SXSW 2022: a distopia nua e crua de Amy Webb
Futurista destacou quatro temas-chave, apontando implicações que vão de preocupantes a caóticas
Bússola
Publicado em 14 de março de 2022 às 17h32.
Última atualização em 14 de março de 2022 às 17h48.
Por Rodrigo Carvalho*
Durante o último fim de semana, enquanto muitos maratonavam uma série de ficção e derrubavam pipocas no vão do sofá, a renomada futurista Amy Webb subia ao palco do SXSW 2022 para descrever uma versão ainda mais distópica e alarmante do futuro do que a que havia deixado na edição do último ano.
Resumindo centenas de páginas de pesquisas do relatório anual do Future Today Institute, Amy Webb destacou quatro temas-chave, como: inteligência artificial, metaverso, home of things, além de descentralização e blockchain — apontando implicações bastante críveis para cada um deles que vão de preocupantes a caóticas. "As pessoas criarão várias versões digitais de si mesmas, cada uma adaptada para fins específicos. Isso levará à fragmentação e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e quem ela projeta ser em várias plataformas online", aponta Webb sobre a popularização do Metaverso.
Segundo ela, a evolução desses temas pode contribuir para a criação de um cenário de desinformação, quebra de privacidade, roubo de dados, exaustão e fragmentação do indivíduo, catástrofe climática e terrorismo biológico, entre outras questões.
A escolha de Amy em trazer uma tônica alarmante em oposição à tradicional visão romântica do progresso tecnológico não é necessariamente uma estratégia para chamar a atenção da audiência e ganhar as manchetes mundo afora. Ela reflete a urgência de considerarmos os paradoxos e as ambiguidades que os avanços tecnológicos trazem consigo e que, por vezes, são negligenciados pela esteira comercial da inovação.
E ela continua: "As tendências nos convidam a considerar resultados alternativos àqueles que imaginamos inicialmente. Também desbloqueiam algo inestimável em cada um de nós: a capacidade de 'reperceber' a realidade. O ato de 'repercepção' desperta para a possibilidade de um futuro diferente das nossas expectativas atuais."
Distópica sim, pessimista não. Amy Webb sabe do papel influente que ocupa na comunidade do SXSW e sabe também que o mundo assiste de perto às análises e às previsões do Future Today Institute. Nesse sentido, iluminar o lado feio da inovação e da tecnologia é um serviço prestado a todo o ecossistema para que as lideranças de projetos e empresas ligadas a esses temas assumam uma rota responsável e reflitam as mudanças necessárias hoje, afinal, ela complementa que "a previsão estratégica resulta em preparativos, mais do que em previsões" e o progresso está em construirmos futuros viáveis e inclusivos.
*Rodrigo Carvalho é diretor de inovação da iD\TBWA
Siga a Bússola nas redes:Instagram|LinkedIn|Twitter|Facebook|YouTube