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Carreira pública é mesmo para você?

Pensa em prestar concurso e seguir carreira pública? Profissionais e especialistas desmitificam a imagem de quem trabalha no setor

Carreira pública: o servidor deve nutrir uma satisfação com as pequenas conquistas do cotidiano (stock.XCHNG)
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Da Redação

Publicado em 25 de janeiro de 2015 às 05h00.

O governo brasileiro (federal, estadual e municipal) emprega 3,2 milhões de pessoas, de acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2012.

É o equivalente a 1,6% da população – se fosse uma empresa, seria maior do que qualquer outra no mundo em número de funcionários! Consequentemente, melhorar a gestão dessa enorme força de trabalho, assim como acontece nas grandes companhias do setor privado, se tornou uma necessidade para União, estados e municípios.

Nos últimos anos, muitos governantes têm tomado medidas nessa direção. A principal delas é sair em busca de servidores com ótima formação acadêmica, capazes de modernizar o serviço prestado à sociedade. Na prática, eles oferecem altos salários associados aos postos de maior qualificação e possibilidade de crescimento.

A boa notícia é que cada vez mais jovens recém-formados vislumbram começar sua carreira no setor público. Na esfera federal, por exemplo, o número de funcionários com menos de 30 anos de idade acresceu 113% nos últimos 12 anos, segundo o IBGE. O que ainda precisa mudar, porém, na opinião de profissionais e especialistas, é o motivo pelo qual muitos desses jovens escolhem essa carreira – que ao mesmo tempo também afasta muita gente do setor.

Desde a crise financeira de 2008, diante das incertezas da economia, muitos deles ainda optam pelo funcionalismo público motivados especialmente pela estabilidade dos cargos em comparação à alta competitividade do setor privado – e não por considerar a carreira pública desafiadora ou pela chance de contribuir diretamente na construção de políticas para um país melhor.

Àqueles que já consideram o setor público para começar sua carreira e também àqueles que acreditam que ser funcionário público é sinônimo de ser acomodado, propomos algumas reflexões:

Comodismo versus eficiência
Para Fernando Abrucio, coordenador do curso de Administração Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a antiga ideia de que o setor público é para os acomodados não poderia estar mais errada. “Para aumentar a eficiência da máquina pública, precisamos de profissionais muito qualificados e empenhados”, ele comenta.

A trajetória de Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, reforça essa opinião. Ao longo de sua carreira, Denis manteve relação constante com órgãos públicos, tendo inclusive trabalhado para o Ministério da Justiça durante um ano. “Existe um mito de que no governo se trabalha pouco ou que quem vai para o setor público é porque não encontrou espaço no setor privado. Não é bem assim. As questões mais complexas estão na esfera pública. É muito difícil, por exemplo, melhorar a educação de um país. Para trabalhar com isso tem que ser bom."

Estabilidade versus impacto
Muitas pessoas buscam cargos públicos de olho na famosa estabilidade profissional. De fato, nossa Constituição garante aos trabalhadores estatuários (aqueles que passaram em concursos) uma estabilidade raramente vista em empresas. O afastamento do emprego só pode ocorrer em casos graves – se você parar de aparecer para trabalhar, por exemplo. Porém, esse mesmo benefício não vale para estagiários, ocupantes de cargos por indicação e funcionários contratados sem concurso – todos eles também servidores públicos.

Karla Trindade, diretora da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), diz se decepcionar com jovens que prestam concursos públicos simplesmente em busca de estabilidade. “Se sua principal preocupação aos vinte e poucos anos é essa, você não é a pessoa que eu gostaria de ter na área pública”, afirma. Para Karla, aqueles que querem trabalhar no setor devem ter o sonho de fazer a diferença. “Essa área só serve para quem tem vontade de contribuir de alguma forma para os outros, quem se satisfaz em melhorar a vida de alguém”, diz.

Frustração versus satisfação
Apesar de ter esse sonho grande, também é necessário nutrir uma satisfação com as pequenas conquistas do dia a dia. “Se você espera mudar o mundo inteiro no seu primeiro ano de trabalho, a chance de você se frustrar é enorme. O Estado em geral é lento, e aquele projeto superambicioso em que você está trabalhando pode demorar muito mais do que o esperado para sair do papel", diz Karla.

