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Brasil tem satélites de ponta, mas precisa de planejamento para evitar obsolescência

Com 13 satélites em órbita, o Brasil deve manter-se atualizado para não comprometer serviços estratégicos

Quase 11 mil satélites estão em atividade na órbita da Terra (Bússola/Acervo pessoal)

Quase 11 mil satélites estão em atividade na órbita da Terra (Bússola/Acervo pessoal)

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Publicado em 27 de setembro de 2023 às 18h20.

Última atualização em 28 de setembro de 2023 às 13h46.

Por Luciano Rodrigues*

Atualizações de sistemas operacionais fazem parte da rotina moderna de pessoas e empresas. Celular, smart TV, computador e outros aparelhos de uso diário passam por atualizações periódicas de aperfeiçoamento de funções ou simples mudanças na interface e que contribui para sua estabilidade e segurança. É recomendável para quem utiliza e obrigatório para quem produz. Afinal, um produto desatualizado torna-se mais suscetível a ameaças e pode ter o funcionamento totalmente comprometido. O mesmo vale para os satélites espaciais que têm como desafio estarem em órbita e às adversas condições do espaço. Garantir atualizações a partir da Terra é o melhor caminho, porém, não é uma questão simples de solucionar. Teremos novas gerações de satélites brasileiros capazes de receber melhorias de sistema remotamente, com maior rapidez e segurança, e menores custos a longo prazo? Até aqui a certeza é que não podemos esperar 30 anos para pensar no assunto.

Satélites no Brasil e no mundo

Segundo o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral, quase 11 mil satélites estão em atividade na órbita da Terra. Só os EUA têm mais de 8 mil deles, seguido da Rússia (3.670) e China (900). O Brasil não fica fora da lista com 13 satélites em órbita, com o primeiro lançado em 1993. Em 2013, França e Brasil firmaram acordo para a construção e lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). O satélite foi construído pela empresa de tecnologia francesa Thales Alenia Space e tornou-se o primeiro totalmente operado e controlado pela administração federal, em uma parceria entre a Telebras e os Ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

O SGDC foi lançado para prover cobertura de internet a 100% do território nacional, fornecendo um meio seguro e estratégico para as comunicações do governo brasileiro, levando conectividade para áreas remotas do país. Na época, além da construção, a fabricante francesa promoveu a transferência de tecnologia, garantindo treinamento de cerca de 40 engenheiros brasileiros em técnicas da indústria espacial.

Desde o lançamento do SGDC, em 2017, o um famoso sistema operacional de dispositivos móveis teve nove atualizações. Compartilhamento mais fácil de WI-FI, adição do menu rápido, reconhecimento facial 3D foram algumas das melhorias implementadas desde então. Mas um sistema, ou melhor, um conjunto de sistemas aplicados à operação de um satélite exige muito mais conhecimento, pesquisa e investimentos. São variáveis bem mais complexas de equalizar, na terra e no espaço.

A necessidade de acompanhar o ritmo do desenvolvimento tecnológico

Dez anos depois da assinatura do contrato e seis após o lançamento, o SGDC segue seu papel de máxima relevância nos âmbitos militar e civil. Mas desde então, a tecnologia avançou muito, a internet migrou de 3G para 5G (e já se fala em 6G), passamos a conviver com serviços baseados em blockchain, compramos criptomoedas e até criamos novas obras de arte com Inteligência Artificial, vendidas como NFT. Sem falar na escalada e no potencial cada vez maiores das ameaças cibernéticas e das guerras eletrônicas. Mas o que esperamos para a próxima geração de satélites nacionais? Como estar preparados para novos desafios já em face? Temas dessa dimensão exigem tempo, pesquisa e muito diálogo, e como o relógio não para, demandam agilidade – especialmente por se tratar de um assunto estratégico para segurança e desenvolvimento do país.

A solução pode já estar entre nós. O satélite geoestacionário de alto desempenho Amazonas Nexus, lançado em fevereiro, nos Estados Unidos, traz como novidade o processador Digital Transparent Processor (DTP) de nova geração. Essa inovação tecnológica é essencial para aumentar a flexibilidade geográfica da missão e responder às eventuais evoluções com relação ao cenário comercial inicialmente previsto.

Com o DTP, a carga útil do satélite é processada digitalmente, permitindo atribuir, em órbita, as capacidades necessárias a qualquer momento. Outra inovação é a arquitetura e a capacidade de banda KA de melhorar as comunicações entre gateways e satélite, permitindo aumentar a capacidade de bordo à disposição para uso comercial.

Esperar uma tecnologia tornar-se obsoleta e comprometer serviços estratégicos e essenciais a um país é o maior custo para o desenvolvimento da próxima geração de satélites brasileiros. Discussões e principalmente soluções devem ser iniciadas com antecedência, envolvendo a comunidade científica, militar e industrial. Em órbita, temos embarcado muito mais que chips e sensores. Há transferência de tecnologia, pesquisas acadêmicas e muitos empregos ao longo de uma enorme cadeia de fornecedores. Isso tudo não pode simplesmente ser desativado e virar lixo espacial quando há possibilidade de progredir. 

*Luciano Rodrigues é engenheiro mecânico e diretor geral da Thales no Brasil

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