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Indústria 4.0 para melhorar a competitividade brasileira

Presidente da CNI analisa, em artigo especial para a Bússola, os desafios das empresas brasileiras rumo à Quarta Revolução Industrial

Indústria: especialistas recomendam a sensibilização dos empresários e a disponibilização de linhas de crédito especiais para a implementação de novas tecnologias ao setor produtivo (Germano Lüders/Exame)

Mariana Martucci

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 17h36.

Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 22h40.

Em 71º lugar no último ranking global de competitividade, com 141 países, e na 62ª posição entre 131 nações analisadas no índice global de inovação, o Brasil precisa, urgentemente, dar um salto na implementação da Indústria 4.0, base da Quarta Revolução Industrial, que já está em curso. Estudo qualitativo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com empresas de diversos portes, nacionais e internacionais, revela os gargalos e apresenta perspectivas e soluções para o país avançar.

Entre as propostas, destaque para a sensibilização dos representantes das empresas e para a criação de financiamentos atrativos específicos para a implementação de soluções tecnológicas. A abertura de linhas de crédito, como a BNDES Crédito Serviços 4.0, a ser anunciada nesta terça-feira, 3, e a recém-lançada Inovacred 4.0, da Finep, representam um avanço.

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As principais nações industrializadas inseriram o desenvolvimento da Indústria 4.0 no centro de suas estratégias de política industrial para preservar e aumentar sua competitividade. O Brasil precisa fazer o mesmo. A capacidade de a indústria brasileira competir internacionalmente dependerá da nossa habilidade de promover essa transformação. A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus tornou o processo ainda mais urgente.

Os resultados do estudo da CNI confirmaram a hipótese inicial segundo a qual as empresas de menor porte encontram-se mais atrasadas no processo de implantação da Indústria 4.0. Mesmo entre as grandes, no entanto, 42,1% das entrevistadas não haviam iniciado o processo de incorporação de tecnologias em seus processos. De acordo com o estudo, as empresas analisadas conseguiram manter a competitividade com base em outros ativos que não a eficiência produtiva e a competência no campo da tecnologia. Ao que tudo indica, no entanto, a situação não é sustentável no médio e no longo prazo.

É interessante observar que a origem do capital das empresas não é fator determinante para a implementação de novas tecnologias. O percentual das companhias estrangeiras que não implementaram projetos da Indústria 4.0 (40%) está muito próximo do registrado nas empresas nacionais (50%). Entre as empresas multinacionais entrevistadas, foi comum encontrar aquelas que não tinham autonomia decisória e que consideravam sua situação tecnológica atrasada em relação a outras unidades do grupo.

Vale esclarecer, aqui, que a indústria 4.0 tem como uma das principais características a incorporação da digitalização à atividade industrial, integrando tecnologias físicas e virtuais. Entre as principais, destacam-se big data, robótica avançada, computação em nuvem, internet das coisas e impressão 3D, inteligência artificial, sistemas de conexão máquina-máquina, sensores, atuadores e softwares de gestão avançada da produção. Pelo estudo da CNI, a Indústria 4.0 entra nas empresas principalmente pela automação da produção, sendo a busca pelo aumento da produtividade a motivação mais relevante, seguida da redução de custos com energia e outros insumos industriais, assim como com manutenção e ociosidade de máquinas e equipamentos.

Com base nas restrições apontadas para a implementação da Indústria 4.0 pelos executivos entrevistados, os especialistas recomendam a sensibilização dos empresários e a disponibilização de linhas de crédito especiais para a implementação de novas tecnologias ao setor produtivo. Entre as ações objetivas recomendadas estão as seguintes:

- Divulgação de cases de adoção das tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0, para mostrar aos empresários os ganhos concretos com o investimento;

- Promoção de eventos de informação sobre a Indústria 4.0 para executivos em cargos de direção de empresas do setor industrial;

- Estímulo ao desenvolvimento de planos empresariais estratégicos de digitalização para, por meio do planejamento, haver direcionamento dos investimentos de forma correta e de acordo com objetivos claros; e

- Concessão de financiamento a baixo custo para atender à demanda de soluções tecnológicas no padrão da Indústria 4.0.

Nesse contexto, na avaliação técnica da CNI, a implementação da linha de crédito Inovacred 4.0, da Finep, no fim de 2019, representou um importante avanço. Executada com o apoio de 25 parceiros regionais, hoje ela representa um dos principais programas de financiamento à inovação em micro, pequenas e médias empresas do Brasil.

O projeto piloto, que começou neste ano, tem nove projetos na cartela, num total de 7 milhões de reais contratados, de 200 milhões de reais disponíveis. Na mesma direção, está o financiamento BNDES Crédito Serviços 4.0, que será lançado nesta terça-feira, 29. Com carência de até 24 meses e prazo de pagamento até 120 meses, a linha vai ser operada de forma indireta via parceiros ou pelo BNDES online e pode arcar com até 100% dos custos de implementação da Indústria 4.0, com 30% de capital de giro associado.

A participação da indústria do Brasil no mundo mostra que o país tem perdido espaço no cenário global. Em trajetória descendente desde 2009, o setor industrial brasileiro voltou a registrar nova queda no último ano. Até 2014, figurávamos entre os dez maiores produtores industriais no ranking mundial. Com as sucessivas quedas, atualmente estamos na 16ª colocação. Sem dar um salto significativo na Indústria 4.0 e em práticas modernas de gestão, incorporando inovações aos processos, continuaremos perdendo competitividade no cenário global.

*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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