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O difícil caminho de Tebet

Um dos problemas da terceira via foi imaginar haver uma larga fatia do mercado eleitoral que rejeita simultaneamente o presidente e o ex

Tebet tem pouco menos de sessenta dias para costurar um esboço de programa (Pedro França/Agência Senado)

Tebet tem pouco menos de sessenta dias para costurar um esboço de programa (Pedro França/Agência Senado)

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Publicado em 12 de junho de 2022 às 13h32.

Há um achado interessante na trajetória da terceira via, a tentativa de construir um caminho eleitoral alternativo a Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva: quando nomes saem de cena, as intenções de voto dos desistentes não necessariamente convergem para os centristas remanescentes. Acabam indo em sua maior parte para os hoje líderes da corrida.

Uma terceira via cujos candidatos lá atrás somavam mais de 20% das intenções de voto hoje ronda em torno da metade disso. Ciro Gomes responde pela ampla maioria. Os apoios outrora dados a Sergio Moro e João Doria ainda estão longe de ser atraídos por Simone Tebet. Claro que tudo isso até o momento. A eleição ganha-se, e perde-se, na campanha.

Quando apenas um nome é oferecido ao eleitor além de Lula e Bolsonaro, Ciro chega a roçar os 15%. Os demais tentam encostar nos dois dígitos. É pouco como patamar de chegada, mas não desprezível para a largada de uma campanha ao menos digna. O problema é preliminar: a falta de unidade, em contraste com a coesão da esquerda e do bolsonarismo.

Um dos problemas da terceira via foi imaginar haver uma larga fatia do mercado eleitoral que rejeita simultaneamente o presidente e o ex. A premissa estava errada por basear-se mais na aritmética que na política. Quando lá atrás Lula e Bolsonaro somados tinham 60% das intenções de voto, isso não significava que os restantes 40% rejeitassem ambos.

Como o tempo encarregou-se de demonstrar.

Quando se cruzam as rejeições, a intersecção dos dois sempre girou entre 10% e 20% de rejeição simultânea. Não por coincidência, é a ordem de grandeza das intenções de voto se há um único terceiro nome na cartela. Tampouco é coincidência que tenha sido a ordem de grandeza das votações de Marina Silva quando se apresentou como solitária terceira via.

Se Simone Tebet resistir às armadilhas no MDB e conseguir manter o apoio do PSDB, tem a possibilidade de abrir a campanha oficial com números melhores que os minguados atuais, mesmo estando longe dos líderes. E aí vai ficar à mercê do imprevisível, esperando que algum dos dois ponteiros desmorone e que Ciro seja minado, ou desmontado.

Não chega a ser animador, mas é melhor do que nada.

Até lá, Tebet tem pouco menos de sessenta dias para costurar um esboço de programa. Pois o que nunca se soube da terceira via era o que vai fazer no governo. Só há a certeza de ser uma turma que não curte nem Lula nem Bolsonaro. Seria suficiente se os dois não fossem campeões de voto. Contra dois líderes com base popular consolidada, tem sido insuficiente.

Um flanco programático-eleitoral da terceira via é ela estar de acordo, essencialmente, com o aspecto do governo Bolsonaro mais problemático hoje na visão do eleitor: a política econômica liberal e a confiança em que as forças de mercado vão dar um jeito na inflação. Pois, se o atual estado de espírito inverter-se até a urna, é mais provável que o próprio presidente faça a colheita.

*Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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