Empresas buscam mestres e doutores para inovar mais
Para inovar, empresas aumentam a contratação de mestres e doutores e o título acadêmico passa a ter maior valor fora dos limites da universidade
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2013 às 15h48.
São Paulo - Engenheiro graduado no Peru, Luige Calderón decidiu fazer mestrado no Brasil por causa dos avanços das pesquisas do país em sua área de atuação: biocombustíveis. Em agosto de 2012, oito dias após defender sua dissertação na Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ), Luige foi contratado pela Granbio, empresa que produz etanol de biomassa.
"Minha bagagem acadêmica era exatamente o que a empresa procurava", afirma Luige, que não considerou difícil a transição da universidade para a empresa. "Meu trabalho hoje é uma extensão da pesquisa que fiz no mestrado."
Nos últimos anos, a pressão para inovar e a dificuldade de encontrar profissionais altamente qualificados fizeram com que as empresas voltassem a atenção para o mundo acadêmico. Pesquisadores gabaritados que por anos tiveram o currículo ignorado no mercado corporativo ganharam uma nova alternativa de trabalho.
Para Diego Mariz, gerente da empresa de recrutamento Michael Page, de São Paulo, responsável pela seleção de profissionais para a área de engenharia, o movimento da universidade para a empresa é muito comum na área técnica atualmente. “É comum que um pesquisador de carreira migre para o mundo corporativo e trabalhe no desenvolvimento de produtos específicos”, diz Diego.
A busca por especialistas acadêmicos é mais acentuada entre mestres do que entre doutores, segundo Antônio Carlos Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), de Brasília. Enquanto apenas 11% dos doutores no Brasil trabalham em empresa pública ou privada, o número de mestres empregados fora da universidade chega a 32%.
A diferença estaria no perfil mais maleável dos mestres, que, em geral, têm menos raízes acadêmicas do que os doutores. “Os mestres têm mais facilidade de se inserir nos processos produtivos, além de ser mais baratos”, afirma Antônio Carlos.
Um novo perfil profissional
Muitas companhias têm desenvolvido programas de recrutamento nas instituições de ensino. É o caso da química Dow, que criou um programa para divulgar oportunidades de trabalho e identificar talentos. “É uma procura constante, já que trabalhamos com inovação e patentes”, diz Graziella Batista, gerente de desenvolvimento de pessoas da Dow em São Paulo.
Um exemplo é Iris Tebeka, química que recebeu uma proposta de trabalho da Dow enquanto ainda fazia doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e planejava um pós-doutorado na Suécia. Três anos se passaram até que a cientista voltasse para o Brasil e fosse formalmente contratada.
“Sempre quis trabalhar na indústria e sabia que a carreira acadêmica me daria a base necessária para me tornar uma pesquisadora. A academia e a indústria são meios diferentes, mas, dentro do ambiente de pesquisa e inovação, há muitas semelhanças”, afirma Iris.
Fora do cenário tecnológico, no entanto, os títulos acadêmicos ainda são pouco valorizados. "As empresas até consideram o mestrado acadêmico como diferencial, mas ele não determina valorização na carreira administrativa. Nesse caso, o conhecimento de mercado conta mais", afirma Diego, da Michael Page.
Dono de um currículo acadêmico impressionante, o advogado carioca Henrique Blecher encontrou dificuldades ao entrar na carreira corporativa. Durante o mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi aceito em um programa de pesquisa na London School of Economics e, logo em seguida, cursou doutorado na Birkbeck University of London.
Com apenas 30 anos, Henrique já dava aula na University of London. De volta ao Brasil, decepcionou-se ao ingressar no mercado financeiro. "Minha vasta experiência acadêmica não encobriu a falta de prática e fui tratado no início como um profissional que nunca trabalhou. Mas esse foi o preço que precisei pagar para mudar de área", afirma Henrique.
Para Antônio Carlos, do CGEE, a dificuldade de transição não é tão grande na engenharia, por ser uma formação mais aplicável. Mais de 50% dos mestres engenheiros estão no mundo corporativo e, de acordo com o especialista, o que facilita a inserção deles em cargos de gestão é a boa interação com os negócios.
"Com o maior engajamento do setor produtivo nas atividades de formação, o aumento das aquisições de competência na academia é uma tendência natural”, diz Antônio Carlos. "Mas ainda precisamos avançar muito na incorporação produtiva dos mestres acadêmicos no Brasil."
