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Márcio de Freitas: A pressa de Lula

Apesar da agilidade, a naftalina emana num governo que começou com a cara do político mais longevo da história recente do país

Lula começou terceiro turno na Presidência a correr mais que entregador do iFood (AFP/AFP)
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Publicado em 17 de março de 2023 às 17h35.

Última atualização em 17 de março de 2023 às 17h40.

Lula III tem pressa. Começou um terceiro turno na Presidência a correr mais que entregador do iFood para chegar rápido no endereço dos brasileiros. Quer inaugurar, realizar, cortar fitas e lançar programas—e receber cinco estrelas na avaliação pela competência. Mas tudo tem um certo quê de déjà vu. Volta o Bolsa Família; um novo Minha Casa Minha Vida; o PAC revitalizado; velhas brigas com o mercado, com o agronegócio e as elites. É a busca de retomar a identidade petista quebrada pelo fracasso de Dilma Rousseff na condução do governo em 2015/16.

Apesar da agilidade, a naftalina emana num governo que começou com a cara do político mais longevo da história recente do país. Até agora, os programas saem de um museu de grandes novidades, e as agendas reformistas na economia brotam da arqueologia no governo derrotado de Jair Bolsonaro, como a reforma tributária—cujas propostas de emendas à constituição foram recicladas para dar algo para o Congresso mastigar enquanto o governo se organiza minimamente neste início atribulado de construção da governabilidade. Parlamentares têm dentes afiados, e adoram morder tenros governos nas suculentas partes pagadoras.

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O país quer saiu dividido das urnas em 2022, e ainda teve a hemorragia de 8 de janeiro, não curou suas feridas. E não há colar de diamante ou peruca loira destrambelhada que consiga esconder a divisão nacional. A desconfiança ainda é grande, uma barreira a ser quebrada por um governo que tem como prática o uso do conflito para gerar decisões diante do impasse dialético.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são demonstrações desses choques induzidos. Enquanto Haddad almoça com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Gleisi pede sua demissão sem justa causa contratual. E Lula observa de longe, depois de ter acendido o pavio dos ataques aos juros altos.

Olhando para fora do país que ainda não debelou a inflação: há uma guerra na Europa (a primeira desde a segunda guerra mundial) e uma crise bancária nasceu no Vale do Silício na Califórnia dos Estados Unidos, justamente um dos locais mais ricos e inovadores do mundo. Bote a barba de molho!

Há insegurança interna pela desaceleração da economia, e externa por medo do risco que esse cenário pode gerar. O Credit Suisse balançou os indicadores de bolsas mundiais nesta semana. Os investidores botam seus orçamentos de molho, enquanto a China gasta bilhões se armando. Enquanto isso, autoridades do Tesouro dos Estados Unidos e acionistas sauditas do banco suíço oferecem gasolina para apagar a fogueira do sistema financeiro. Como sempre, o capitalismo busca os cofres públicos para sair de suas enrascadas privadas.

O governo tem pressa porque pegou setores do governo federal arrasados—saúde e educação são os mais evidentes. Não pode correr o risco de desorganizar a economia—cujos índices de emprego terminaram elevados em 2022 e o PIB registrou crescimento expressivo, apesar das previsões catastrofistas. E tem de rezar para o mundo não patinar, atrapalhando o comércio internacional que tem sido fonte de expansão do PIB interno pela demanda de commodities.

A margem para erro é pequena. E o tempo curto. Muito se entende da pressa de Lula. Mas a pressa é a mais famosa e ardilosa inimiga da perfeição.

PS: Perdi um leitor diligente. Amigo crítico e talentoso. Um dos melhores homens públicos que conheci e com quem convivi. Trabalhava com paixão pelo país, e realizou grandes obras. Algumas visíveis, outras que não têm direito autoral reconhecido, mas são dele. Descanse em paz, Eliseu Padilha. Abraço à família e aos amigos que compartilham a dor dessa imensa perda.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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