Exame Logo

Saiba como se proteger de doenças trazidas pelo home office

Para especialistas da Rede Santa Catarina, a adoção de alguns hábitos no home office pode contribuir para o surgimento de problemas físicos e psicológicos

Devido à pandemia, ofertas de trabalho para regimes flexíveis cresceram em 309%, mas é importante se atentar à saúde. (Yapanda/Getty Images)
B

Bússola

Publicado em 27 de julho de 2021 às 18h43.

Um levantamento divulgado pelo Ipea, em 2020, identificou que cerca de 7,3 milhões de brasileiros trabalham remotamente, contabilizando cerca de 9,1% da população ocupada e não afastada. Em adição, dados de uma das maiores plataformas de busca de vagas do país demonstraram que, no ano passado, as ofertas de trabalho para regimes flexíveis aumentaram 309%. Com a adoção a longo prazo do home office, novos hábitos podem levar a incidência de complicações físicas e psicológicas envolvendo áreas do corpo. A Bússola conversou com especialistas da Rede Santa Catarina para entender como se proteger de doenças trazidas pelo trabalho em casa.

Visão

A exposição por longos períodos a monitores está entre as principais mudanças de hábito adotadas no trabalho à distância e, segundo Victor Cvintal, oftalmologista do Hospital Santa Catarina — Paulista, esta prática pode levar a determinadas repercussões oculares. “A utilização dos monitores leva a uma eventual diminuição na frequência do piscar dos olhos e isso pode acarretar em uma instabilidade da qualidade de visão", afirma o oftalmologista. O especialista aponta que este fenômeno diminui a lubrificação dos globos oculares e, por isso, sintomas como a secura e ardor podem surgir como consequência.

Veja também

Além disso, quando utilizados por períodos prolongados, estes dispositivos podem, até mesmo, alterar determinados aspectos da visão como a capacidade de enxergar de perto e, nas crianças, estimulam a miopia. Quando o assunto é a prevenção deste desconforto, o especialista recomenda um piscar voluntário ocasional para garantir um nível de lubrificação adequado, além do uso de lubrificantes para estabilizar a lágrima, pausas a cada 20 minutos no trabalho, evitando o uso da visão para perto por 20 segundos, e atividades diárias ao sol. É importante lembrar que a posição do monitor é fundamental para a saúde ocular: a pessoa deve estar sentada a um braço de distância, com o monitor ligeiramente abaixo da linha dos olhos, e seu brilho não deve competir com a luz ambiente.

Ergonomia e sedentarismo

A falta de atividades físicas e a adoção de determinadas posições inadequadas no trabalho à distância também são fatores que levantam certa preocupação em relação aos cuidados durante o home-office. O cenário pandêmico eliminou temporariamente a necessidade de locomoção ao trabalho que, para muitos, envolvia breves caminhadas que contribuem para a manutenção do sistema musculoesquelético.

De acordo com Renato Sorpreso, ortopedista do Hospital Santa Catarina — Paulista, além da extinção destes pequenos momentos de atividade física, a utilização de ambientes residenciais como escritório gera situações ergonomicamente desfavoráveis. “A posição sentada é a mais adotada nos ambientes de trabalho, porém a manutenção prolongada deste hábito ocasiona a adoção de posturas inadequadas e a sobrecarga de determinadas estruturas corporais, o que pode levar à dores no pescoço, lombar, dorsal, braço, antebraço, mãos, entre outras regiões.

Por isso, permanecer sentado por longos períodos trabalhando no computador é uma das principais causas das dores posturais durante o home-office”, afirma o especialista. Para prevenir esse possível mal-estar e compensar a falta de exercício, recomenda-se a adoção de uma rotina de atividades físicas na proporção de 5 a 7 dias por semana, acumulando 210 a 400 minutos no período indicado.

Lesões em membros superiores

De acordo com o médico coordenador do serviço de cirurgia da mão da Casa de Saúde São José, Adalto Lima, o número de pacientes com problemas nos membros superiores decorrentes do excessivo volume de trabalho e falta de estrutura adequada ainda é grande, podendo resultar até mesmo em casos cirúrgicos. Segundo ele, houve um aumento significativo, cerca de 40%, na incidência de tendinopatias em membros superiores devido ao home office.

“É fundamental ter uma atenção especial em relação à ergonomia, pois a falta de cuidados gera posições viciosas que afetam a carga tendinosa, causando dor, dormência e perda da capacidade funcional. A pausa para o cafezinho era um momento importante na rotina do escritório, mas isso não acontece no home office, ao contrário, a carga de trabalho tem sido maior e quando há essa pausa, acabamos fazendo alguma tarefa doméstica”, diz.

