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PLAY: Desigualdade pré-5G precisa ser discutida

Bairro pobre de São Paulo tem uma antena de internet, contra 49 em bairro rico; como fica isso?

Tecnologia 5G exige um número de cinco a dez vezes maior de antenas que o 4G; ou seja, a corrida é contra o tempo (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
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Bússola

Publicado em 27 de novembro de 2021 às 09h00.

Por Danilo Vicente*

No último mês, muito se falou da velocidade de internet 5G, após o governo federal leiloar blocos de frequência. Ótimo. Porém, recentemente, a Rede Nossa SP, organização que articula e promove ações para uma São Paulo melhor, divulgou um estudo estarrecedor sobre como é a realidade da internet longe dos escritórios da Faria Lima e arredores: uma desigualdade avassaladora na cidade. E olha que se trata da maior da América Latina.

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Enquanto há uma antena de internet móvel por dez mil habitantes em bairros de periferia (Jardim Helena, José Bonifácio, Cidade Tiradentes, Iguatemi, Lajeado etc.), os bairros ricos chegam a ter 49,8 antenas por igual número de pessoas — caso do Itaim-Bibi (e muitos Faria Limers).

Logo na sequência do Itaim-Bibi estão os bairros Barra Funda, Sé e Pinheiros, com 42,2, 37,1 e 30,5 antenas por dez mil habitantes, respectivamente.

Já com uma rápida olhada nos números se percebe que a concentração está entre os bairros ricos e centrais (Sé é o coração paulistano). E aí entra a lógica financeira. É muito mais interessante para as empresas de telefonia que as antenas sejam instaladas em lugares mais desenvolvidos economicamente. O que manda é onde está o dinheiro.

A Conexis (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel, Celular e Pessoal) alega que, por causa do trabalho, da escola e do lazer, há um enorme deslocamento de pessoas para a região central, o que pede mais infraestrutura para atender a elevada demanda por voz e dados.

Verdade. Mas aí entramos num círculo vicioso. A periferia não consegue acesso decente à internet porque não há antenas. E a falta de antenas (entre outros fatores) não permite desenvolvimento periférico.

Quanto empreendedorismo poderia ser fomentado com internet acessível e contínua na periferia? Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) disse que o acesso à internet é um direito humano. Dez longínquos anos atrás.

A solução, claro, passa pela Prefeitura de São Paulo. O Projeto de Lei 347/2021, a chamada Lei das Antenas, proposto pela administração municipal à Câmara dos Vereadores, pretende “adequar a instalação e funcionamento desses equipamentos à legislação urbana vigente no município e às transformações que trouxeram novas tecnologias a São Paulo e ao mundo”. O PL foi aprovado em primeira votação e aguarda a segunda.

Entretanto, o projeto vem sendo discutido a passos de tartaruga. Os vereadores querem que as companhias de telefonia e internet aceitem a condição de instalar uma antena em regiões periféricas a cada antena posta em locais que já têm melhor acesso. Certo. Contudo, pouco se avança.

Essa Lei das Antenas em debate na Câmara foi precedida por um imbróglio que envolve o Supremo Tribunal Federal, decreto do prefeito e Projeto de Decreto Legislativo. Uma confusão danada.

Segundo a Conexis, a tecnologia 5G exige um número de cinco a dez vezes maior de antenas que o 4G. Ou seja, a corrida é contra o tempo.

A gestão municipal ainda tem o projeto WiFi Livre SP, que hoje conta com 1.088 pontos de acesso à internet gratuitos. A meta é oferecer 20 mil pontos de internet de qualidade e gratuitos até 2024.

Seria bom uma São Paulo toda conectada, não? De maneira igual. Está aí uma marca a ser explorada pela Prefeitura e vereadores. Aposto que para as empresas também seria bom, mesmo que a longo prazo. E é algo que pode mexer na vida das pessoas.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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