Carreira

Mais saúde no bandejão ajuda a produtividade

De olho na produtividade de seus profissionais, empresas promovem cada vez mais programas e alternativas para uma alimentação mais saudável

Élcio Trajano Jr., da Serasa Experian: cuidados na oferta de alimentos e no tamanho das porções contribuem para o baixo absenteísmo na empresa  (Omar Paixão)

Élcio Trajano Jr., da Serasa Experian: cuidados na oferta de alimentos e no tamanho das porções contribuem para o baixo absenteísmo na empresa (Omar Paixão)

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Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2013 às 18h46.

São Paulo - O Brasil está mais gordo. E isso não é reflexo de abundância econômica, mas de excesso de peso mesmo. A cada ano que passa os brasileiros estão se alimentando de forma mais errada e aumentando os índices de sobrepeso e obesidade nacionais.

De acordo com o estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, em 2006 o Brasil possuía 42,7% de pessoas com sobrepeso e 11,4% de obesos. Em 2010, esses números saltaram para 48% e 15%, respectivamente.

Ainda de acordo com o estudo, apenas 29,9% dos cerca de 54 000 entrevistados disseram consumir regularmente frutas e hortaliças e mais de 34% afirmaram comer carnes com excesso de gordura. Se para a vida pessoal esse cenário significa danos cada vez mais intensos e precoces na saúde física, para a vida profissional significa falta de produtividade e, consequentemente, um rombo para os cofres corporativos.

Segundo o National Business Group on Health, uma organização americana sem fins lucrativos que representa grandes companhias, o custo total da obesidade para as empresas americanas é de mais de 13 bilhões de dólares ao ano — um valor que inclui 8 bilhões com outros custos de saúde, 2,4 milhões em licenças remuneradas, 1,8 bilhão com seguro de vida e 1 bilhão com seguro por motivo de deficiência.

De acordo com estudos recentes sobre o custo econômico da obesidade no local de trabalho, isso representa 90 milhões de dias em que pessoas tiveram problemas de saúde, ficaram acamadas, contabilizando ainda um total de 63 milhões de consultas médicas.

De olho nesses números, as companhias perceberam que é melhor educar seus funcionários a partir do bandejão. Afinal, se já está provado que quilos a mais significam produção a menos, comprovou-se também que atacar o problema faz bem a todos.

Após mapear por quatro anos consecutivos programas de saúde em 1 103 empresas de 45 países, a consultoria americana Buck Consultants revelou que, ao final de 2009, 60% dos participantes declararam aumento no engajamento, 47% alcançaram a redução no absenteísmo, 39% reduziram os gastos com saúde e 46% diminuíram o presenteísmo, obtendo aumento na produtividade. “A saída encontrada foi promover a conscientização dos colaboradores a respeito da sua alimentação e oferecer opções que estimulem a reeducação alimentar e um novo estilo de vida”, esclarece Marília Rocca, consultora da Mãe Terra. 


Na lista de atrativos estão orientação de nutricionistas, restaurantes industriais e cantinas com cardápios mais equilibrados, onde antes as opções de produtos naturais eram raras e se restringiam ao uso do arroz integral. “Hoje, a diversificação é muito maior. Atendemos clientes que já oferecem arroz sete grãos, quinua e linhaça diariamente e estão dando aos novos pratos um status com apelo gastronômico, e não de uma ‘ração’ sem graça”, acrescenta Marília. 

Orientação personalizada

Na Serasa Experian, uma das prioridades da área de desenvolvimento humano é o programa de qualidade de vida. Há 11 anos a empresa vem promovendo ginástica laboral, programas antitabagismo e realização de atividades físicas. O sucesso da iniciativa e o engajamento das pessoas levaram à contratação de médicos e nutricionistas para o quadro de funcionários e, há cerca de sete anos, a alimentação virou um dos carros-chefe. 

