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João Kepler: Cadê o investimento que estava aqui?

Não adianta arrumar culpados pelo momento ou achar que esse suposto problema vai respingar em todos

Responsabilidade pelo que acontecer agora vai ser sua (Rudzhan Nagiev/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 14 de julho de 2022 às 13h28.

Muitos empreendedores e suas startups estão perguntando se ainda vão conseguir captar esse ano as próximas rodadas de investimento no Brasil.

Esse é o assunto que paira nas rodas e debates atualmente, isso porque o mercado em geral só fala e escreve sobre crise, retração, inflação, eleição, inverno Crypto, recessão e juros.

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Mais que isso, no ecossistema de startups reverberam as demissões nas techs, os alertas de ajustes dos fundos e - obviamente, as perdas de US$ 27 bilhões do Vision Fund SoftBank e também do Tiger Global que caiu mais de 40% nos primeiros quatro meses de 2022.

Além disso, as séries de TV WeCrashed e The Dropout colaboram para se criar uma percepção duvidosa do main stream (de fora pra dentro) desse mundo startupeiro.

Tudo isso assusta, ainda mais porque estamos vivendo uma turbulência mundial acirradas também por guerras e pelas tensões macroeconômicas.

Mas e então? Acabou mesmo o ciclo de abundância? Sim, acabou!

Mas não acabou o dinheiro e o apetite por essa classe de ativo. Estamos vivendo um momento que eu chamo de importante "freio de arrumação", de amadurecimento e de responsabilidade no Brasil, em que essa nova fase e novo ciclo vai gerar negócios e startups bem mais estruturadas em cada estágio, com menos hype.

Ou seja, negócios mais focados em propósito, em resolver problemas e gerar caixa.

Mas cadê esse dinheiro? Qual é a boa notícia João em meio a tudo isso? É que não existe falta de dinheiro para rodadas de investimento, apesar dos alertas, não existe "crise generalizada" no investimento em startups no estágio early stage no Brasil. Sim, os investimentos continuam acontecendo.

Ok, mas vou conseguir captar a rodada de investimento no meio dessa turbulência? A primeira coisa que você deve ter em mente é: para começar essa não é a pergunta correta, a pergunta deveria ser: "o que eu preciso fazer para captar a próxima rodada de investimento?"

Não adianta arrumar culpados pelo momento ou achar que esse suposto problema vai respingar em todos, acredite, não vai!

O insucesso de uma captação de investimento diz respeito somente ao seu negócio e a obrigação é toda sua, não adianta se fazer de vítima e "culpar o mundo". Assuma sua responsabilidade e pare de querer “tapar o sol com uma peneira”.

Mas porque você diz isso João? Explico:

Se a startup recebeu uma rodada anterior e cumpriu o que prometeu ao investidor, alocou corretamente o aporte, executou o roadmap e tudo aconteceu como previsto que foi planejado com os stakeholders, certamente terá apoio e base para uma nova rodada de captação.

Mas se não cumpriu o “dever de casa” e não tem justificativas plausíveis pelos resultados não alcançados, dificilmente conseguirá novos aportes de um investidor profissional. E, inclusive, não terá o follow-on do seu investidor atual, o que é um péssimo signaling.

Sabe aquela promessa: “Vamos corrigir, organizar o time, focar, ajustar o tráfego, marketing, vender mais e etc … vamos voar, agora vai!”. Está mais difícil de convencer sobre o futuro do projeto hoje porque existe a exigência de ter tido (no passado mesmo) responsabilidade com o dinheiro que recebeu do investidor.

O Venture Capital está cada vez mais seletivo e muito atento a tudo isso, como consequência, as captações tendem sim a serem mais longas e criteriosas.

Mas existe outro ponto crucial, o valuation.

Se o valuation foi precificado errado (no sentido de mais alto) na rodada anterior, vai ser ainda mais difícil captar nesse momento de mercado, ou seja, não vai ser simples emplacar rodadas com “valuations” mais esticados. Pode ter casos de ter que aplicar um Down Round para conseguir uma nova captação.

Porém, se o valuation anterior foi justo, com racional adequado e se a startup estava no estágio correto, fica orgânico e menos forçado a nova rodada de captação.

O valuation de uma rodada anterior de uma startup será sempre testado na próxima rodada.

Portanto, se as premissas estão resolvidas e o valuation está adequado e ambos conferidos, torna-se primordial para "garantir" um novo aporte ou achar o dinheiro que está procurando.

Mas se tudo o que eu disse está checado na startup e mesmo assim não consegue um aporte, a única certeza que posso te dizer é: você está emocionalmente envolvido, com o pitch deck errado, deve estar tentando captar com investidor despreparado ou em um Venture Capital sem disponibilidade ou fora da tese.

Ou seja, ainda assim, a responsabilidade será da sua startup e não de nenhuma crise.

"Cadê o investimento que estava aqui?" Continua aqui, no mesmo lugar!

Mas agora é hora de checar os planos da startup, mostrar a validação e seus resultados até aqui, buscar equilibrar as suas contas e criar sustentabilidade financeira, apresentar um planejamento de futuro consistente com longevidade, e óbvio, desenvolver seus planos para Fundraising.

Essa orientação de checar os planos da startup antes de captar serve, inclusive, para quem busca pelo seu primeiro investimento.

E nunca esqueça: o melhor dinheiro, será sempre o dinheiro do seu cliente.

*João Kepler é CEO da Bossa Nova Investimentos

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