Carreira

Maria Fernanda Cândido ensina a ser multiprofissional

Com serenidade e planejamento, Maria Fernanda Cândido vai desenhando uma carreira de múltiplos papéis. Atriz, Empresária e Mãe, ela sabe muito bem o que quer

Maria Fernanda Cândido, no lançamento do seu novo livro: atriz desenha uma carreira muito bem integrada entre a vida pessoal e profissional (Deco Rodrigues/Contigo)

Maria Fernanda Cândido, no lançamento do seu novo livro: atriz desenha uma carreira muito bem integrada entre a vida pessoal e profissional (Deco Rodrigues/Contigo)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2012 às 14h40.

São Paulo - Repare: você não vê mais Maria Fernanda Cândido, de 36 anos, atuando numa novela ao mesmo tempo em que ensaia uma nova peça e participa de filmagens para cinema. A fase do tudo ao mesmo tempo agora já passou para ela que, além de atriz, é empreendedora e mãe de Nicolas e Tomás, de 2 e 5 anos, respectivamente. "Gosto de ir fundo nos meus projetos e, com dois filhos pequenos, só tenho tempo para me dedicar a uma coisa de cada vez", diz Maria Fernanda. Apesar disso, lidar com a agenda dela não é das tarefas mais simples.

É preciso muito jogo de cintura e foco para enfrentar os diferentes compromissos que lotam seus dias: de estudos teatrais e ensaios fotográficos a aulas de pilates e almoços com amigos. Diante das demandas, Maria Fernanda se mantém serena — uma de suas características marcantes. Respira fundo e consegue encaixar todos os compromissos.

Se tiver de ensaiar uma peça de teatro, deixa de lado, temporariamente, os pequenos prazeres, como a ginástica e as visitas a livrarias — programa que adora. Foi o que aconteceu no segundo semestre de 2010 quando separou três meses dedicando-se à composição da Marquesa de Merteuil, personagem que encarna em Ligações Perigosas, que teve estreia em São Paulo em novembro do ano passado e está atualmente em turnê pelo interior do estado e em Curitiba, Paraná.

Para dar vida à primeira vilã de sua carreira, Maria Fernanda encarou seis horas de ensaio diárias em uma sala isolada no bairro paulistano da Lapa. Dedicada, quando os outros atores iam embora, ela continuava no local a esmiuçar as características de sua personagem marcada pela inveja. "Sabia de antemão que teria de me dedicar muito ao projeto", diz.

"Conversei longamente com psicanalistas e li vários livros de apoio para tentar entender melhor a complexidade das relações humanas que cercavam meu papel", lembra. À noite, deixava os estudos de lado para chegar em casa a tempo de contar uma historinha e dar um beijo de boa noite nas crianças. "Faço questão de preservar alguns rituais com meus filhos", diz.


Como muitas mulheres, Maria Fernanda também não consegue, sete dias por semana, dedicar à sua família todos os minutos que realmente gostaria. "Nem sempre dá para passar aquele tempo de qualidade com as crianças", conta. "Faço de tudo para estar presente todos os dias, mesmo que seja durante algumas horas no café da manhã, antes de os meninos irem para a escola." Mesmo quando está em casa ocupada com algum trabalho, ela tenta ficar disponível para os pequenos.

"Às vezes, numa situação normal, como uma dúvida simples de um dos meninos, eu consigo ensinar e aprender muito sobre meus filhos", diz. Para manter a rotina caseira funcionando, a atriz tem um grande aliado: seu marido, Petrit Spahija, de 37 anos, empresário e chef de cozinha francês, que está à frente do Le Poème Bistrô, um charmoso restaurante em São Paulo. Casados desde 2005, eles dividem muito bem as tarefas. Se Maria Fernanda precisa madrugar, é Petrit quem leva Nicolas e Tomás à escolinha. Mas será ela que terá de se virar e levar os meninos de volta para casa.

Como o casal tem profissões de horários flexíveis, a negociação das tarefas do dia a dia é relativamente tranquila e os dois dão um jeito de cuidar da própria agenda sem descuidar dos compromissos da família. "Criança hoje já tem, muito cedo, uma vida social que precisamos acompanhar", diz Maria Fernanda. "Dá trabalho, sim, mas filho é muito bom."

