Propostas da indústria para um Brasil produtivo, competitivo e sustentável
Desenvolvimento de diretrizes sustentáveis no país é uma grande aliada na promoção de investimentos verdes
Bússola
Publicado em 14 de julho de 2022 às 15h00.
Última atualização em 14 de julho de 2022 às 15h11.
Por Davi Bontempo*
Aliar produção e conservação ambiental é uma premissa inegociável para qualquer nação que se propõe competitiva, próspera e sustentável. Vencer esse desafio é uma responsabilidade coletiva e deve envolver ação dos governos, da iniciativa privada e dos cidadãos. A indústria brasileira é parte relevante da solução no desenvolvimento sustentável do país e, como tal, é uma grande aliada na promoção de investimentos verdes.
Para isso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mobiliza o setor com uma estratégia sustentada em quatro pilares: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. Com isso, buscamos aproveitar as vantagens e a potencialidade do país para desenvolver e incentivar a adoção de fontes alternativas de energia limpa, o estabelecimento de um mercado de carbono, a circularidade e a eficiência no uso de recursos naturais, gerando modelos de negócios menos dependentes de matéria-prima virgem, e o fomento a cadeias produtivas a partir do uso sustentável da biodiversidade e das florestas.
E é para contribuir ainda mais com essa agenda que estamos apresentando aos pré-candidatos à Presidência da República, nas eleições deste ano, dois estudos com propostas sobre sustentabilidade: A Economia de Baixo Carbono: Para um Futuro Sustentável e Licenciamento Ambiental: Desenvolvimento com Conservação. Esses temas foram escolhidos pela relevância que têm frente às questões que mais impactam a agenda da sustentabilidade e pela urgência em superar gargalos que impedem o desenvolvimento do país.
A consolidação de uma economia de baixo carbono, orientada por tecnologias limpas e processos de produção mais eficientes, é essencial para alavancar o desenvolvimento sustentável do país e tornar as empresas mais competitivas no mercado nacional e internacional. Tem potencial para alterar cadeias globais de valor e movimentar recursos financeiros e produtivos, aumentando a competitividade de segmentos econômicos que geram emprego e renda. Entre as sugestões que estamos propondo para impulsionar a economia de baixo carbono, estão a expansão dos biocombustíveis, a promoção de incentivos adequados para tornar o consumo energético mais eficiente, a implantação de parques para geração de energia eólica em alto mar e a regulamentação do mercado de hidrogênio.
Outro ponto importante é a consolidação do mercado de carbono regulado, no modelo de Sistema de Comércio de Emissões (SCE). A estratégia está cada vez mais presente nas ações de governos para incentivar a redução das emissões de GEE e atingir as metas do Acordo de Paris, e o Brasil não pode ficar para trás. O estabelecimento de um mercado de carbono bem operado, a partir de uma estrutura robusta de governança, poderá estimular novos negócios e investimentos, gerar “empregos verdes”, além de promover transferência de tecnologias. Dessa forma, queremos impulsionar um ciclo virtuoso, acelerando o ritmo dos aprimoramentos regulatórios e estruturais necessários ao fortalecimento da indústria nacional, baseado nas potencialidades de que o país dispõe – e são muitas!
Já as propostas relativas ao licenciamento ambiental decorrem da necessidade de implantação de um processo mais ágil e eficiente, que coloque o ambiente regulatório e de negócios do Brasil em um patamar internacional competitivo, mas sem comprometer o patrimônio ambiental. Licenciar empreendimentos produtivos no Brasil é caro, burocrático e inseguro do ponto de vista jurídico. A busca por um equilíbrio entre estímulo à atividade econômica e sustentabilidade é essencial. Para atingir esse objetivo, defendemos o aprimoramento do processo de licenciamento e sua harmonização com outros instrumentos de planejamento ambiental.
Cabe ressaltar que simplificar e harmonizar regras não significa reduzir a proteção ao meio ambiente, que segue com o mesmo patamar de proteção assegurado pela legislação ambiental. Mas é preciso que uma legislação de 40 anos, como toda política pública, passe por um processo de revisão e aprimoramento.
As regras de licenciamento ambiental devem ser claras, alinhadas com as boas práticas internacionais e permitir que empreendimentos saiam da prancheta com o devido compromisso com a conservação do meio ambiente. Não é razoável que tenhamos 27 mil normativos para regular o tema. Não é razoável que um processo de obtenção de licença para operar demore até sete anos. Tampouco é aceitável que um país empreendedor como o Brasil não tenha um modelo simplificado de licenciamento que beneficie micro e pequenos empreendimentos. Isso esgota a capacidade de o setor empresarial de suportar os prazos e os encargos dele decorrentes.
As medidas que estamos apresentando para esse tema buscam promover melhorias no processo, com a racionalização e a agilização de procedimentos, a integração de instrumentos de planejamento e gestão territorial, a construção de um banco de dados unificado, com a disponibilização das informações dos estudos ambientais já realizados, entre outras. Isso – reforçamos – sem perder a necessária segurança ambiental que o licenciamento deve assegurar aos empreendimentos.
O setor industrial brasileiro compreende a importância do licenciamento, seja no aspecto da defesa ambiental, seja para a melhoria da gestão dos empreendimentos. Por isso defendemos uma revisão na legislação e a incorporação das nossas propostas, que resultam em um modelo mais inteligente, organizado e integrado a uma política de ocupação e gestão do território. Em síntese, um modelo mais eficiente, que facilite a atração de investimentos, com maior geração de emprego e renda para os brasileiros, ao mesmo tempo que fortalece o patrimônio ambiental do país.
A agenda da sustentabilidade é um dos grandes desafios nacionais. Não podemos deixar passar a oportunidade de propor medidas e caminhos para que, ao longo dos próximos quatro anos, o Brasil supere gargalos históricos que prejudicam sua competitividade e se prepare para os desafios da economia do futuro.
*Davi Bomtempo é gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Este artigo é uma publicação conjunta entre Bússola e Indústria Verde
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