Ministério das Relações Exteriores: a comunidade brasileira nos Emirados Árabes Unidos foi estimada em 9.630 nacionais em 2022 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 25 de julho de 2023 às 18h16.
Última atualização em 26 de julho de 2023 às 14h24.
O brasileiro tem hoje seis opções de países onde é possível estudar e ao mesmo tempo trabalhar legalmente, são eles: Austrália, Emirados Árabes, Irlanda, Espanha, Malta e Nova Zelândia.
Dessa relação, os Emirados Árabes (composto de setes emirados: Dubai, Abu Dhabi, Ajman, Sharjah, Fujairah, Umm Al-Qaiwain e Ras Al-Khaimah) está sendo um dos lugares mais desejados para quem quer ter uma experiência internacional, principalmente Dubai, por oferecer, entre inúmeros benefícios, o visto de estudante com permissão de trabalho sem burocracia e oportunidades de empreender em diferentes setores.
“Para os brasileiros que pensam em estudar inglês e depois trabalhar, os Emirados Árabes, especialmente Dubai, é uma boa opção, por ser um emirado onde o mercado de trabalho é acessível para imigrantes e tem ofertas de salários melhores do que em muitos países desenvolvidos”, afirma Marcelo Melo, especialista em Educação Internacional da agência IE Intercâmbio.
A comunidade brasileira nos Emirados Árabes Unidos foi estimada em 9.630 pessoas em 2022, um aumento de 60,5% em comparação com 2021 que registrou 6.000 brasileiros, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Além de estudos e trabalho, muitos brasileiros também buscam empreender, porque há vários incentivos do governo para quem quer abrir um negócio em uma das zonas francas dos Emirados e isso tem atraído muitas empresas brasileiras, startups e até atletas de jiu-jitsu.
Quando falamos de emprego, importante ressaltar que Dubai é o emirado que mais oferece oportunidades de trabalho. Os imigrantes são bem-vindos neste emirado, afinal, 85% da população é composta de estrangeiros; e por isso, mesmo sendo uma região árabe, o inglês é o principal idioma e logo um dos principais requisitos para conseguir um emprego, afirma Daiana Biondo, gerente responsável pelo mercado brasileiro da ES English, escola de intercâmbio em Dubai.
“Desde seu primeiro dia na cidade e com nível de inglês adequado para trabalho, os alunos podem encontrar facilmente empregos temporários de meio período ou integral, desde que conciliem os estudos. Também existe a possibilidade do empregador mudar o visto de estudos para visto de trabalho.”
Para viajar a Dubai é essencial ter passaporte dentro da validade, enquanto o processo de visto é conduzido pela própria escola, afirma Biondo:
“É muito simples o visto para Dubai. O estudante só precisará enviar a cópia do passaporte e uma foto de rosto digitalizada feita em estúdio, que a escola aplicará para o visto e enviará tudo online. A burocracia é zero.”
O grande diferencial deste emirado é que o aluno tem permissão de trabalho, reforça Biondo. Os estudantes recebem o visto de trabalho de acordo com o tempo de estudo:
“É necessário ter atenção em dois pontos: duração da permissão de trabalho e exigência de nível de inglês intermediário. Por este motivo, a permissão de um ano é a melhor aceita no mercado de trabalho.”, diz Biondo.
Diferentemente de qualquer outro destino do mundo para se realizar intercâmbio, Biondo reforça que em Dubai não é necessário comprovar renda ou comprar passagem de volta ao país de origem para aqueles que contratam o visto de um ano.
“A própria escola solicita o visto que é adquirido de maneira muito simples. O intercambista também terá identidade de residente dos Emirados, que inclui seguro médico básico ampliando suas opções de trabalho, e ainda, poderá abrir conta bancária.”
Não é necessário comprovar renda para estudar ou trabalhar nos Emirados e o custo de vida varia, afirma Marcelo Melo.
“O custo de vida pode ser mais econômico para quem estuda e trabalha em Dubai. O valor médio mensal para o estudante é a partir de 4.000 reais (3.000 dirhams). A moeda local utilizada é o dirham que não está tão acima do real brasileiro. No câmbio atual, está por volta de 1 real = 0,76 dirhams.”
Para quem busca um custo de vida mais econômico, há diversos supermercados populares com preços acessíveis, afirma Melo.
“Para a alimentação, existem locais que vendem produtos brasileiros como o Nativo e Waitrose Supermercados. E o transporte público possui valores semelhantes aos da cidade de São Paulo.”
De acordo com um relatório recente publicado pela Oxford Economics, o setor de turismo de Dubai deverá sustentar 887 mil empregos até 2025.