A partir de então, a companhia começou a oferecer acompanhamento nutricional, com atendimentos individuais e em grupo. O objetivo é promover a mudança de hábitos alimentares de forma gradual e sustentada. “Com um acompanhamento mais especializado, nossos funcionários começaram a perceber que, ao se alimentar de forma correta, perdem  peso e melhoram o resultado de seus exames”, diz Élcio Trajano Jr., gerente executivo de desenvolvimento humano da Serasa Experian para a América Latina.

Para manter a efetividade do programa e adaptá-lo às novas necessidades, a empresa realiza, anualmente, um mapeamento de seus funcionários por meio de uma pesquisa. O questionário, respondido por mais de 80% do público-alvo, aborda questões como prática de esportes, hábitos alimentares, vícios e rotina de casa e do trabalho.

“Essas informações vão servir de input para nossos médicos e nutricionistas gerarem novas demandas e adaptações ao programa”, afirma o gerente. A integração do programa chega também ao restaurante da empresa. O tamanho das porções e a variedade de alimentos estão alinhados ao programa alimentar indicado pela nutricionista. 


Os resultados das ações aparecem nos números. O índice de absenteísmo tem se mantido nos últimos anos abaixo do 0,5% ao mês e a produtividade vem aumentando, o que se reflete no faturamento da empresa e nos balanços. “Estamos medindo o índice de felicidade dos funcionários e temos atingido uma média alta de 8 sobre 10. Ao perceberem que a empresa onde trabalham se importa com sua saúde, os funcionários se sentem valorizados e mais estimulados. Se você tira o aspecto de qualidade de vida do radar, vai colocar em risco toda a produtividade da organização”, acredita.

Água e frutas diariamente

Na DQS, empresa certificadora de sistemas de gestão, como ISO 9001, ISO TS 16949 e ISO 14001, com 100 funcionários no Brasil, o investimento na alimentação dos funcionários foi uma iniciativa da CEO da companhia, Dezée Mineiro, adepta da alimentação equilibrada e dos esportes. “Há alguns anos, tivemos aqui na empresa um funcionário que fazia dietas perigosas para emagrecer, chegando a ficar doente e faltar por 15 dias. Então, notei que outros funcionários também não se alimentavam bem”, afirma Dezée. 

A solução adotada pela empresa foi criar um novo programa alimentar que esclarecesse a todos a importância de ter mais cuidado com o que se consome. O primeiro passo foi a contratação de uma trofoterapeuta — profissional especializado em terapia e em restabelecer a saúde por meio da alimentação — para dar palestras e consultas gratuitas para estimular as pessoas a participar do programa.

“Com a nova orientação alimentar, todos passaram a comer de três em três horas. Também demos para cada colaborador um squeeze para que se lembrasse de beber água”, explica Dezée. Na base do alerta, em horas determinadas, um sino lembrava que o momento de comer frutas, barras de cereais ou outros alimentos saudáveis tinha chegado. Fruteiras disponíveis em toda a empresa ajudaram a criar o hábito, que foi absorvido rapidamente. As reuniões mensais são outra ocasião em que o assunto é abordado, sempre de maneira motivadora e esclarecendo os benefícios. 

Atualmente, os costumes já foram incorporados ao dia a dia da maioria dos funcionários da certificadora, que têm à sua disposição um café da manhã reforçado, frutas e outros alimentos saudáveis para comer nos intervalos, e uma forte recomendação para que não deixem de sair para almoçar. “Para facilitar e garantir que eles almocem, oferecemos convênio com bons restaurantes da região, sem limites de quantidade ou de valor para o almoço”, garante a CEO, que muitas vezes passa pessoalmente na mesa das pessoas para lembrá-las de beber água ou incentivá-las a continuar com o programa. 

Os resultados aparecem em forma de produtividade e redução das faltas. “Se compararmos funcionários com características semelhantes, o que não tem vida alimentar saudável precisa recorrer ao serviço médico ou se ausentar do trabalho com muito mais frequência”, alerta Dezée Mineiro.

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