TRENDS: Marketing orgânico e humor brasileiro na chegada do Koo
O que podemos aprender com a ascensão da nova plataforma indiana que promete substituir o Twitter
Bússola
Publicado em 23 de novembro de 2022 às 13h30.
Última atualização em 23 de novembro de 2022 às 14h00.
No dia 17 de novembro, o Twitter anunciou o fechamento temporário de seus escritórios. Em outubro deste ano, Elon Musk assumiu a propriedade da empresa já causando alvoroço, demitindo todo o conselho, a liderança sênior e inúmeros funcionários. Mais da metade da força de trabalho foi exonerada e as cabeças ainda continuam rolando.
O novo proprietário da plataforma, famoso por ser um dos maiores empreendedores do mundo, criador da Tesla, da SpaceX, entre outras, que ainda quer colonizar Marte, não imaginou que essa bagunça toda, pautada por uma liderança autocrática, dentro de uma empresa que funcionava sob outra gestão, pudesse levar o próprio Twitter a subir tópicos como #RIPTwitter e impulsionar uma outra rede social a vertiginosos números de novos seguidores, em pouquíssimos dias. A possível “morte do Twitter”, e as tantas informações desconjuntadas, fez com que os usuários baixassem o Koo, aplicativo criado por empresários indianos, que tem como logo um passarinho amarelinho que não voa, mas tem os dois pezinhos fincados no chão.
Enquanto o Twitter parecia voar de vez, no momento da dúvida e, talvez medo de perder uma rede social que permite uma comunicação muito rápida e eficiente, usuários buscaram, e encontraram, uma plataforma muito parecida e com um nome engraçado: Koo.
Entre aderir a outra concorrente, de nome não muito atraente, e essa que gera memes automáticos e faz rir, os brasileiros optaram pelo humor.
Mal sabiam Apraneya Radhakrishna e Mayank Bidawatka, fundadores do aplicativo, que tinham ganho, em um dia, mais de 1 milhão de seguidores brasileiros.
Com apenas dois anos de existência e aproximadamente 200 funcionários, a surpresa veio por meio de um dos colaboradores que notou a mudança rápida nos números. O Koo já anunciou, de acordo com o site Zeenews, que se tornou o segundo maior microblog disponível no mundo.
Podemos imaginar como a equipe “quebrou a cabeça” para entender essa evolução. Em poucos dias, o aplicativo já estava perguntando aos brasileiros se deveria mudar de nome e já disponibilizou traduções para o português.
É claro que, no país da piada pronta, a maioria votou “não”. Todos querem continuar com o Koo original, senão perde a graça.
O trocadilho que existe com a pronúncia na língua portuguesa alavancou a rede social, não há dúvida, mas é importante analisar como uma série de coincidências, de estar no lugar certo, na hora certa, é fundamental para o sucesso de qualquer negócio.
Não podemos negar que os idealizadores do Koo se inspiraram no Twitter. A plataforma tem quase as mesmas funções, com a principal diferença de permitir um número maior de caracteres.
O logo é também o de um passarinho. O nome é similar na funcionalidade: Twitter se refere aos sons dos pássaros; Koo é o som que o pássaro amarelo emite lá na Índia.
O aplicativo ganhou popularidade em seu país de origem quando vários funcionários do governo migraram suas contas após o Twitter negar o bloqueio de ativistas e políticos acusados de espalhar fake news.
Apoiadores seguiram e aumentaram a base de usuários do Koo.
Em outros países como Nigéria também aconteceu o mesmo.
No Brasil, o movimento é por outro motivo, mas fica claro que a escolha, para além do nome e do humor, é baseada na funcionalidade. Por planejamento ou previsão de que o Twitter iria dar mais uma deixa, o Koo foi lançado no Brasil, mas só quando significou um benefício diante de uma crise, viralizou.
Oportunista? Talvez. Estratégico? Muito.
Mas nem os líderes do aplicativo puderam prever que soaria tão bem neste país tropical.
O que podemos observar é que, quando o riso é provocado, o engajamento é maior.
O fato do Koo suscitar tantas brincadeiras, fez com que empresas como Burger King, Serasa e Ponto Frio logo lançassem suas provocações.
Influenciadores como Casimiro, Felipe Neto, Juliana Paes, e tantos outros, aderiram à plataforma, alardeando a nova aquisição.
Marketing orgânico impulsionado por nomes que trazem muito público.
Mais um exemplo que se deve seguir e não esquecer.
Quando o crescimento é orgânico tem maior possibilidade de engajamento e fidelização. São várias pessoas falando sobre a mesma coisa, ao mesmo tempo, sem estarem ganhando nada por isso. Se a piada seguirá provocando risos, e novos seguidores, não sabemos. O que temos como cenário é uma nova rede social que ascendeu de maneira espontânea e que não está medindo esforços para fincar seus pés no Brasil.
Se o Twitter continuar a devanear, vai virar motivo de chacota do passarinho amarelo que, na verdade, não está de brincadeira.
*Alexandre Loures e Flávio Castro são sócios do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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