Isadora Cohen, diretora da SPDA (Companhia São Paulo de Desenvolvimento e Mobilização de Ativos), também insiste na satisfação com as conquistas cotidianas. Ela, que trabalhou em sete projetos e viu apenas um ser implementado, diz ter ganhado experiência e conhecimento com tudo o que fez. O empecilho para certos empreendimentos serem colocados em prática pode vir de cortes de orçamento ou mesmo de conflitos políticos. Para ela, isso é parte do desafio. “Se não for possível fazer algo do jeito tradicional, é preciso pensar fora da caixa e buscar maneiras inovadoras de fazer aquilo acontecer.”

São Paulo - A estabilidade profissional é o grande ponto forte da carreira pública e o que motiva milhares de concurseiros a persistirem nos estudos. Por outro lado, o comodismo de alguns servidores pode incomodar, assim como a natureza pouco criativa de algumas tarefas. EXAME.com colheu depoimentos de nove jovens aprovados em concursos públicos para saber o que eles consideram o melhor e o pior no trabalho como servidores públicos. De técnicos, a juízes, confira o que eles disseram:
  • 2. Isabela Ferrari – juíza federal

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    Idade: 29 anos
    Tempo no cargo: 2 anos, sendo 5 anos de carreira pública no total. O que mais gosta na carreira pública: “A estabilidade. Essa segurança sobre a permanência no cargo permite ao indivíduo programar a sua vida com tranquilidade. Daí decorrem vantagens financeiras referentes a planejamento de longo prazo e vantagens emocionais, como a tranquilidade proporcionada às mulheres com relação ao planejamento familiar e a serenidade perante crises econômicas ou mudanças estruturais. Colaborar para o bem estar social também é muito gratificante”, diz. O que menos gosta na carreira pública: “Talvez a maior desvantagem do serviço público seja a falta de reconhecimento, por parte do Estado, do serviço bem realizado. Essa costuma ser a causa do comodismo, tão referido quando se pensa em funcionalismo público. Além disso, no Brasil, percebemos que existem graves distorções com relação à meritocracia. Um avanço foi a vedação ao nepotismo. Outro é a defesa, cada vez mais intensa, da adoção de uma concepção gerencial de Administração Pública”.
  • 3. Aloysio Lopes – delegado do RJ

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  • Idade: 26 anos Tempo no cargo: 1 ano Como estudou: pelo site Questões de Concursos O que mais gosta na carreira pública: “O maior ponto forte do serviço público é a estabilidade, e, no meu caso em específico, a possibilidade que o meu trabalho me proporciona de ajudar a sociedade a viver de forma mais pacífica e harmônica. É a minha grande realização pessoal”. O que menos gosta na carreira pública: “o comodismo que alguns servidores apresentam quando ingressam na carreira pública, pensando que, por ter a estabilidade, não precisam se dedicar como fariam no setor privado”.
  • 4. Luana Santarém – técnica do Ministério Público do RJ

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    Idade: 30 anos. Tempo no cargo: 2 anos e meio. Como estudou: pelo site Questões de Concursos. O que mais gosta na carreira pública: “ a estabilidade, o fato de você conseguir planejar sua vida, sem aquela incerteza da área privada.O salário também me chamou bastante atenção, sem contar que trabalho na área que sempre quis, sou servidora do MP e faço faculdade de Direito. Assim que acabar meu curso pretendo voltar à rotina de concurseira.” O que menos gosta na carreira pública: “é um serviço bem rotineiro, sem muita criatividade”.
  • 5. Priscila Wagner - juíza federal do trabalho

