Mensagem de áudio no WhatsApp: acelerar conteúdo mostra faceta de vida conectada e consumo incessante de informações (Westend61/Getty Images)
Thiago Lavado
Publicado em 5 de junho de 2021 às 15h40.
Última atualização em 11 de junho de 2021 às 12h13.
Quando o WhatsApp liberou o recurso de aceleração dos áudios, há poucas semanas, pensei que aquilo era tudo o que eu mais precisava para resolver os podcasts que eu recebo no dia a dia. Entenda: não sou uma pessoa de áudio, mas respeito quem seja.
Poder acelerar os áudios em até 2x parecia o sonho de uma noite de verão de alguém que recebe tantos por dia. Eu já tinha testado antes no Telegram e no Signal, mas como o WhatsApp é, de fato, uma ferramenta de trabalho para mim, imaginei que passaria a ser o heavy user da aceleração de vozes.
No começo tudo parecia divertido e inocente. A voz das pessoas distorcidas, a velocidade que, aparentemente, parecia trazer mais otimização de tempo ao meu dia a dia. E hoje, 2 semanas depois, o que parecia bom tornou-se triste. Depressivo, até.
É desolador constatar que hoje, com o impacto do gigantesco volume de informação com o qual lidamos todos os dias, intensificado com o momento pandêmico pelo qual passamos, não temos mais 1, 2 ou até 3 minutos para escutar um colega/parceiro de trabalho. É ainda mais angustiante pensar que acabamos fazendo isso também com amigos, familiares e entes queridos. Sim, também os acelerei.
Nós, como sociedade, nos transformamos, em parte, nisso. Em aceleradores de conteúdo, de emoções, de momentos. Aceleramos as refeições, a intimidade, a apreciação de feed alheio. Queremos e precisamos fazer tudo ao mesmo tempo: “Tempo é dinheiro”, diziam.
Mas o tempo virou tão escasso frente a todas as responsabilidades que ele próprio nos impõe que acabamos nos perdendo, achando que a economia de minutos nos salvaria de todo o resto.
Portanto amigos, se puder, não acelere os áudios. Pegue 5 minutinhos do seu tempo para ouvir alguém que gastou 5 minutos direcionados a você. E mais: Desacelere. Curta mais. Vou tentar seguir o mesmo por aqui.
*Jaderson Alencar é sócio-diretor da FSB Comunicação
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