São Paulo - Engenheiro graduado no Peru, Luige Calderón decidiu fazer mestrado no Brasil por causa dos avanços das pesquisas do país em sua área de atuação: biocombustíveis. Em agosto de 2012, oito dias após defender sua dissertação na Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ), Luige foi contratado pela Granbio, empresa que produz etanol de biomassa.
"Minha bagagem acadêmica era exatamente o que a empresa procurava", afirma Luige, que não considerou difícil a transição da universidade para a empresa. "Meu trabalho hoje é uma extensão da pesquisa que fiz no mestrado."
Nos últimos anos, a pressão para inovar e a dificuldade de encontrar profissionais altamente qualificados fizeram com que as empresas voltassem a atenção para o mundo acadêmico. Pesquisadores gabaritados que por anos tiveram o currículo ignorado no mercado corporativo ganharam uma nova alternativa de trabalho.
Para Diego Mariz, gerente da empresa de recrutamento Michael Page, de São Paulo, responsável pela seleção de profissionais para a área de engenharia, o movimento da universidade para a empresa é muito comum na área técnica atualmente. “É comum que um pesquisador de carreira migre para o mundo corporativo e trabalhe no desenvolvimento de produtos específicos”, diz Diego.
A busca por especialistas acadêmicos é mais acentuada entre mestres do que entre doutores, segundo Antônio Carlos Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), de Brasília. Enquanto apenas 11% dos doutores no Brasil trabalham em empresa pública ou privada, o número de mestres empregados fora da universidade chega a 32%.
A diferença estaria no perfil mais maleável dos mestres, que, em geral, têm menos raízes acadêmicas do que os doutores. “Os mestres têm mais facilidade de se inserir nos processos produtivos, além de ser mais baratos”, afirma Antônio Carlos.
Um novo perfil profissional
Muitas companhias têm desenvolvido programas de recrutamento nas instituições de ensino. É o caso da química Dow, que criou um programa para divulgar oportunidades de trabalho e identificar talentos. “É uma procura constante, já que trabalhamos com inovação e patentes”, diz Graziella Batista, gerente de desenvolvimento de pessoas da Dow em São Paulo.
Um exemplo é Iris Tebeka, química que recebeu uma proposta de trabalho da Dow enquanto ainda fazia doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e planejava um pós-doutorado na Suécia. Três anos se passaram até que a cientista voltasse para o Brasil e fosse formalmente contratada.
“Sempre quis trabalhar na indústria e sabia que a carreira acadêmica me daria a base necessária para me tornar uma pesquisadora. A academia e a indústria são meios diferentes, mas, dentro do ambiente de pesquisa e inovação, há muitas semelhanças”, afirma Iris.
Fora do cenário tecnológico, no entanto, os títulos acadêmicos ainda são pouco valorizados. "As empresas até consideram o mestrado acadêmico como diferencial, mas ele não determina valorização na carreira administrativa. Nesse caso, o conhecimento de mercado conta mais", afirma Diego, da Michael Page.
Dono de um currículo acadêmico impressionante, o advogado carioca Henrique Blecher encontrou dificuldades ao entrar na carreira corporativa. Durante o mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi aceito em um programa de pesquisa na London School of Economics e, logo em seguida, cursou doutorado na Birkbeck University of London.
Com apenas 30 anos, Henrique já dava aula na University of London. De volta ao Brasil, decepcionou-se ao ingressar no mercado financeiro. "Minha vasta experiência acadêmica não encobriu a falta de prática e fui tratado no início como um profissional que nunca trabalhou. Mas esse foi o preço que precisei pagar para mudar de área", afirma Henrique.
Para Antônio Carlos, do CGEE, a dificuldade de transição não é tão grande na engenharia, por ser uma formação mais aplicável. Mais de 50% dos mestres engenheiros estão no mundo corporativo e, de acordo com o especialista, o que facilita a inserção deles em cargos de gestão é a boa interação com os negócios.
"Com o maior engajamento do setor produtivo nas atividades de formação, o aumento das aquisições de competência na academia é uma tendência natural”, diz Antônio Carlos. "Mas ainda precisamos avançar muito na incorporação produtiva dos mestres acadêmicos no Brasil."