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Rubens Ometto: memórias de um inconformista

Livro do empresário revela bastidores da construção do maior conglomerado de energia e infraestrutura do Brasil

Rubens Ometto: dividendos de Raízen e  Compass serão usados para financiar parte da entrada na Vale (Cosan/Divulgação)

Rubens Ometto: dividendos de Raízen e Compass serão usados para financiar parte da entrada na Vale (Cosan/Divulgação)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 28 de maio de 2021 às 09h00.

Última atualização em 28 de maio de 2021 às 10h06.

Por Alexandre Loures*

“Sempre digo que não se deve confundir trepidação com velocidade. Tem gente que fica trabalhando alucinadamente, cumprindo suas tarefas, sem pensar no que está fazendo. Está apenas trepidando, achando que está produzindo, mas não sai do lugar. E tem aquele que consegue fazer um negócio andar mais, gastando muito menos energia. O segundo é muito mais produtivo que o primeiro.”

Este trecho está no livro O Inconformista (Portfolio Penguin, 184 páginas, R$ 44,90), autobiografia do engenheiro Rubens Ometto Silveira Mello, e é uma síntese muito interessante da maneira como nós lidamos com o trabalho e do que precisamos mudar se quisermos ser mais assertivos, eficazes e eficientes.

O próprio autor do livro e os executivos que estão na linha de frente dos negócios que ele controla são bons representantes do segundo tipo de profissional, que não trepida. Afinal, num período de menos de dez anos, eles transformaram um grande player do agronegócio brasileiro em um conglomerado irreplicável de energia e infraestrutura no Brasil, o Grupo Cosan.

Escrito em conjunto com o novelista Aguinaldo Silva, o livro é imperdível para quem quer se aperfeiçoar no engenho de fazer negócios. Ou mesmo para quem não quer fazer negócio nenhum, mas gostaria de entender como conciliar racionalidade e intuição para tomar decisões.

O título da obra se deve ao fato de Rubens, como ele narra no livro, nunca se conformar com aquilo que não acha certo, sobretudo com a burocracia que impera no Brasil. Para defender suas posições, enfrentou governos, organizações internacionais e até a própria família, incluindo a mãe e os irmãos. Em relação a estes últimos, o autor faz questão de deixar com bastante evidência no texto a proximidade que sempre teve com eles e a enorme alegria que, algum tempo depois, a reconciliação foi capaz de causar.

Os leitores do livro são levados a assistir de camarote situações extremas de negociações tensas em que era necessário tomar decisões muito rapidamente. Foi assim quando a Cosan comprou a Esso no Brasil e, depois, formou a Moove para trabalhar com a marca Mobil. E quando se uniu à Shell para construir a Raízen, que hoje é a quarta maior empresa do país. Ou quando adquiriu a ALL e transformou uma companhia em ruínas na maior potência de logística ferroviária da América Latina, a Rumo. E, por fim, quando comprou a Comgás e a colocou numa rota de intenso crescimento.

Não só de negócios trata o livro. A vida pessoal está também exposta ali. Na trajetória de Rubens, a importância de Mônica, com quem ele está casado há 50 anos, é incomensurável, assim como o amor pelas duas filhas e os cinco netos.

O autor fala com naturalidade de suas fraquezas e dos problemas que precisou superar. Na primeira infância, eram as crises de asma que o faziam acordar de madrugada e perambular pela casa em busca de ar, com o devido cuidado para não acordar os pais e os irmãos.

Quando já era um jovem adulto, foi surpreendido por ataques de síndrome de pânico e, sem saber o que era aquilo que o acometia, só pôde combater a doença anos mais tarde, quando finalmente teve um diagnóstico certeiro. E, já maduro, recebeu com serenidade a notícia de um câncer de próstata, para o qual discutiu pragmaticamente com o médico o melhor tratamento a seguir.

Ao longo da vida, Rubens não aceitou algo desfavorável sem questionar e sem lutar. Por exemplo, quando a CVM tentou impedir que a Cosan emitisse ações na Bolsa de NY. O processo acabou demorando mais do que ele gostaria, mas a listagem na NYSE aconteceu. Tanto inconformismo e desejo de empreender e de continuar trabalhando por toda a vida, além de um ótimo faro para escolher seus times, resultaram no que o grupo é hoje e no valor que gera para toda a sociedade. São mais de 40 mil empregos diretos e mais de R$ 25 bilhões pagos em impostos anualmente, sem falar na contribuição para o desenvolvimento sustentável do país, com energia renovável e logística limpa e eficiente.

Perguntei ao autor do livro o que o deixa inconformado no Brasil de hoje. Eis sua resposta: “Sempre fui um otimista com o Brasil e continuo sendo. A pandemia está espalhando muito sofrimento, mas acredito que temos condições de vencer essa batalha. É só trabalhar com seriedade e foco. A sociedade precisa se engajar nisso e a classe política também. Nossos representantes deviam parar de pensar nas próximas eleições, colocar a mão na consciência e honrar a confiança que os brasileiros depositaram neles por meio do voto”.

*Alexandre Loures é sócio do Grupo FSB

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