Bússola

Um conteúdo Bússola

O que é o ‘fluxo de caixa indireto’ e por que as PMEs precisam entendê-lo?

Método revela que mesmo com lucro e crescimento nas vendas, empresas sofrem com falta de caixa e podem até quebrar

O diagnóstico final mostra se a empresa está produzindo caixa com sua operação ou apenas adiando um problema financeiro (Prostock-Studio/Getty Images)

O diagnóstico final mostra se a empresa está produzindo caixa com sua operação ou apenas adiando um problema financeiro (Prostock-Studio/Getty Images)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 07h00.

O objetivo do método do fluxo de caixa indireto é ajudar as empresas que fecham no azul a não alimentar uma falsa segurança. Afinal, não é saudável apresentar lucro contábil, mas ainda conviver com atraso em pagamentos e dependência de empréstimos.

Essa realidade é comum para muitas pequenas e médias empresas. Segundo o Serasa Experian, o país registrou recorde histórico de 8 milhões de CNPJs negativados, sendo 7,6 milhões de micro, pequenas e médias empresas.

Com crédito cada dia mais caro, margens pressionadas e capital de giro cada dia mais disputado, a gestão de fluxo de caixa indireto se faz uma alternativa que vale o teste.

“O fluxo de caixa indireto existe justamente para mostrar essa conexão entre resultado contábil e comportamento financeiro”, explica o especialista e mestre em Administração Eduardo Holder, da SMI Consulting Group.

Como funciona a gestão de fluxo de caixa indireto? 

Diferentemente do controle tradicional de entradas e saídas, o método indireto parte do lucro líquido apurado na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e promove ajustes em todas as contas que não representam, de fato, movimentação de dinheiro. 

O objetivo é revelar como o desempenho econômico se transforma, ou não, em liquidez real ao longo do período.

“O gestor costuma olhar para o lucro e supor que a empresa está saudável, mas o caixa pode estar sendo corroído por decisões operacionais que não aparecem de imediato na DRE”, detalha Holder.

Mas onde o caixa se perde, mesmo com lucro?

Na prática, o demonstrativo evidencia, com precisão, os principais fatores que pressionam a liquidez.

  • Estoques elevados, por exemplo, imobilizam recursos que poderiam estar sendo usados para pagar fornecedores ou financiar a operação. 

O aumento das contas a receber indica venda, mas também posterga a entrada efetiva de dinheiro. Já despesas como depreciação e amortização reduzem o lucro contábil, sem afetar o caixa no curto prazo, e, por isso, precisam ser ajustadas na análise.

Também entram no radar as variações nos passivos

Crescimento no volume de fornecedores pode aliviar momentaneamente o caixa, enquanto pagamento de dívidas, impostos ou obrigações trabalhistas provoca saídas relevantes de recursos. 

Ao reunir todos esses movimentos, o fluxo indireto apresenta um retrato fiel da geração ou do consumo de caixa.

“O método não mostra apenas números finais. Ele permite entender quem está ajudando o caixa a existir e quem está drenando liquidez”, afirma Holder. “É comum descobrir que o crescimento acelerado das vendas está sendo financiado, na prática, por capital de terceiros.”

Por que o fluxo indireto é decisivo para a gestão?

Entre as principais vantagens do método está a conciliação clara entre lucro contábil e caixa gerado. 

Ao iniciar pelo resultado da DRE, o gestor consegue identificar onde surgem as divergências entre desempenho econômico e situação financeira. 

Essa leitura integrada permite diagnósticos mais precisos sobre capital de giro, eficiência operacional e nível de endividamento.

Outro ganho relevante é a análise de tendências

Ao comparar períodos, torna-se possível antecipar gargalos de liquidez, avaliar se a operação consegue se autofinanciar e dimensionar, com mais segurança, decisões de crédito, investimentos e expansão.

“O fluxo indireto mostra se o caixa está vindo da operação ou se está sendo sustentado por empréstimos, venda de ativos ou postergação de pagamentos. Essa distinção é fundamental para evitar decisões estratégicas apoiadas em uma falsa sensação de segurança.”, diz o especialista. 

Como implementar o fluxo de caixa indireto na prática

A construção do demonstrativo segue uma lógica objetiva. O primeiro passo é partir do lucro líquido do período. 

Em seguida, devem ser ajustadas as variações nos ativos: reduções em contas a receber geram caixa, enquanto aumentos em estoques consomem recursos. 

Na sequência, analisam-se os passivos: crescimento em fornecedores libera fôlego financeiro; queda nesses saldos indica saída de dinheiro.

Depois, os fluxos são separados em três blocos, operacional, de investimentos e de financiamentos, o que permite entender de onde, efetivamente, vem a liquidez. 

Por fim, calcula-se a geração líquida de caixa em cada frente, revelando se a empresa se sustenta pela própria atividade ou por fontes externas.

“O diagnóstico final mostra se a empresa está produzindo caixa com sua operação ou apenas adiando um problema financeiro”, conclui Holder.

Acompanhe tudo sobre:PMEs

Mais de Bússola

8 em cada 10 colaboradores querem IA mais inteligente, diz pesquisa

Vencer a exaustão é uma questão de fazer mais ou fazer diferente?

Plataforma de ingressos aposta em moda para ganhar reconhecimento 

No e-commerce, o meio de pagamento deixou de ser detalhe técnico