Outra questão que também tem sido frequente nos consultórios é o estresse e fadiga muscular, problema que também aumentou durante a pandemia, especialmente no punho e nas mãos. De acordo com Lima, a diminuição dos cuidados médicos durante esse período, aliada à redução dos exercícios físicos e ao aumento da ansiedade, geram um estresse e um aumento de esforço, causando o desconforto e a dor. Como forma de prevenir lesões e até eventuais tratamentos cirúrgicos, o cirurgião da mão recomenda alongamentos, fortalecimento muscular, ajuste nas posições ergonômicas, divisão adequada na carga de trabalho e de funções domésticas e avaliação periódica do médico especialista. “O ajuste da estação de trabalho é fundamental, assim como a prática de exercícios laborais. Ao surgirem sintomas, não se automedique. Procure um profissional de saúde para avaliação”, declara o médico.

Alimentação

Quando o assunto é a alimentação durante o trabalho a distância, surge um alerta em relação ao consumo excessivo de determinados tipos de carboidrato. Os chamados carboidratos simples, que incluem mel, açúcar, xarope de milho e farinhas são os que mais merecem atenção no dia a dia, pois são práticos e, ao contrário dos carboidratos complexos, não possuem um nível relevante de nutrientes, vitaminas e fibras. Uma pesquisa conduzida em 2020 pela Fiocruz mostrou que o consumo de doces e chocolates, que fazem parte deste grupo alimentício, aumentou 63% entre jovens adultos em meio à pandemia.

Segundo Ricardo Rienzo, endocrinologista do Hospital Santa Catarina — Paulista, uma das primeiras repercussões da ingestão exacerbada desta categoria alimentícia é o risco de aumento das triglicérides, que contribuem para o armazenamento de energia. “Quando os triglicerídeos se encontram em alto nível no sangue, a probabilidade para o desenvolvimento de doenças cardíacas aumenta”, afirma. Entre as ações que podem ser adotadas para evitar o desenvolvimento de complicações relacionadas a este fenômeno estão a prática de atividades físicas e a manutenção de uma dieta balanceada, garantindo que os carboidratos respondam por, no máximo, 60% das refeições individuais. No caso dos açúcares, a Organização Mundial da Saúde recomenda que estes devem compor 5% das refeições. Segundo o especialista, anotar os hábitos alimentícios pode contribuir para este monitoramento.

Cardiopatias

Vale notar que o sistema cardiovascular também pode ser impactado pelos hábitos desenvolvidos nesta nova modalidade de trabalho e, por isso, os cuidados relacionados ao coração são de extrema relevância neste cenário. Embora o regime de home-office contribua positivamente para evitar a circulação de pessoas na rua em meio à pandemia, a permanência em casa por longos períodos pode levar ao sedentarismo, facilitando a incidência de complicações que geram maior vulnerabilidade frente às cardiopatias.

Para Nilton Carneiro, cardiologista do Hospital Santa Catarina — Paulista, esta inatividade pode levar ao sobrepeso, descontrole dos níveis de pressão arterial, glicemia e colesterol. “Todos estes itens são fatores de risco para desfechos cardiológicos mais graves como infarto, arritmia ou acidente vascular cerebral. Vale notar que além da falta de exercícios, o trabalho à distância pode causar a mudança de certos hábitos dietéticos que devem ser monitorados, pois o consumo em excesso de determinados alimentos também pode incitar o surgimento de complicações desta natureza”, diz.

Em relação à prevenção destas condições, o especialista indica uma rotina organizada, que contemple a prática de atividades físicas e, além disso, uma dieta balanceada, monitorando o consumo de bebida alcoólica e alimentos gordurosos. Carneiro também indica a utilização de recursos digitais para o agendamento de consultas periódicas, por meio da telemedicina, que pode ser utilizada para diversas especialidades, inclusive a cardiologia.

Saúde mental

Além das repercussões físicas, a permanência no regime de home-office por longos períodos, sem atenção para os cuidados adequados, pode facilitar a incidência de comorbidades psicológicas. A chefe da equipe de psicologia do Hospital Santa Catarina — Paulista, Giovana Rossi Lenzi, aponta que este fenômeno causa uma sensação de confinamento e, por isso, é comum que indivíduos submetidos a estas circunstâncias apresentem quadros de estresse agudo.

“Por permanecerem em um único ambiente, acabam trabalhando com uma carga horária superior em comparação com o cenário pré-pandemia, gerando um esgotamento maior. Muitas pessoas alteram a rotina de sono e alimentação, o que impacta diretamente no estado de saúde física e emocional, e na produção de hormônios que regularizam e geram bem-estar no organismo”, afirma. Para prevenir estas complicações, a especialista recomenda a manutenção de uma rotina regrada, com foco no equilíbrio entre atividades profissionais e recreativas, além da adoção de estratégias de autocuidado. “Também é indicado a segmentação de determinados ambientes no espaço residencial, a fim de separar e organizar fisicamente, e mentalmente, as tarefas laborais dos momentos de trabalho, lazer e descanso. Desta forma, torna-se mais simples atingir certa harmonia na hora de investir tempo em atividades distintas”, diz.

Siga a Bússola nas redes:Instagram|LinkedIn|Twitter|Facebook|Youtube

Acompanhe tudo sobre:Home officePandemiaSaúdesaude-mental

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Bússola

Mais na Exame