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Stevin Zung: envelhecimento, sociedade e cultura

Como o envelhecimento é visto pela sociedade moderna e por que é importante desmistificá-lo

"Se você avaliar várias pessoas idosas, provavelmente desconstruirá um dos grandes mitos: o de que todo idoso é igual" (Nayomiee / Thinkstock)

"Se você avaliar várias pessoas idosas, provavelmente desconstruirá um dos grandes mitos: o de que todo idoso é igual" (Nayomiee / Thinkstock)

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Publicado em 30 de novembro de 2023 às 08h00.

Por Stevin Zung*

Você já se imaginou mais velho? As imagens que aparecem são positivas ou negativas?

Parte dessa percepção decorre de suas experiências – ou de pessoas próximas e familiares – com o envelhecimento, mas muito deriva também das imagens que lhe são mostradas pelos meios midiáticos. Estas, por sua vez, decorrem do papel que a pessoa idosa representa e de como a sociedade na qual ela vive a percebe.

Secularmente as sociedades orientais, mais coletivistas, percebem os mais velhos como mais experientes e sábios, não só no aspecto meramente intelectual, mas também no de conhecimento e experiência da vida. Com isso, a percepção do envelhecimento tende a ser mais positiva, embora relatos mais recentes mostram um viés mais negativo com o advento das mídias sociais e o maior envelhecimento demográfico populacional a nível global.

Já as sociedades ocidentais, mais individualistas e que costumam categorizar a produtividade como sinônimo de saúde e qualidade de vida de uma pessoa, sempre apresentaram uma visão mais negativa da pessoa mais velha. 

Mas será que essas associações e imagens são verdadeiras ou são apenas mitos que acabamos tomando por fatos e que condicionam nossa forma de pensar sobre o envelhecimento?

De onde vem a imagem negativa do envelhecimento?

Se você avaliar várias pessoas idosas, provavelmente desconstruirá um dos grandes mitos: o de que todo idoso é igual. A partir dessa conclusão, terá a capacidade de avaliar que cada pessoa envelhece de uma forma diferente, porque a percepção de envelhecimento e as oportunidades de educação, saúde e trabalho são únicas e permitem que algumas tenham um envelhecimento mais saudável e ativo do que outras.

O processo de percepção do envelhecimento inicia-se com a incorporação de imagens que nos são apresentadas ainda na infância. Muitas dessas referências apresentam-se em filmes, séries e em contos de fadas, em que geralmente a pessoa idosa é representada com características negativas: ranzinza, invejoso e mau. Vale dizer que essa imagem do idoso vem sendo modificada e modernizada nos últimos tempos, mas ainda há um longo caminho para que essa desmistificação seja feita por completo. 

Impacto social e necessidade de desmistificação 

Diversos estudos interessantes mostram a relação entre percepção negativa do envelhecimento, discriminação e doenças. Em um deles, iniciado em 1968, 386 indivíduos com idade entre 18 e 49 anos foram selecionados para fazer parte de um estudo longitudinal, sendo avaliados por 38 anos com o objetivo de verificar se havia correlação entre estereótipos negativos e eventos cardiovasculares futuros. 

Os indivíduos jovens que tinham mais estereótipos negativos do envelhecimento apresentaram, tanto um maior número de eventos cardiovasculares, bem como os apresentaram em uma idade mais precoce do que aqueles que tinham menos estereótipos negativos. Ou seja, este estudo mostrou que a projeção negativa sobre envelhecer esteve diretamente relacionada ao surgimento de doenças cardiovasculares. 

É importante combater a ideia de que envelhecer é ruim. Ainda que os idosos tenham que fazer uma grande adaptação e redobrar os cuidados com a saúde, visualizar e investir em um envelhecimento saudável é também ir contra essa sentença. 

Essa desmistificação é necessária e deve englobar diferentes esferas: meios de comunicação, produções audiovisuais, centros culturais, debates de inclusão, discurso em ambientes médicos... Começando com o olhar e cuidado das interações intergeracionais em nossas famílias. É a sociedade como um todo trabalhando para que cada vez mais o envelhecimento seja encarado como mais uma fase da vida, tão importante como as outras.

*Stevin Zung é médico psiquiatra e diretor médico do Aché Laboratórios Farmacêuticos

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