Outros setores que estão crescendo são:
Os salários iniciais para os estudantes variam de acordo com o tipo de trabalho e da empresa e são livres de impostos, afirma Biondo.
Abaixo, seguem algumas médias salariais em Dubai (sem as gorjetas) de acordo com o levantamento da escola ES English:
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, as mulheres estrangeiras podem usar roupas ocidentais, não sendo obrigatório o uso do véu, exceto nas mesquitas, onde é recomendável cobrir os ombros e joelhos, evitando transparências e decotes excessivos.
“Nas praias, parques aquáticos e piscinas, são aceitos trajes de banho ocidentais, inclusive biquínis. Porém, topless e naturalismo são proibidos”, diz Melo.
Dubai, foi nomeada a terceira cidade mais segura do mundo para mulheres que viajam sozinhas em um estudo do site de seguros de viagem InsureMyTrip, afirma Marcelo. “No geral, Dubai tem uma taxa de criminalidade muito baixa.”
De um lado, o Brasil é um importante parceiro na segurança alimentar da nação do Golfo, por outro, os Emirados nos abastece de combustíveis e adubos que tornam, juntamente, o alimento brasileiro competitivo no exterior, afirma Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara Árabe-Brasileira.
“O Brasil e os Emirados Árabes Unidos têm uma parceria comercial relevante. Em 2022, importamos do pequeno país do Golfo 2,5 bilhões de dólares em petróleo bruto, enxofre e adubos. O Brasil, por outro lado, vendeu 3,2 bilhões de dólares, principalmente frango, açúcar e ouro à federação de emirados. Temos com os Emirados Árabes, portanto, uma parceria comercial absolutamente complementar e não concorrente.”
O petróleo é um produto muito importante para os Emirados Árabes, mas há muito tempo vem perdendo participação no PIB do país, afirma o secretário.
“Hoje o petróleo responde somente por cerca de 15% do PIB emirático, justamente porque o governo local está fazendo investimentos na diversificação econômica como forma de fazer uma transição segura para a era pós-petróleo. Hoje o turismo é o principal motor econômico do país.”
O fato de estar no meio das principais rotas marítimas e aéreas entre Ocidente e Oriente favoreceu o desenvolvimento do turismo nos seus hubs aeroviários de Dubai e Abu Dhabi.
“Também há muito investimento sendo feito, a maioria governamental, no desenvolvimento do mercado imobiliário local, principalmente em Dubai. Também há dinheiro sendo investido na produção de energia limpa (a maior fazenda eólica do mundo fica no país), na produção de alimento e no fomento de reexportação de mercadorias por meio de zonas francas por todo o país.”
Os Emirados Árabes Unidos, que é do tamanho de Pernambuco e têm só 10 milhões de habitantes, possuem cerca de 50 zonas francas e de processamento de exportações. Em 2021, o país exportou 425 bilhões de dólares em mercadorias, receitas obtidas em grande parte com reexportação de mercadorias a partir das zonas francas.
No mesmo ano, o Brasil vendeu 280 bilhões de dólares, a título de comparação. Segundo Mansour, essas zonas francas, por meio de incentivos tributários e facilidades condominiais, vêm atraindo uma gama variada de empresas de todos os portes, inclusive brasileiras.
“Há empresas de variados perfis, tem empresas especializadas em commodities alimentares que vendem aves e café produzidos no Brasil para o mercado local.”
Além disso, Mansour afirma que academias brasileiras de jiu-jitsu têm se instalado no país com muito sucesso, uma vez que o governo local inseriu esse esporte na grade curricular das escolas emiráticas, o qual é praticado pelas Forças Armadas do país. “Tem até empresas brasileiras de açaí vendendo o produto com sucesso nessas academias e em shoppings do país”, diz Mansour.
Existem muitos incentivos do governo emirático para a instalação de empresas e a facilitação de negócios, afirma o secretário.
“Os Emirados Árabes Unidos são um dos poucos países em que estrangeiros podem constituir empresas sem a necessidade de um sócio local, por exemplo. Se o investidor desejar, ele pode fazer todo o processo de formalização da pessoa jurídica local junto à administração das zonas francas, finalizado em questão de dias. Os investidores de imóveis, por exemplo, a partir da aquisição de propriedades acima de 545.000 de dólares ou 2 milhões de dinares locais, podem solicitar vistos com permissão de residência no país por até dez anos, com opção de requisição de cidadania no país.”
O governo emirático também vem fazendo um grande esforço de digitalização e, principalmente, de desburocratização de processos como obtenção de licenças e autorizações como forma de incentivar a vinda de empresas e o intercâmbio de mercadorias, afirma Mansour.