Dificuldade maior do processo de adequação e implementação da lei é o aculturamento (iStockphoto/Divulgação)
Bússola
Publicado em 10 de setembro de 2021 às 09h00.
Última atualização em 10 de setembro de 2021 às 14h35.
Por Renã Melo*
O cuidado com as informações pessoais e como elas são manuseadas nunca foi uma preocupação como nos dias de hoje. Certos de que vivemos em um mundo globalizado, gerando um enorme fluxo de dados, e estes cada vez mais relevantes na movimentação da economia e do mercado, entendemos que os esforços pelo respeito à privacidade passaram a valer efetivamente com a sanção da Lei Geral de Proteção de Dados — LGPD, uma etapa na regularização das atividades comerciais que utilizam dados pessoais, inclusive nos meios digitais.
A preocupação com a privacidade passou despercebida por um longo período. Após a chegada da internet, a sociedade não conseguiu antever, pelo desconhecimento dos impactos de uma sociedade mais conectada, as boas práticas e os cuidados que devemos impor para proteger nossos dados, considerados atualmente um produto valioso.
Com o surgimento de diversos escândalos sobre vazamento de dados, utilização de informações pessoais com propósitos abusivos, fraudes, entre outras situações negativas em relação à privacidade, foram necessárias políticas públicas, que hoje são implementadas em diversos países, para regularizar e responsabilizar empresas na utilização de informações pessoais, especialmente de seus clientes.
Aqui no Brasil, por ser uma nova lei, podemos dizer que a maior dificuldade do processo de adequação e implementação da LGPD é o aculturamento: desenvolver na prática a cultura do cuidado com os dados pessoais e renovar a dinâmica de trabalho com a premissa de partir da cautela com a privacidade dos clientes, colaboradores, parceiros, e todos os envolvidos na cadeia da atividade econômica. Empresas e órgãos públicos terão que deixar muito claro para os usuários de que forma será feita a coleta, o armazenamento, o uso de seus dados pessoais.
Recentemente, uma pesquisa da RD Station, empresa de marketing digital, apontou que as empresas brasileiras têm um grau elevado de conhecimento sobre a LGPD, mas o nível de adequação ainda é baixo, e mostrou, ainda, que das 93% empresas que participaram do estudo, somente 15% já se adequaram a LGPD.
Na contramão dos dados apresentados na pesquisa, o Grupo Carrefour Brasil, empenhou os esforços de privacidade e proteção de dados como um dos diferenciais competitivos, em que os consumidores já começam a compreender as informações pessoais como dados que possuem valor de mercado. Alinhado com a cultura de integridade, código de conduta ética e o cliente no centro dos negócios, o grupo, por meio do apoio da alta liderança, trouxe o tema de adequação à LGPD como uma oportunidade de ir além e fomentar ainda mais sua responsabilidade social e compromisso com a sociedade.
Cientes de que uma mudança cultural seria essencial, o trabalho de adequação trouxe como estratégia principal a sensibilização de seus colaboradores para transformar o respeito à privacidade em atitudes aplicadas nas atividades do dia a dia da empresa. E no anseio de liderar um programa bem-sucedido, o grupo desenvolveu a área de privacidade e proteção de dados, com profissionais multidisciplinares — advogados, administradores, técnicos, desenvolvedores e comunicadores, que pulverizam as ações de aculturamento, adequação e operacionalização, de forma transversal, nas diversas áreas de negócio que já contabiliza cerca de 24 mil pessoas treinadas.
O fato é que a LGPD ainda é vista como um grande desafio para as empresas brasileiras. A adoção da nova legislação e a criação da Agência Nacional de Proteção de Dados Pessoais (ANPD) como autoridade regulatória no país, são avanços significativos que destacam o Brasil em relação a outros países da América Latina, mas, ainda é o ponto de partida para um movimento que deverá despertar na sociedade a prática da proteção de dados como garantia de democracia e liberdade.
Em geral, potencializar a cultura de proteção de informações pessoais exigirá esforços de agentes relevantes em diferentes camadas econômicas e sociais, e levará em discussão o fato que de governos e empresas lidam com eles como “os ativos do século” enquanto a sociedade ainda precisará passar pelo processo de desenvolvimento de consciência social com as informações pessoais e para o ambiente digital.
*Renã Melo é diretor de Cybersecurity, Privacidade e Proteção de Dados do Grupo Carrefour Brasil
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