Vários Papéis

Aos 16 anos, quando ainda cursava o colegial, Maria Fernanda partiu para as passarelas e estúdios de fotografia. Passou seis meses entre Nova York e Paris aprendendo sobre o mundo da moda e, mais do que isso, sobre as relações profissionais supercomplicadas desse mercado. "Entendi muito cedo como devia negociar um salário e conversar com um superior", lembra a atriz. "Meus tempos de modelo me prepararam para a vida profissional com muita agilidade."


E o período no exterior fez com que enxergasse o mundo com mais amplitude. Quando voltou ao Brasil, seguiu o curso normal de uma jovem: a faculdade. Maria Fernanda é formada em terapia ocupacional pela Universidade de São Paulo. A profissão a encantou por ter um objetivo elevado: ajudar os doentes a melhorar e ter mais qualidade de vida.

"A faculdade me ensinou sobre as angústias das pessoas, algo fundamental para quem atua", conta. Ter estudado com afinco mudou seu jeito de pensar. "Tive ótimos professores que me ajudaram a desenvolver um raciocínio mais maduro.

" Sempre ligada às artes (é louca por poesia desde novinha), fez um curso de atuação, entre 1997 e 1998, ministrado por Fátima Toledo, preparadora teatral linhadura — foi ela a responsável por transformar Wagner Moura no perturbado Capitão Nascimento, de Tropa de Elite.

Nas aulas, Maria Fernanda entrou de cabeça no mundo da encenação. Em 1999, estourou como a belíssima Paola, a italiana que roubou o coração de Raul Cortez na novela Terra Nostra, da Globo. Daí, a carreira engrenou e vieram trabalhos como a novela Esperança e o filme Dom, de Moacyr Góes, no qual interpretou uma Capitu moderna, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no festival de cinema de Gramado de 2003.

A personagem de Machado de Assis, aliás, está muito presente na vida de Maria Fernanda. Em 2008, a atriz encarnou novamente a mulher com olhos de ressaca do livro Dom Casmurro na microssérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, na Globo. Interessada por literatura, filosofia e artes, Maria Fernanda costuma estudar por conta própria.

Em 2003, começou a frequentar reuniões de estudos filosóficos no apartamento do empresário Jair Ribeiro. Os encontros serviam para que amigos discutissem os pensamentos de filósofos como Platão e Sófocles. "Queríamos aprender mais sem precisar fazer uma pós-graduação." Os professores convidados indicavam textos de preparo, e as conversas pegavam fogo. "Ficávamos até alta madrugada falando sobre nossas percepções", diz Maria Fernanda.


Assim veio a ideia de transformar o debate entre amigos em negócio: a Casa do Saber, escola de cursos livres fundada em 2004 por ela e mais cinco sócios, em São Paulo. Construir esse empreendimento, que hoje é um sucesso, com 883 cursos em seis anos de existência, não foi fácil. O desafio era montar um negócio completamente inovador.

O preceito da Casa do Saber é ser um local para disseminar o aprendizado entre pessoas de qualquer formação por meio de cursos, palestras e workshops com profissionais renomados – o poeta Ferreira Gullar e o fotógrafo Bob Wolfenson, por exemplo, estão na grade de professores convidados deste ano.

"Não havia um modelo para que nos baseássemos", diz Maria Fernanda. Hoje, é um negócio que se sustenta sozinho. "O objetivo não é o lucro", diz Maria Fernanda. "É um projeto de realização pessoal." Por ser sócia-fundadora, ela participa do planejamento administrativo e, a cada semestre, senta com os sócios para pensar nos próximos cursos. "É muito realizador estar à frente de um negócio com alma que se tornou exemplo para outros empreendimentos", afirma.

O Futuro é Agora

Quando o assunto são os planos futuros, Maria Fernanda é prática: "Já tenho hoje os meus planos para 2012, mas ainda não posso contar quais são", diz. Para ela, planejar no médio e longo prazo é um assunto sério.

"Quando faço isso, consigo encadear minhas atividades para um objetivo maior." Em uma dessas projeções, considerou trabalhar com produção teatral. A atriz está com planos de produzir a peça Os Demônios de Hannah nos próximos anos.

Como não tem formação de produtora teatral, a estratégia dela é se cercar de quem entende do negócio — e ouvir muito. "Não tem nada melhor do que ter gente competente do seu lado para ensinar o melhor caminho."

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