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Novo boom da pandemia de coronavírus no Brasil

Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de covid-19 no país e compara a nova escalada de casos à subida da curva ocorrida em maio

A média móvel de mortes atingiu neste domingo 588/dia, o maior patamar desde 12 de outubro (Ricardo Moraes/Reuters)

A média móvel de mortes atingiu neste domingo 588/dia, o maior patamar desde 12 de outubro (Ricardo Moraes/Reuters)

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André Martins

Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 16h03.

Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 16h53.

Não há mais dúvidas de que a pandemia de coronavírus está novamente em forte alta no Brasil. Há vários indicadores mostrando o novo avanço do coronavírus no país. Hoje, a pandemia cresce em 17 estados, apresenta estabilidade em cinco e no Distrito Federal e recua em quatro unidades da Federação.

A média móvel de mortes atingiu neste domingo 588/dia, o maior patamar desde 12 de outubro. Nos últimos 30 dias, o crescimento deste indicador é de 62%. A velocidade da subida se assemelha a ocorrida em maio, quando a primeira onda da pandemia de covid-19 começava sua escalada para atingir, no início de junho, o patamar médio de 1.000 mortes diárias, que se manteve por praticamente três meses, entre o final de maio e o final de agosto.

Para entender essa nova trajetória, precisamos olhar para os chamados indicadores antecedentes, ou seja, as estatísticas de diagnósticos e internações por covid-19 nas redes pública e privada do país. Isso porque os casos e hospitalizações de hoje indicam o volume de óbitos por coronavírus que teremos daqui a duas ou três semanas.

E os dados não são nada animadores. A média móvel de casos registrados por dia no país atingiu neste domingo o patamar de 41.200 novos diagnósticos, patamar próximo ao verificado no auge da pandemia até aqui, que se manteve até o início de agosto. Na comparação com os índices de 30 dias atrás, a média móvel de 41.200 novos casos/dia representa uma impressionante alta de 145%.

UTIs sobrecarregadas

Com mais casos de contaminação, mais pessoas têm procurado os sistemas de saúde. E o resultado é ainda mais preocupante. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a ocupação de UTIs já ultrapassou 90% nas redes pública e privada. Na semana passada, os hospitais particulares estavam com 95% de ocupação, sinalizando que os novos doentes graves podem acabar ficando sem atendimento.

Mesmo ainda com percentuais menores, a procura por hospitais também cresce em outras regiões, como São Paulo e nos estados do Sul do Brasil, entre outros. Na média brasileira, depois de 18 semanas de queda, o número de internações no país voltou inclusive a crescer um pouco nas três últimas semanas.

Na última semana epidemiológica completa, o número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que inclui a covid-19, estava 36 vezes maior que no mesmo período de 2019. Para ter uma ideia, no auge da pandemia, em julho, essa proporção era de 27 vezes.

E o futuro no curto prazo tende a ser ainda pior. Diversos epidemiologistas já se manifestaram prevendo um novo boom da covid-19 em janeiro, após o período de Natal e Ano-Novo. Em muitas cidades, parte da população tem agido como se a pandemia estivesse sob controle, o que tem levado ao aumento na taxa de contágio. As festas de fim de ano, com reunião de amigos e famílias, tendem a agravar ainda mais esse quadro. Infelizmente, essa é a perspectiva.

Isolamento social

Alguns especialistas já voltaram a defender a retomada de medidas restritivas, como forma de conter o avanço do vírus. Mas prefeitos e governadores estão bem mais reticentes a fechar novamente a economia, devido aos impactos do fechamento das atividades sobre a atividade econômica. Apesar de ter voltado a crescer com mais força no terceiro trimestre, a economia brasileira ainda está menor do que no período pré-pandemia.

Além disso, temos os exemplos de muitos países europeus, onde a pandemia voltou a acelerar com força e os governos também não voltaram a decretar um lockdown mais efetivo.

No Brasil, a tendência é que as novas medidas restritivas sejam menos duras desta vez. Exemplo: algumas cidades limitaram o funcionamento de bares até as 23h, outras, como Porto Alegre, estão proibindo a venda de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes. Até agora, nenhuma autoridade brasileira voltou a falar em fechamento de estabelecimentos comerciais, medida que parece totalmente fora dos planos. A proibição mais dura tem sido o veto a funcionamento de teatros, cinemas e casas de show, a fim de evitar aglomerações.

Diante deste cenário, torna-se fundamental que cada um continue fazendo sua parte. Sem o distanciamento social e as medidas preventivas, como uso de máscara, álcool em gel e controle de temperatura no comércio, bares e restaurantes, pode ser que num futuro próximo, mesmo a contragosto, governos e prefeituras acabem precisando adotar medidas mais duras

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

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