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Márcio de Freitas: Governo para todos

Principal missão do governante escolhido no próximo domingo é juntar os cacos de um país dividido e trazer os excluídos da vitória para junto do processo decisório

A única saída para o escolhido nas eleições é ter prioridade (Lula: Nelson Almeida/Getty Images - Bolsonaro: Clauber Cleber Caetano/PR/Divulgação)
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Bússola

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 19h32.

Quase metade dos brasileiros irão ao trabalho na próxima segunda-feira em versão fera ferida. Estarão presos nas grades de um futuro que não gostariam de ter pelos próximos quatro anos. Apesar disso, a maioria estará satisfeita. E ao governante escolhido que caberá a missão de juntar os cacos de um país dividido. Essa é a principal missão.

Não se trata apenas governar para o seu grupo eleitoral, mas se trata de como trazer os excluídos da vitória para junto do processo decisório, como co-partícipes da democracia e do reconhecimento do sistema de governo em vigor. Ser presidente de um país é ser presidente de todos, não só dos que o elegeram. Se fosse atender apenas os seus, seria mais fácil. E muito injusto.

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Dar-se-ia, no intuito de atender apenas a seu lado, independência ao Sul em relação ao Nordeste/Norte. Depois o Rio Grande do Sul teria sua separação histórica entre Maragatos e Chimangos, efetivada para atender a eleitores de Eduardo Leite e Onyx Lorenzoni. Algumas ruas de Porto Alegre seriam divididas como um dia foi Berlim com um muro…

O relaxado Rio de Janeiro teria fronteira delimitada com o diligente São Paulo, enquanto mineiros teriam de carimbar seus passaportes para molhar os pés na água salgada do mar – com a alternativa de ocupar de vez vez o Espírito Santo… A saída bélica para o consumo de uma moqueca vital com o calcanhar na areia e a cabeça nas montanhas.

A galhofa se faz necessária até para o respiro de fuga… fuga do ambiente tóxico e tenso em que o país submergiu nas últimas semanas no período eleitoral. Tá ok, companheiro? Caso contrário, pede liminar pro Alexandre de Moraes.

Situações de divisão são recorrentes no país. Onde a cada 30 anos, mais ou menos, há uma ruptura para começar novamente. Recomeçar para preparar nova ruptura. A história republicana tem sido assim, uma queda após outra, seguida de um empurrão para derrubar alguém do poder… Aprendemos? Há controvérsias.

Se não mudamos nestes 200 anos de autonomia relativa, o mundo talvez tenha mudado. Nem sempre para melhor, como demonstra a Ucrânia em guerra pelas mãos putinescas da Rússia. Há muita complexidade no cenário internacional. E fugir de si mesmo pode não significar um encontro. Há cada vez mais desconfiança e preconceito, apesar da evolução (ou seria involução) histórica.

O desafio do próximo presidente é imenso, amazônico, continental, oceânico. Seja ele quem for. E se os problemas externos são grandes, os internos são inumeráveis. O passivo social é um dado acrescido ao déficit tecnológico, mas como entrar nessa seara se ainda não se venceu sequer o analfabetismo? O atraso é enorme, enquanto o tempo é escasso. E o dinheiro ainda mais raro.

A única saída para o escolhido é ter prioridade. E essa é uma palavra que não aceita acumular cargas, é singular. O que não se falou durante toda a campanha precisará ser explicado em detalhes na narrativa para envolver todos. Ou o país continuará um lugar de cidadão de segunda classe, incluídos e excluídos, espoliados e despojados ao lado de ricos e contemplados. Mesmo os que têm posses podem ser despossuídos de direitos. Depende apenas do propósito de quem será eleito. Incluir todos é o primeiro desafio de 31 de outubro.

* Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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