As mulheres têm avançado pouco e ganhando espaço reduzido no topo, mas o reduzido espaço conquistado está incomodando o zeitgeist. (PeopleImages/Getty Images)
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Publicado em 13 de maio de 2024 às 15h00.
Por Maria Rita Drummond*
Pilita Clark, jornalista do Financial Times, recentemente publicou um artigo com uma percepção preocupante. Ainda que alguns dados tenham melhorado nos últimos 60 anos, ainda faltaria mais de um século para a mulher ter igualdade política e econômica com os homens.
As mulheres têm avançado pouco e ganhando espaço reduzido no topo, mas o reduzido espaço conquistado está incomodando o zeitgeist.
O artigo citava dados de uma pesquisa realizada na Irlanda e em mais 30 países, pelo Instituto Global para Liderança Feminina do King’s College London e pelo grupo de pesquisa Ipsos, que mostrou que, em 2019, 42% dos entrevistados na Irlanda acreditavam que seu país foi longe demais ao conceder mais direitos e espaço às mulheres. Já em 2024, o número aumentou para 53%.
Nos últimos anos, as mulheres têm sido maioria nas faculdades, conquistando bolsas e alçando os melhores resultados. No Brasil, os últimos dados do IBGE apontaram que, dos alunos matriculados no ensino superior, 57,5% são mulheres, e em relação aos universitários prestes a se formar, o número aumenta, caminhando para mais de 60%.
O sucesso acadêmico ainda não se refletiu em bons cargos: as mulheres detêm, em média, 20% dos cargos de liderança no meio privado ou público.
A sociedade não cobra vigorosamente uma mudança e, o pior de tudo: uma parcela acha que não faz diferença na sociedade ter mais mulheres no topo, sustentando que quem chega lá são apenas os mais preparados. Mas ninguém se pergunta:
A menina não é educada, nem pela família nem pela escola, para liderar, começar um negócio, assumir riscos, empreender e estar em lugares de poder. Diversas mulheres bem-sucedidas creditam o estímulo positivo de um familiar ou o exemplo de uma mulher forte da família como fator essencial para acreditarem no seu potencial profissional.
Nadamos contra uma maré cultural que ainda nos vê circunscritas aos trabalhos domésticos.
A mesma pesquisa que citei anteriormente traz que globalmente as mulheres ainda ganham 23 centavos de dólar a menos que os homens, além de passarem uma média de 2,4 horas a mais por dia em trabalhos de cuidados não remunerados. Ganhamos menos e trabalhamos mais.
Dar mais espaço às mulheres é uma jornada contínua, mas ainda estamos muito longe desse ponto de equilíbrio na equidade de gênero.
Quando analiso os resultados do último relatório de “Mulheres na Liderança”, publicado pela WILL - Women in Leadership in Latin America, fica nítido que a mudança no ambiente corporativo está acontecendo, embora lentamente.
Precisamos acelerar a melhora dos dados, lutar contra percepções e mostrar que enquanto não tivermos 50% de mulheres em todos os cargos de liderança, salários iguais e integridade física garantida, não teremos igualdade. Muito menos teremos ido longe demais.
Quando tivermos 80% das posições de liderança – como os homens têm hoje – até vale esse debate. Até lá, é vergonhoso, para dizer o mínimo, alegar que a igualdade de gênero foi longe demais.
*Maria Rita Drummond é vice-presidente jurídica da Cosan e conselheira da WILL (Women in Leadership in Latin America), organização que promove práticas para diminuir a diferença de gênero e a presença de mulheres em cargos de liderança.
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