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    Idade: 31 anos. Tempo no cargo: 2 anos. Como estudou: Curso Ênfase. O que mais gosta na carreira pública: "a estabilidade é o ponto mais forte. Não há dúvidas de que os frutos trazidos por esta tranquilidade devem ser reconhecidos, especialmente para as mulheres, que possuem via de regra jornada dupla e ainda enfrentam algumas dificuldades na iniciativa privada. Outro ponto importante é a pontualidade no pagamento.” O que menos gosta na carreira pública: “Para mim, a maior dificuldade na carreira pública é o salário, que varia de acordo com o governo existente no país. Alguns governos valorizam mais o servidor público, outros nem tanto”.
  • 6. Taciana Garcia – técnica da Defensoria Pública do RJ (DPGE-RJ)

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    Idade: 30 anos. Como estudou: pelo site Questões de Concursos. O que mais gosta na carreira pública: “trabalhar na Defensoria não é um mero trabalho burocrático. É um trabalho humano. A vivência que se tem com as histórias dos assistidos não é possível ter em nenhuma outra instituição. Trabalhar na Defensoria se torna uma doação de amor ao próximo cultivada diariamente. É muito gratificante. E será ali que minha carreira seguirá seu fluxo!” O que menos gosta na carreira pública: “sinceramente, não tenho essa visão, pois a cada dia penso que existe uma oportunidade a mais de contribuir com as pessoas por meio de um órgão que cumpre seu papel de possibilitar acessibilidade à Justiça gratuita”.
  • 7. Camila Lima – agente executiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

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    Idade: 31 anos. Tempo no cargo: quase 3 anos. O que mais gosta na carreira pública: “estabilidade, benefícios, flexibilidade no horário, o fato de poder realizar cursos de capacitação e de trabalhar em um local acessível para pessoas com necessidades especiais, como eu. Consigo ter horário especial sem redução de salário para fazer os tratamentos que preciso em um período do dia”. O que menos gosta na carreira pública: “do engessamento da administração pública”.
  • 8. Rafaela da Silva Mello - técnica judiciária do TRT

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    Idade: 25 anos. Tempo no cargo: 6 anos. Como estudou: aluna do curso Toga, atualmente estudando para ser juíza. O que mais gosta na carreira pública: “estabilidade, bons salários, plano de carreira”. O que menos gosta na carreira pública: “o fato de os serviços serem permanentes, com pouca variação nas tarefas”.
  • 9. Priscila Martinho da Costa - procuradora da Fazenda Nacional (PGFN)

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    Idade: 34 anos. Tempo no cargo: 1 ano e 2 meses. Como estudou: curso Ênfase. O que mais gosta na carreira pública: “da segurança do vínculo que me permite exercer minhas funções com mais tranquilidade, do caráter democrático do ingresso (concurso público), da possibilidade de continuidade dos estudos, por meio de cursos de especialização e de reciclagem, bem como pós-graduação e mestrado”. O que menos gosta na carreira pública: “ é da ausência de mecanismos mais efetivos de estímulos àqueles que se destacam em sua atuação, tal como ocorre na iniciativa privada, bem como da dificuldade em se modernizar e aprimorar a infraestrutura do local de trabalho, por meio da contratação de novos servidores da carreira de apoio e aquisição de materiais, em decorrência da limitação orçamentária”.
  • 10. Mariana Albuquerque - funcionária da Petrobras

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    Idade: 24 anos. Tempo no cargo: 2 anos e meio. Como estudou: pelo site Questões de Concursos. O que mais gosta na carreira pública: “a estabilidade. Hoje, no mercado altamente competitivo, essa estabilidade traz um pouco de tranquilidade. Outro fator muito importante, especificamente no meu caso, é a flexibilidade de horário e a tranquilidade de se trabalhar sem muita pressão e tantas cobranças. Destaco também o investimento que a minha empresa, em especial, tem em relação à atualização e ao aperfeiçoamento de seus empregados”. O que menos gosta na carreira pública: “a comodidade de alguns servidores. Devido à segurança no emprego, talvez não se esforcem o suficiente para ter um bom desempenho no trabalho e colaborar com os demais”.
  • 11. Agora veja as estratégias de estudo de concurseiros aprovados em 1º lugar

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  • Este artigo foi originalmente publicado no Na Prática, portal de carreira da Fundação Estudar

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