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PLAY: cinema lotado continua raridade, e a culpa não é só do streaming

Esta semana, Danilo Vicente fala sobre a crise na indústria do cinema, detalhando motivos pelos está difícil encher uma sala de cinema

 48 milhões de ingressos foram vendidos em salas de cinema no Brasil no primeiro semestre em 2023 (Getty Images/Getty Images)

48 milhões de ingressos foram vendidos em salas de cinema no Brasil no primeiro semestre em 2023 (Getty Images/Getty Images)

Danilo Vicente
Danilo Vicente

Sócio e diretor-geral da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 14 de outubro de 2023 às 08h00.

Após a pandemia, os serviços de streaming de filmes e séries ganharam ainda mais força no Brasil, muito pelo surgimento de novas plataformas como HBO Max, Paramount+, Disney+, Starplus+, etc. Com isso, o catálogo de filmes produzidos exclusivamente para os serviços online cresceu. E há um menor prazo para que obras do cinema cheguem aos aplicativos e à TV. Isso explica o fato de as salas de cinema estarem quase sempre às moscas. Mas não só.

Quem frequenta cinemas certamente nota como é raro pegar uma sala cheia – as exceções neste ano foram especialmente para os filmes Barbie, Super Mario Bros e Oppenheimer. Em 2023, de acordo com dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema), 48 milhões de ingressos foram vendidos em salas comerciais no Brasil no primeiro semestre. No mesmo período de 2019, ano anterior à crise de Covid-19, foram 77 milhões de ingressos vendidos.

O número de espectadores até junho deste ano é 22% maior que no mesmo período de 2022, mas 37% abaixo do alcançado em 2019. Atualmente, uma sala de cinema tem uma média de 30 pessoas por sessão (o que até me surpreende). Em 2019, foi de 42 espectadores.

Impacto nos cinemas

A baixa procura, obviamente, gerou mudanças por parte dos exibidores. Hoje, há menos variedade de filmes nos cinemas brasileiros. São 64 títulos a menos do que o registrado em 2019. A aposta dos empresários é por obras certeiras na geração de público – daí a repetição de filmes em cinco, seis, sete salas em um mesmo espaço.

O menor público também pode ser explicado pela alta de 21% no preço médio dos ingressos, segundo a Ancine. Olha só os preços das principais redes de cinema em São Paulo: um filme nesta semana no Kinoplex custa a partir de R$ 35. No Cinemark, R$ 45. UCI, R$ 31. Isso em salas comuns, não as 4D, Platinum, Vip, entre outras.

Claro que há meia-entrada, promoções e parcerias que ajudam a baratear esse custo. Porém, assistir a um lançamento na comodidade de casa, quando não é de graça, tem custo semelhante – e mais pessoas podem aproveitar.

Há também a baixa distribuição de salas. O Brasil nunca teve tantas quanto hoje – 3.400 salas –, mas isso não significa que estão disponíveis para todos. Somente 7% dos municípios têm uma sala de exibição. São 90 milhões de brasileiros que moram em cidades onde não há cinema. 

A quantidade de salas de cinema aumentou, mas ainda poderia crescer. Como comparação, nos Estados Unidos há 39.000. Ou seja: há uma sala para cada 8.500 pessoas. Aqui, uma para cada 59.000 brasileiros. É claro que neste quesito há um ciclo vicioso: menos gente quer ir ao cinema, menor é a vontade de empresários de investirem em abertura de salas.

A morte da sala de cinema não está decretada. Isso, aposto, não ocorrerá. Entretanto, está havendo uma mudança de cultura. Os tão criticados blockbusters podem ser uma salvação, como se nota com o fenômeno Barbie. Sem eles os cinemas estariam com ainda menos gente. É um trabalho em longo prazo, maior do que quem vive de cinema esperava quando a pandemia pegou o planeta. O ano de 2023 tem sido de recuperação e, ao que indica, assim será 2024 e ainda 2025. 

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