Dia das mães: licença parental e flexibilidade combatem a discriminação
Pesquisa da InfoJobs mostra que 46% das mulheres já enfrentaram constrangimento ou preconceito em processos seletivos por seu gênero
Luísa Granato
Publicado em 8 de maio de 2022 às 09h00.
Quando recebeu a proposta de emprego para assumir o cargo de gerente de cultura e comunicação interna na Loft, Mônica Gimenez pediu um tempo para pensar e dar a resposta.
Ao desligar o telefone, ela contou a novidade para o marido e combinou dos dois saírem para comemorar a oportunidade perdida. Acontece que Mônica havia descoberto na mesma semana que estava grávida e tinha certeza de que iria perder a vaga quando contasse.
“Para a mulher, existe esse lado. Ser mãe é abrir mão de muitas coisas, seu corpo, seu tempo, seu sono. É difícil abrir mão de você”, diz.
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Assim, ela se preparou para a conversa com sua líder. Tudo para a sua nova chefe responder, sem nenhuma hesitação: se você quiser a vaga, ela é sua.
“Perguntei se ela não precisava consultar outras pessoas, e ela disse que me escolheu e que a gravidez era só mais um elemento que eu traria. Comecei a chorar, pois não esperava isso”, diz.
O medo que a profissional sentiu não é injustificado. Em pesquisa da plataforma de recrutamento InfoJobs, 46% das respondentes contaram que já enfrentaram constrangimento ou preconceito em processos seletivos por seu gênero.
Embora a discriminação de gestantes seja proibida pela legislação trabalhista, ainda há preconceito na sala de entrevista. Perguntas que questionam mulheres sobre seus planos para engravidar, uso de contraceptivos ou qualquer outra questão que não se relaciona com seu lado profissional ainda são comuns.
Em outros processos que estava tentando, Mônica conta que comparava as questões que recebia com o marido, que passou por uma transição no mesmo ano.
“Me perguntavam sempre sobre meus defeitos e descobri que nunca fizeram essa pergunta para ele. E existiam formas bem criativas para perguntar se eu era mãe ou tinha algum ‘risco’ de engravidar”, afirma.
Na pesquisa, 69% das entrevistadas concordaram que mulheres não possuem as mesmas chances que os homens ao buscar uma oportunidade de emprego. E para 75% delas, a solução para a questão seria intensificar a licença paternidade.
Visto como um passo importante para acabar com o preconceito e igualar responsabilidades, a licença parental é um dos investimentos da Loft para garantir a igualdade entre gêneros ali.
A empresa oferece licença de 6 meses para qualquer gênero e o benefício se estende para todos os tipos de composição familiar. Para as mulheres, além dos quatro meses de licença compulsória, há mais dois meses com flexibilidade para usar.
“Achava curioso que em todas as etapas do processo, todos reforçavam que havia licença parental. Depois que descobri a gravidez, fiquei pensando se todo mundo percebeu que eu estava grávida e só faltava eu descobrir”, diz.
Em 2021, 32 pessoas fizeram o uso da licença parental, um crescimento de 23% na comparação com 2020, primeiro ano do programa. Entre eles, foram 11 mulheres e 21 homens utilizando o benefício.
Liderança feminina
Enquanto a nova gerente da Loft descobriu a gravidez durante o processo de seleção, Fernanda Weiden já estava na contagem regressiva quando assumiu sua a cadeira de diretora de tecnologia na VTEX.
A executiva entrou na empresa em janeiro e já entrou na licença maternidade com o nascimento de sua segunda filha. Em sua trajetória de mais de 20 anos, estão grandes empresas de tecnologia, como Facebook e Google, em que ocupou cargos executivos.
Em entrevista para a Exame, em março e nas últimas semanas antes de sua licença, ela conta que o período de licença não precisa ser um obstáculo se for encarado com naturalidade.
“Isso mostra que a empresa está falando de um relacionamento de longo prazo. A vida é fluida e temos que ver movimentos com mais naturalidade. Tenho minhas metas do que quero fazer e uma delas é garantir que minha ausência não seja crítica a ponto de paralisar a operação”, diz.
Para isso, ela se planejou para criar autonomia dentro do time e deixá-los empoderados para tomar as decisões.
“Meu papel é organizar o modo de trabalho de forma que eu não vire um funil”, afirma.
Entre os dados coletados pela InfoJobs, quase todas as entrevistadas (98%) concordaram em um ponto: a promoção de mulheres na liderança ajuda a incentivar outras profissionais.
Da mesma forma, a liderança aliada à maternidade ajuda a combater a discriminação contra as mães no ambiente de trabalho. Ter um exemplo na liderança é um caminho, mas ainda é essencial ter boas políticas de recursos humanos para dar segurança e acolhimento dentro da empresa.
Trabalho remoto
Um segundo ponto interessante sobre a nova liderança de tecnologia da empresa de e-commerce: ela mora em Winchester, no Reino Unido.
A flexibilidade de horário e de localidade é um ganho enorme para as mães no mercado de trabalho. Entre as entrevistadas pela InfoJobs, 87% vivenciam a jornada dupla de trabalho, precisando conciliar as demandas da empresa e de casa.
Com essa sobrecarga no dia a dia, 54% afirmam que a rotina impacta negativamente o rendimento e desenvolvimento no trabalho.
Para Carla Florian Pezzi, gerente de People & Culture na Husky, a dificuldade de administrar a jornada de trabalho no escritório, e ainda com a ameaça da pandemia, a fez pausar a carreira após o nascimento do seu filho.
“Minha intenção sempre foi conciliar os dois, mas com a pandemia tudo virou de ponta cabeça. Logo antes da licença, suspenderam meu contrato e foi um baque, fiquei arrasada. Quando passaram os meses da licença, todos os planos tinham mudado e não me sentia confortável em deixar meu bebê. Tentei negociar, mas o sistema tradicional é implacável”, diz.
E, quando seu filho completou um ano, chegou a hora de tomar a decisão de voltar para o mercado. E, com ela, veio o medo: será que ainda existe espaço para mim?
Ela encontrou seu lugar na startup Husky, que a atraiu por causa da cultura de trabalho remoto desde sua fundação. Na empresa, o trabalho é medido por entregas, e não por horas, e a operação é assíncrona.
“A cultura aqui nasceu flexível. Então, eu sinto que fui muito potencializada nesse retorno. Cheguei muito insegura por ter passado um ano fora e ser mãe. E o acolhimento foi total, como mãe e para valorizar o meu lado profissional”, diz.
Com a flexibilidade, ela consegue equilibrar os momentos em que precisa ser mãe e quando precisa ser a líder. Para Carla, a ausência de cobrança para cumprir um horário tira a culpa por não estar presente em certos momentos, o que ajuda a investir toda sua energia em cada papel.
“A minha pausa não tem problema nenhum, se estou com fome ou se preciso de uma hora para amamentação, sei que posso me dedicar a esse momento e vai estar tudo bem. A maternidade me ensinou muitas coisas, mas principalmente a valorizar o tempo”.
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