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Márcio de Freitas: Eleição é aula democrática

Lula extrapola limites de diálogo político no final da campanha, enquanto Bolsonaro mostra resiliência mantendo fiel eleitorado cativo

A democracia tem muito a ensinar a todos brasileiros, de diferentes matizes políticos (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Bússola

Publicado em 29 de setembro de 2022 às 22h50.

Os fatos políticos recentes da campanha do ex-presidente Lula criaram onda positiva de comunicação a favor da candidatura do PT na reta final da disputa pelo Palácio do Planalto.

Houve domínio da pauta e do tempo para realizar determinados atos. E isso os tornou matéria a ser explorada na propaganda e alvo de comentários no noticiário. Isso se deu no encontro com grandes empresários nacionais, na reunião com os economistas liberais tucanos ou nas declarações de voto de ex-ministros do Supremo Tribunal Federal e artistas.

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A experiência ajuda na escolha do tempo para fazer acontecer. Lula esteve direta ou indiretamente envolvido em todas as eleições gerais no país desde 1989. Foi protagonista mesmo quando foi impedido de disputar por decisão da Justiça em 2018. Aprendeu durante este processo a ir além das bordas de seu público de afinidade natural, a chamada esquerda trabalhista. E sabe usar o tempo a seu favor.

Nos pleitos de 1989, 1994 e 1998, Lula falou só para sua bolha. Perdeu três eleições seguidas, duas no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Só conseguiu vencer quando deixou de ser o personagem de discurso raivoso, que discutia com jornalistas, xingava o presidente de plantão, atacava o empresariado, recusava diálogo com setores econômicos e criticava de forma ácida os adversários - dificultando alianças, a ponto de ser engolido como “sapo barbudo” num canibalismo político de fazer inveja ao técnico de futebol Zagallo. Em 2002, foi transmutado em “Lulinha paz e amor” pelo marqueteiro Duda Mendonça: mandou carta aos mercados e trouxe para sua vice um grande empresário nacional, de linhagem conservadora evidente como José Alencar.

Extrapolar os limites de diálogo político é trunfo que Lula usa novamente na reta final de campanha, enquanto o presidente Jair Bolsonaro mostra grande força e resiliência mantendo fiel seu eleitorado cativo e muito mobilizado. Mas demonstra dificuldade em ultrapassar a fronteira delimitada pelos já convertidos.

O passaporte do Auxílio Brasil com carimbo de R$ 600 não permitiu sua entrada no Nordeste, nem levou à adesão do eleitor de baixa renda das grandes cidades. Este não migrou do candidato petista para o bolsonarismo – apontam as pesquisas de intenção de voto. Entre as mulheres, a grande maioria continua resistindo às suas investidas. E quando mais forte e viril ele se mostra, menos consegue ser sedutor para esse público. Suas orações não falam ao Deus dos católicos... apenas evangélicos rezam pela sua bíblia eleitoral.

Não se deve, entretanto, subestimar a capacidade do presidente de ler o cenário político. Ele compreendeu melhor o cenário social de 2018 do que muitos políticos experimentados ou partidos já consolidados, como o PSDB, DEM e o PMDB (que buscou retomar a antiga mística do período militar voltando a ser o MDB). Acontece que o tempo passou e a pauta daquela época mudou. Alguns heróis de 2018 se enrolaram nos fios de seus erros processuais e ainda houve aqueles que tiveram a verdadeira face revelada, e não foi bonito de se ver.

A pandemia abateu os objetivos do governo Bolsonaro no campo econômico e ceifou muitas vidas mudo afora. Neste quesito, a empatia ficou ausente da relação com o povo e se tornou um peso enorme a ser carregado nesta eleição. Junto com o vírus veio o custo econômico que abriu imensas chagas na sociedade. Feridas ainda abertas, como revela o recorde de inadimplência no Serasa, mesmo que os dados macroeconômicos estejam a melhorar paulatinamente. É preciso aprender com esse cenário para manobrá-lo.

Claro, há sempre quem exiba incapacidade de assimilar mudanças ou se impermeabilizar a transformações. É o caso de Ciro Gomes (PDT) – que nem na sua bolha consegue manter apoio. Após disputar quatro eleições, briga com correligionários, com a imprensa, com o sistema e o antissistema. Tem sempre uma frase cortante para a direita, enquanto metralha a esquerda. Sua habilidade para desqualificar adversários pode se virar em um segundo para aliados, que se tornam inimigos. Assim, ele segue se isolando numa trajetória de encolhimento político que pode até viabilizar o resultado da eleição em primeiro turno. Nada tem de quixotesco ou fantasioso, pois destila amargura e rancor naquilo que parece ser sua última disputa nacional.

Eleição pode ser pedagógica. A democracia tem muito a ensinar a todos brasileiros, de diferentes matizes políticos. O essencial é estar disposto ao aprendizado.

*Márcio de Freitasé analista político da FSB Comunicação

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