas coisas à medida que realizamos essa transformação que haverá grandes oportunidades para todas as pessoas que possam fazer parte dessa solução”, diz Busse.