Sem plano para 3ª dose, Brasil tende a seguir atrasado no combate à covid
Israel dá sinais de eficiência da 3ª dose da vacinação; no Brasil, o ministro defende que isso aconteça somente depois das duas doses em toda população
Bússola
Publicado em 23 de agosto de 2021 às 18h42.
Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 23h45.
Por Marcelo Tokarski*
O Brasil atingiu neste fim de semana quase 60% de população com imunização parcial ou total contra a covid-19. Pelos dados oficiais, temos 58% dos brasileiros que tomaram pelo menos uma dose de alguma vacina, incluídos aí os 26% que já receberam duas doses ou dose única e já estão imunizados. Mas, apesar dos recentes avanços na vacinação, o país parece continuar atrasado na corrida contra a pandemia.
Isso porque o mundo já discute abertamente a adoção da terceira dose dos imunizantes, a fim de reforçar a resistência de quem se vacinou há cinco meses, principalmente idosos, o público de maior risco quando infectado pelo coronavírus. Neste fim de semana, foi publicado em Israel um primeiro estudo indicando a eficácia de se adotar mais uma etapa na campanha de imunização.
De acordo com os dados, pessoas com 60 anos ou mais que receberam a terceira dose (no caso de Israel, do imunizante da Pfizer) passaram a ter uma imunidade contra o contágio quatro vezes maior do que a gerada após a segunda dose. A proteção também é até seis vezes superior em relação a doenças graves e necessidade de internação. Ainda são estudos iniciais, mas indicativos da eficácia da dose extra.
No Brasil, o debate sobre a estratégia da terceira dose ganha cada vez mais corpo. Na semana passada, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu que um eventual reforço não seja feito antes que toda a população adulta tenha recebido as duas primeiras doses, o que no Brasil ainda está longe de acontecer. Mas é cada vez maior o coro dos infectologistas que defendem a adoção da terceira dose já, pelo menos para idosos.
Casos e óbitos
Mesmo com apenas um quarto dos brasileiros imunizados com duas doses ou dose única, o avanço da vacinação reduziu sensivelmente o número de mortes por covid-19 no Brasil. Neste fim de semana, a média móvel atingiu 781 mortes/dia, o menor patamar desde 5 de janeiro. Nos últimos 30 dias, a média diária de óbitos caiu 32%.
Já a curva de contágio dá alguns sinais contraditórios. Até a semana passada, quando a média diária chegou a 28.338 novos casos, a queda vinha sendo significativa. Somente entre 14 de julho e 14 de agosto, houve uma redução de 34%. No entanto, na última semana o número de casos parou de cair e voltou a crescer levemente, tendo atingido 29.542 no último domingo.
A alta ainda é discreta, mas o fato de estarmos há uma semana em um patamar estável mostra que o contágio pode voltar a crescer, fruto da variante delta e também do relaxamento das medidas de distanciamento social.
O que mais tem preocupado os infectologistas é um novo crescimento no volume de casos e internações de pessoas com 60 anos ou mais, justamente um dos primeiros públicos a terem recebido a vacina. Isso pode ser um indicativo de perda de proteção ao longo do tempo, o que leva justamente à discussão sobre a necessidade da terceira dose. Os primeiros dados mostram que esse caminho parece inevitável. Resta saber se, dessa vez, tomaremos a decisão no timing correto.
*Marcelo Tokarskié sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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