Concurso da PM do Paraná tem "masculinidade" como critério de avaliação
Segundo critério do edital, os candidatos com o perfil da vaga não podem se emocionar facilmente ou gostam de histórias de amor
Luísa Granato
Publicado em 13 de agosto de 2018 às 13h40.
São Paulo - O concurso público para cadetes da Polícia Militar do Paraná abre inscrições nesta segunda-feira com uma polêmica: a exigência de "masculinidade" como um dos 72 critérios da avaliação psicológica.
No anexo 2 do edital, uma característica de avaliação do perfil para ocupar o cargo é descrita como a “capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor”.
Um dos mais concorridos do estado, com salário que pode chega a 9.500 reais, o concurso oferece 16 vagas, com duas reservas para afrodescendentes e abertas para todos os gêneros. No entanto, até 50% delas podem ser preenchidas por mulheres.
Segundo nota do Aliança Nacional LGBTI+ e do Grupo Dignidade, a exigência desconsidera a candidatura de mulheres ou pede que elas tenham características consideradas masculinas. "Fere a Declaração Universal de Direitos Humanos e a Constituição Federal Brasileira no que diz respeito à igualdade de todas as pessoas, além de estar na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) em relação ao alcance da igualdade entre os gêneros", diz a nota.
A avaliação psicológica da PM é feita por psicólogos, civis e/ou militares inscritos no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O órgão vai discutir seu posicionamento sobre o edital.
Para o portal G1, a coordenadora da Comissão de Avaliação Psicológica do CRP-PR, Mari Angela Calderari Oliveira, informou que alguns itens estão em desacordo com normas para a avaliação para concurso público. Ela destaca a questão discriminatória de gênero do item "masculinidade" e a dificuldade de análise objetiva dos candidatos.
A reportagem de EXAME tentou o contato com a Polícia Militar do Paraná, mas não obteve resposta. Ao G1, a corporação afirmou que a interpretação do critério foi equivocada. O objetivo era “avaliar a estabilidade emocional e a capacidade de enfrentamento, aspectos estes extremamente necessários para o dia a dia da atividade policial militar”.